4 de outubro será dia de festa. Uma festa que, mais do que o mero lançamento do terceiro álbum de Moullinex (que chegará dois dias depois), será uma declaração de amor coletiva à club culture como instituição inclusiva, aberta à diversidade e laboratório espontâneo de variados fenómenos culturais, sociais e políticos registados por todo o mundo ocidental ao longo das últimas décadas. Uma celebração de dez horas que se fundirá com o primeiro aniversário do MAAT.
O evento arrancará com um espetáculo de Moullinex, apresentando em primeira mão o novo disco, e continuará até de manhã com uma maratona de DJ sets — num choque controlado entre o fim de festa e o começo da chegada do público, na manhã do feriado, para o dia aberto do museu.
Hypersex apresenta-se no mais recente ex libris da cidade de Lisboa não como uma rave, tampouco como uma exposição, mas como uma zona autónoma temporária contendo as duas entidades. No encontro da “caixa negra” com o “cubo branco” da galeria, o resultado é surpreendentemente muito pouco cinzento, até porque um dos mais prolíficos e internacionalizados designers nacionais está metido ao barulho: além de toda a componente gráfica do álbum, Bráulio Amado traça a sua narrativa estética — que é também óbvia e estupidamente visual — e dará corpo e forma à música com toda a elegância, sujidade e aparato que esta merece.
A ideia de promiscuidade criada na pista de dança materializa-se também numa fanzine, tão colaborativa e diversificada quanto o álbum, contando com pesos-pesados da ilustração e do design gráfico — como Gonçalo Duarte, Lord Mantraste, Sonja, Germes Gang, Oscar Rana, Sollidha, Simão Simões, Rita Matos, Francisco Ferreira e Rudolfo — que exploram graficamente a sua relação com o tema. Estas homenagens ao lado mais DIY e espontâneo da club culture serão exibidas em grande formato e à escala humana, em paralelo com uma curadoria de arte contemporânea feita pelo MAAT e uma amostra de “curiosidades” recolhidas em alguns dos videoclipes que acompanham os singles de Hypersex, cada um deles assente na colaboração entre agentes improváveis ou colocados em zonas de desconforto. Desde a incursão numa experiência social em forma de casting para o vídeo de “Love Love Love”, realizado por Bruno Ferreira em Nova Iorque, à performance de Aurora Pinho pelas ruas de uma Lisboa gentrificada para “Work It Out” sob a lente de João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, há algo de comum na abordagem ao conceito do álbum: levantar questões sobre o papel histórico, cultural e sociopolítico da cultura da música eletrónica e das suas diversas manifestações culturais na sociedade e em cada um de nós enquanto animais sociais.
Voltando à música, e como não poderia deixar de ser num acontecimento que nasce da conjugação de tantos universos, disciplinas e indivíduos, vários convidados farão parte do espetáculo de Moullinex e da maratona de DJ sets que se lhe seguirá. O incrível cartaz permanecerá maioritariamente secreto até à data, mas sabe-se que Ghetthoven vestirá a pele de várias personagens num momento que promete cruzar tecnologia — nada menos que realidade virtual e realidade aumentada — com a história da pista de dança, acompanhado de João Pedro Vale, Nuno Alexandre Ferreira e os seus fálicos canhões cobertos de glitter que disparam confetti, operados por Aurora Pinho.
Hypersex apresenta-se então num derradeiro conflito entre arte, entretenimento e realidade, com criações audiovisuais de artistas contemporâneos que têm o objetivo concreto e definido de confrontar o público in loco, na pista, com afirmações e questões que o obrigue a rever o seu papel neste importante espaço de escapismo e busca pela utopia/distopia. A exposição continuará patente ao longo do dia seguinte, para contemplação de todos os visitantes do Open Day do MAAT.
Moullinex Presents: Hypersex
Data: 4 outubro 2017 (quarta-feira), 22h
Local: Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, Lisboa
Bilhetes: €10 (Ticketline)