Nove anos depois, o regresso de Karen O e companhia não podia ser mais cool nem mais certeiro. “Burning” é uma das mais ardentes revelações de 2022.
Nota: Foram contempladas as edições entre 16 de novembro de 2021 e 15 de novembro de 2022.
Gostávamos que soubessem que esta foi uma das canções mais sedutoras que ouvimos este ano: R&B alternativo que lançou Lacy e se tornou o nosso bad habit.
Aquela do “amigos, amigos, negócios à parte” acaba aqui. Da amizade entre Thomas Mars e o vocalista dos Vampire Weekend nasceu uma das canções mais estilosas do ano.
O músico mais ouvido no Spotify passou o ano nos nossos ouvidos com esta frescura de canção, banda sonora para tardes de sol e refresco para este final de ano.
Bastou um beijinho. A cantora carioca conquistou-nos com este convite ao encontro entre caras, corpos e bocas. Sensualidade e bom sexo sob a forma de canção.
Entre livros de poesia e peças de teatro, Kae Tempest arranjou tempo para nos oferecer um hino à aceitação e à liberdade. Um coming out sem pressa nem pressão.
Escrito durante a pandemia e lançado durante a guerra – os suecos atiram contra negacionistas, céticos e snowflakes. Não podiam ser mais diretos. Nem mais enérgicos.
Cantou com Diana Ross e os Gorillaz mas foi aos restos de Slow Rush que Kevin Parker foi buscar esta pérola pop-psicadélica com sabor a clássico instantâneo.
Um regresso muito aguardado: o trio de Leeds ofereceu-nos The Dream e de lá sacou esta orelhuda ode às criptos-moedas da moda.
Há três anos deu-nos a canção do ano e foi à vida dela. O regresso tardou, mas Lizzo voltou com um hino à esperança e à superação. Já não era sem tempo.
A meio do ano, a britânica libertou-se de confinamentos, libertou-nos para a festa e cantou o sentimento universal pós-covid: está na hora de dançar.
Mais uma habitué destas listas de melhores do ano, desta vez com uma balada country de coração partido, que soa a despedida e resignação…
O quarteto de Sheffield estacionou o carro, encontrou a paz e trocou as guitarras pela orquestra. Será a bonança depois da tempestade?
Em ano de regresso anunciado e polémica inesperada, os canadianos conquistaram-nos com a canção de embalar que Win Butler canta ao seu filho.
Se é para ouvir outra rádio, que seja a Dawn FM e esta ode a uma vida sem freios nem amarras, embrulhada em batida pós-disco. Música para as noites de weekend.
Tem nome de clássico de ação mas não consta que Bruce Willis tenha entrado neste filme: hip / pop / R&B com refrão de voz doce, para exorcizar demónios.
Foi com uma malha de guitarra em punho que Sharon Van Etten mandou a pandemia às urtigas. O melhor “what the fuck” que ouvimos em 2022.
Eles não deixam a dança, nem escapam às escolhas de final de ano. Desta vez com uma festa feita de funk e febre de sábado à noite.
Mais uma canção de coração partido a deixar-nos rendidos. Soa a sol e a felicidade, mas é desabafo de quem vê o seu mundo a desabar.
Agora que são big, os irlandeses brindaram-nos com poesia, negrume, um baixo cativante e a canção que os Stones Roses gostavam de ter escrito.
Em 2020, esta dupla ficou em primeiro lugar. O soalheiro “Texas Sun” foi canção do ano para a Antena 3. Em 2022, é de Texas Moon que chega a canção que abre o #10 do ano. Nesta espécie de sequela, os imparáveis texanos voltaram a juntar-se ao cantor de Atlanta e mostraram-nos o seu melhor lado… B.
“B-Side” é canção de duplo sentido: escreve-se como “lado B” mas afinal parece querer significar “ao lado de” – é fado cheio de saudade de alguém que está longe e que se quer muito, muito aqui ao lado.
São a voz de Leon Bridges e o riff da guitarra de Marko que brilham e confirmam que em equipa que ganha só se mexe para bater o pé.
Em 2022, dois The XX deram-nos música nova. Mas se Oliver Sim lançou Hideous Bastard na recta final do ano, foi Jamie XX quem fez o pleno: não só produziu o álbum de estreia do colega de banda, como ainda nos deu boas razões para dançar logo na Primavera… e de novo no Outono.
Mas foi o single lançado em Abril que deu o mote para o resto do ano: “Let’s do it again” é hino electro-gingão e uma das canções que mais ouvimos, que mais dançámos e que mais “high on love” nos deixou. Vamos lá outra vez?
O mui enigmático (mas já não tão anónimo) colectivo britânico tem tido sempre lugar sentado entre os nossos melhores do ano. E quando, em novembro, anunciaram, de um dia para o outro, cinco álbuns de uma assentada, confirmaram que não há duas sem três.
No primeiro desses cinco novos álbuns estava um discreto ato de fé, uma oração R&B com homilia dada pelo acólito jamaicano Chronixx . E tão rapidamente quanto chegou, “Faith” nos conquistou. É coisa confortável e quentinha para noites de Outono.
É a única do top #10 melhores canções de 2022 que faz parte de um álbum que só sairá em 2023.
E queremos crer que se o álbum for tão bom quanto este primeiro single, vai valer a pena esperar mais uma dúzia de meses para o ver nas listas do próximo ano. É que o postal que o alter-ego animado de Damon Albarn nos enviou da “Cracker Island”, em plena Primavera, chegou elétrico, hipnótico e com a força do baixo ululante de Thundercat.
Foi uma das boas surpresas de 2022. É uma das boas promessas para 2023.
Chega a canção que prenunciou a Renaissance de Queen Bee, neste ano da graça de 2022.
Tanto chamariz para a dança, como manifesto de queixo erguido, “Break My Soul” é um grito de raiva contra empregos mal pagos e relações mal amadas, é um tonitruante “estou farto do confinamento e do raio do covid” – até parece que as pessoas se esqueceram de viver. É, no fundo, um “toca a acordar”, um muito direto “arranjem lá força, encontrem lá a vossa motivação, que isto é para partir a loiça toda”. E, já agora, dancem lá um bocadinho… Abram alas que Beyoncé voltou.
Um projeto paralelo, uma banda de gente conhecida de outras bandas, que se juntou porque… enfim, era preciso escoar tanta canção escrita em confinamento.
A receita foi simples e rápida: juntar dois dos Radiohead, polvilhar com o baterista dos Sons of Kemet e mexer tudo muito bem com um produtor com toque de Midas. Estava servido The Smile – e lá dentro, “The Smoke”: nunca Thom Yorke, Johnny Greenwood e Tom Skinner tinham soado tão ferozes e diretos. Graças ao baixo pulsante, sim. Mas, sobretudo, graças à produção de Nigel Godrich, que fez esquecer que cada um dos três músicos gravou cada uma das suas partes em cada uma das suas casas.
Esta é a prova de que The Smile não é só fumo de vista.
Um raio de sol do Brasil. Logo no início do ano do bicentenário, veio uma nova canção com ar de velha conhecida, de uma banda que reúne gentes de outras danças, que se juntaram para combater o isolamento da pandemia: Dora Morelembaum, Zé Ibarra, Lucas Nunes e Julia Mestre – que este ano nos deliciou a dobrar (o seu “Paraíso” ficou lá atrás nesta contagem). Mas se a Mestre nos conquistou só com um beijinho, já os Bala Desejo fizeram o favor de montar um baile inteiro, para nos pôr a dançar ao som de um Recarnaval, do mais vintage MPB, a fazer lembrar canções de outros tempos, de outras folias.
Chegou bem a tempo do Carnaval, este Baile de Máscaras com sabor a arraial e marotice.
No degrau mais baixo do pódio ficou a catalã Rosalía, com uma canção de confiança nas mudanças da vida e de aceitação das transformações pessoais – tudo convenientemente embrulhado em toada reggaeton e despudoradamente latina. Afinal, a palavra porto-riquenha, que dá nome à canção, é supostamente usada para nomear tudo o que tenha um ritmo extraordinário ou muito sabor… como a própria canção – viram o que ela fez?
Foi assim que a espanhola pôs tudo a andar de motomami. “Saoco, papi, Saoco…”
Autor da canção pop mais estilosa que ouvimos este ano, o ex-One Direction partiu em todas as direcções quando nos abriu a porta da Harry’s House e se tornou uma das figuras mais populares e omnipresentes da cultura pop ao longo do ano (em palco, nos ecrãs de cinema, nas capas das revistas…).
E mesmo que a letra nos cante solidão e melancolia, a verdade é que o seu ritmo inquieto e a sua melodia gulosa fazem de “As It Was” a mais catchy e eletrizante canção pop de 2022. E a segunda melhor que ouvimos este ano.
Uma canção furibunda e cativante, de uma banda que rapidamente passou de coqueluche de hipsters para os palcos dos maiores festivais de verão: as britânicas Wet Leg.
E em ano em que pandemia nos chateou, a guerra nos incomodou, a inflação nos massacrou, elas fizeram-nos sentir que nada disso, nada é tão desagradável quanto aquela gentinha chata que não desgruda, que não percebe, que não aprende… Aquela gentinha a quem as Wet Leg dedicam este “Ur Mum”, insulto feito canção – e a que mais gozo nos deu em 2022.