Corrina Repp atuou esta semana no Porto e em Lisboa. A cantora norte-americana estreou-se no nosso país com a apresentação do mais recente álbum a solo The Pattern of Electricity. Um trabalho que sucedeu à separação da banda Tu Fawning e ao fim de um relacionamento, que afastou Corrina Repp da música por um ano. Canções como o single “The Beast Live in the Same Place” refletem, no entanto, uma atitude de esperança de que o futuro será melhor.
Certo é que, apesar de alguns momentos mais sombrios, como “Woods”, “Another Shape” e “Long Shadow”, é notória a vontade de Corrina de deixar entrar novamente a luz na sua música. Canções como “Live for the Dead” e “Pattern the Cuts/ Calm Ass Mofo” transmitem uma tranquilidade, só própria de quem acredita que o melhor ainda está para vir.
Corrina Repp conversou com a Maria João Serra ao telefone, em plena viagem por França, em busca de alojamento “no meio do nada”. Uma conversa que desvenda a vida da cantora para lá da música, o processo criativo e a busca do lado mais ficcional da cantora de Portland, Estados Unidos.
Passaram dez anos desde a edição do último álbum a solo, The Absent and the Distant. Pelo meio, formou a banda Tu Fawning com Joe Haege. O que é que mudou na sua vida desde essa altura, até ao regresso a solo com The Pattern of Electricity?
Dez anos é muito tempo e penso que durante esse período me tornei uma pessoa mais forte e melhor, quer a nível pessoa, quer profissional. Aprendi muito a tocar com Tu Fawning e acho que me tornei mais corajosa. Isso ajudou-me a fazer escolhas criativas e a não ter medo de fazer as coisas como as queria fazer neste álbum.
De onde é que surgiu a vontade de deixar de lado por uns tempos o trabalho a solo e optar por formar uma banda?
Eu queria começar a fazer apenas música, e não necessariamente continuar a escrever canções, porque The Absent and the Distant foi um disco muito pessoal, que me fez sentir muito despida e vulnerável. Depois desse disco, senti a necessidade de escrever canções de uma perspetiva mais ficcional. E além disso, aproveitei para aprender a tocar bateria, tive aulas de canto e acabei por decidir ir em frente.
Ao longo destes 10 anos, para além dos Tu Fawning, fez um pouco de tudo…
Pois fiz… Eu sempre tive muitos trabalhos diferentes e passei por fases na minha vida em que desliguei da música e optei por procurar outras coisas que me preenchessem. Nunca quis depender apenas da música para ser feliz. Sinto-me mais feliz quando faço uma pausa para poder fazer outras coisas. Nos últimos dois anos aproveitei para passar mais tempo em contacto com a natureza, o que me faz mesmo muito feliz.
Foi nessa altura que passou uma temporada na floresta?
Sim, saí de Portland e fui sozinha para uma casa de madeira na floresta, à beira de um lago, para escrever parte do meu disco, durante uma semana. Fiz isso para conseguir fazer uma pausa e afastar-me da minha vida. E depois estive seis semanas a tomar conta de outra casa, em Portland, onde também pude compor música e fazer barulho à vontade, e isso soube muito bem. Na altura estava a viver num apartamento muito pequeno em Portland e era muito difícil poder tocar música alta, por causa dos vizinhos.
E é fácil conciliar o processo criativo de um disco com todos esses trabalhos diferentes de que falava há pouco?
Tive de fazer essa escolha, porque nunca conseguiria trabalhar num escritório durante quarenta horas por semana. Por isso, tive de organizar as coisas de maneira a tornar a minha vida profissional mais interessante para mim. Eu não lido nada bem com a rotina. Gosto da aventura e da novidade.
Não podendo viver apenas da música, opta por trabalhos temporários que lhe permitam em certas alturas focar-se apenas nela?
Sim, é isso. Às vezes trabalho numa livraria, trabalhei com plantas, fui empregada de mesa e trato do merchandising de algumas bandas, faço vendas online. Trabalhei com uma banda que eram os Decemberists e outra que se chama Pink Martini, também trabalhei com eles. Já vivo em Portland há muito tempo, por isso é sempre muito fácil para mim encontrar trabalho.
E de toda essa experiência de vida, surge inspiração para a música, ou são dois mundos distintos?
São coisas diferentes. É a maneira que arranjei para encontrar o equilíbrio entre ser uma pessoa criativa e garantir o meu sustento, podendo às vezes afastar-me dos meus empregos e concentrar-me na música. Isso é incrível.