Dos restos de 2020 veio esta deliciosa loucura dos psicadélicos australianos, que mesmo em modo automático foram capazes da mais bizarra eloquência e da mais hipnótica dose de verborreia que nos acompanhou em 2021.
Chegou em fevereiro e em boa hora, que tanta falta nos estava a fazer uma luz para iluminar a escuridão com que 2021 arrancara. A canção que dá título ao quarto álbum dos britânicos brilhou o ano inteiro na 3.
Quando o desespero se transforma em esperança, faz-se da tristeza dança: eis o provérbio que nos ofereceu o alemão Roosevelt nesta espécie de “Vai Tudo Ficar Bem” disfarçado de hino para pista de dança em fim de noite.
Mais uma canção cheia de esperança embrulhada em sintetizadores e melancolia, sublinhada pela voz inconfundível de Samuel T- Herring. Foi a única canção com que os norte-americanos nos brindaram este ano e uma das melhores que ouvimos em 2021.
Depois de duas canções melancólicas recheadas de luz e esperança, chega a vez do luxo e da decadência. É essa a “That Life” que nos canta a Orchestra neo-zelandesa nesta canção inspirada num quadro de Jerónimo Bosch.
Retrato pessoal de um dos momentos mais difíceis da vida da família de Jordan Rakei – o divórcio dos pais, que o marcou em jovem e que só agora conseguiu enfrentar, numa das mais singelas canções de 2021.
O amor voltou e Celeste também, para o celebrar. Um ano depois, a cantora norte-americana volta a pôr uma canção de “Not your muse” entre as melhores do ano com esta delícia retro-soul.
O ano começou pintado a Drunk Tank Pink – não o tom de rosa criado nos anos 70 para amenizar a violência, mas o segundo álbum dos ingleses, de onde saiu este desabafo de um músico habituado à estrada mas obrigado ao confinamento.
A banda que reúne Aaron Dressner (dos National) e Justin “Bon Iver” Vernon recrutou Taylor Swift para dar voz e alma a esta reflexão sobre saúde mental do ponto de vista de quem está do outro lado.
Ai, as saudades que eu já tinha de uma alegre cantiguinha… deve ter sido o que pensou Lorde no regresso aos discos. Mais orgânico, mais psicadélico, o “álbum da ganza” da neo-zelandeza ofereceu-nos luz, cor… e uma das canções do ano.
Ao terceiro álbum, confirmaram-se as melhores indicações: a soul de Durand Jones e dos seus Indications veio para ficar nos nossos ouvidos, com este cartão de visita de um cada vez mais popular Private Space.
O céu é o limite nesta diatribe do rapper californiano, misto de hino motivacional e ode à auto-confiança, onde a combatividade de quem vai a caminho do topo é polvilhada com a voz doce de Daisy World.
“A maré que leva é a maré que traz”, canta Rodrigo Amarante nesta espécie de oração feita canção que trouxe o ex-Los Hermanos de volta aos discos. Oito anos passados, matam-se as saudades na volta da maré.
Mais uma ode motivacional em formato canção: “You Can Do It”, assegura Dan Snaith em loop neste inesperado single, que tanto pode ser banda-sonora para sessão de ginásio como hino de mais um ano de confinamento.
Frenético, hipnótico, vibrante… eis alguns dos adjetivos com que foi brindada a canção dos norte-americanos, feita a pensar “no dia em que tudo isto acabar” e pudermos sorrir sem máscaras. Enquanto esse dia não chega, podemos ir ensaiando o passo…
E o nome diz tudo… Uma das canções mais viciantes do ano, trouxe-nos de volta a voz luzidia da cantora inglesa e não mais nos largou os ouvidos. Pode soar a raspanete para a cara-metade, mas a nós soou-nos a pop mais que perfeita.
É uma histórica sala de concertos de Cleveland que dá nome a este primeiro single do quarto álbum da banda de Bristol. Uma canção que arde em fogo lento até ferver na voz pujante e pungente de Joe Talbot. Parece punk, mas está cheio de soul…
E de repente, descemos aos anos 70, levados por duas vozes, duas mulheres, duas gerações. Kylie e Jessie juntaram-se para dar nova vida ao ”Disco” e trazer de volta a mais descomprometida face da pop.
Começa com batida hipnótica, acaba como canção de embalar. Pelo meio, a cantora britânica revela-nos as aflições de ser mãe e as agruras de ser filha. Chama-se “23” mas há muita vida nesta singela canção que, não sendo de embalar, nos deixou a alma mais calma.
Depois da “Mother” de Cleo Sol, o “Daddy” de Annie Clark. “Pay Your Way In Pain” é rock disfarçado de funk, com cheirinho a Prince e trejeitos de Bowie, que nos levam de volta aos anos 70.
Foi com uma canção de abandono e angústia que o músico de Londres nos voltou a conquistar. Já ouvimos muitas vezes isto de que “sem ti a vida não será a mesma”, mas desta vez, James Blake não canta sobre um amor perdido, mas sobre uma amizade finada.
No ano em que se confessou “mais feliz que nunca”, Billie Eilish ofereceu-nos uma balada acústica sobre um outro “bad guy”. A anos-luz da electrónica tenebrosa do álbum de estreia, desta vez o negrume está todo na letra.
Se lá atrás a dupla Kylie Minogue / Jessie Ware nos levou aos tempos do disco, agora é o duo Bruno Mars / Anderson Paak que nos traz de volta os ritmos da Motown, neste descontraído convite à festa… de patins nos pés.
Quatro anos depois de Holding On, Adam Granduciel e companhia voltam a confortar-nos com uma canção sobre mudança, esperança e perseverança, embrulhada na grandiosidade épica do rock mais vintage.
Por falar em grandiosidade épica, eis o regresso em tom majestoso de uma das rappers mais influentes de Londres. O mais poderoso manifesto político e social, anti-racista e pró-feminista assinado pela Pequena Grande Simz.
Mais um dos muitos felizes encontros que 2021 nos ofereceu – e o mais melancólico do ano: Sharon Van Etten e Angel Olsen puseram-se a cantar os bons velhos tempos e fizeram-nos cantar a plenos pulmões “like I used to”…
Depois de fugir à geografia, a dupla britânica parece também ter largado a electrónica viciante que era sua imagem de marca. Mais perto dos Avalanches do que dos “Block rockin’ beats”, eis uma das melhores canções dos Chemical Brothers em muitos anos…
Atrás dos olhos verdes que a britânica Arlo Parks canta esconde-se a curta mas marcante história de um amor forçado a esconder-se. Carregada de nostalgia e soul, “Green eyes” é uma das mais encantadoras mensagens de conforto e carinho para tempos difíceis.
Cartão de visita do mais recente álbum dos imparáveis londrinos – que nos têm posto a dançar non-stop nos últimos anos – e espécie de carta de intenções da própria dupla: se não entendes, não penses, “keep moving” que o caminho é em frente…
Há um ano, deixaram-se ficar pelo segundo lugar. Desta vez, não deixam escapar o primeiro. Os enigmáticos mas prolíficos Sault deram-nos a mais omnipresente canção do ano, o lamento de uma amizade perdida para o crime… Cheia de amargura mas tão doce de ouvir que não nos saiu do ouvido em 2021.