Segundo a biografia oficial, Samuel Úria sofreu o custo da interioridade na forma de sobre-exposição televisiva. Não é mencionada a rádio, mas nós sabemos que também marcou de forma definitiva os seus anos em Tondela. Os meios pequenos favorecem a procura de escapes, e rádio e TV são janelas para o mundo. Ou pelo menos eram, nos anos 80, na era pré-internet, enquanto Samuel crescia. Faz por isso sentido que agora esteja agora do outro lado.
Samuel Úria é um extraordinário escritor de canções. Domina palavras, emoções e acordes com naturalidade impossível (às vezes, também implacável), por isso chegou tão rapidamente ao grupo dos heróis da cena portuguesa. Membro da FlorCaveira desde o primeiro momento, Úria começou por O Caminho Ferroviário Estreito (2003), um disco que permaneceu obscuro durante bastante tempo, até ser (re)descoberto anos mais tarde e logo ganhar estatuto de culto. De então para cá, dividiu-se em vários projetos (As Velhas Glórias, os Ninivitas, Xungaria no Céu…), gravou 6 discos (um deles, A Descondecoração de Samuel Úria, num só dia), viu o seu talento de escritor de canções reconhecido pela SPA (“Lenço Enxuto“), apareceu em filmes (O Que Há de Novo no Amor), colaborou com Márcia, fez homenagens a Paco Bandeira, Paralamas do Sucesso e António Variações e algumas das melhores canções em português deste século… É um dos homens mais ativos e desalinhados na cena portuguesa, por isso tem Carta Branca na Antena 3.
A sua Cantina — de quinta para sexta-feira, à meia-noite — terá sempre música e convidados e quer ser uma conversa informal “entre gente que trabalha no mesmo ramo” e não tem problemas em partilhar gostos e detalhes do processo criativo.