Aretha Franklin ou a “Rainha da Soul”, como era unanimemente apelidada, faleceu esta quinta-feira na sua casa de Detroit, vítima de cancro do pâncreas. Numa declaração veiculada pela família aos meios de comunicação social pode ler-se que “num dos momentos mais sombrios das nossas vidas, não conseguimos encontrar as palavras apropriadas para expressar a dor que sentimos no nosso coração. Perdemos a matriarca e a rocha da nossa família.”
Em maio de 1964, Aretha Louise Franklin era, literalmente, coroada em palco no Regal Theater em Chicago, com apenas 22 anos. A premonição para uma carreira nobre não podia ser mais acertada: a cantora norte-americana ganhou 18 Grammy Awards, alcançou 25 discos de ouro e vendeu mais de 75 milhões de discos. Em 1987 foi a primeira mulher a entrar para o Rock and Roll Hall of Fame e, em 2010, foi eleita pela revista Rolling Stone como a cantora número um da era do rock.
Aretha Franklin coroada “Rainha da Soul” no Regal Theater, em Chicago
Nascida a 25 de março de 1942 em Memphis, no Estado norte-americano do Tennessee, veio a crescer em Detroit, uma das principais cidades da soul. Filha do reverendo C.L. Franklin, viu o pai marchar com Martin Luther King e cantou, em 1968, no funeral deste último.
Estava, desde 2017, afastada dos palcos para se poder dedicar mais à família e aos netos, segundo declarações da mesma. A mais recente e marcante aparição acontecia em 2015, no Kennedy Center, numa cerimónia de homenagem a Carole King, co-autora de um dos seus maiores hits “You Make Me Feel (Like a Natural Woman)”.
Atuação de Aretha Franklin no Kennedy Center, em 2015
Em 2012, Pedro Costa e José Paulo Alcobia andavam às voltas das canções e das suas histórias e recuperavam dois dos seus êxitos na rubrica da 3. “Canções com História” deu destaque a “Save Me” e “I Never Loved a Man (The Way i Loved You)”, canção-título do décimo álbum de estúdio da cantora, editado em 1967.
Canções com História – Aretha Franklin “Save Me” | 20 Nov, 2012
Canções com História – Aretha Franklin “I Never Loved a Man” | 19 Nov, 2012
“Respect”, uma das faixas que se afirmou como imagem de marca de Aretha Franklin e que viria a tornar-se um verdadeiro hino dos movimentos de defesa dos direitos das mulheres, foi gravada no Dia dos Namorados de 1967. A cantora sentava-se ao piano no estúdio da Atlantic Records e daria nova vida ao original de Otis Redding: o êxito permaneceu em primeiro lugar das tabelas durante 12 semanas consecutivas.
Em entrevista à britânica Record Mirror, em 1968, Aretha Franklin disse que sempre viu potencial na versão que fez de “Respect” e que sabia que ia ser um sucesso. Na altura, questionada sobre se no futuro ainda se veria a cantar canções como “Respect” ou “Think”, Franklin disse que não: “A música muda e eu vou mudar com ela”.
Festival Euroversão da Canção – Respect (Aretha Franklin/Otis Redding) | 08 Mar, 2018
No dia em que viria a falecer, Pedro Tenreiro e Joaquim Paulo falaram à 3 sobre o desaparecimento de uma das mais marcantes vozes da Soul de que há memória:
“Se pensarmos em vozes femininas e na Soul como um género completamente autónomo, a Aretha Franklin foi o maior modelo feminino que a Soul teve” – Pedro Tenreiro
“Acho que o mundo da Soul é um bocado limitativo para a Aretha Franklin. Ela paira por cima de qualquer género, de qualquer cantor ou cantora…” – Joaquim Paulo