Extensão com upgrades do último disco, numa sátira de teorias da conspiração e um toque de política. Canções rock pujantes, nesta estadia numa cave mundana.
Nota: Foram contempladas as edições entre 16 de novembro de 2021 e 15 de novembro de 2022.
Sequela dos discos editados em 2020, agora com coros gospel, conversas com Deus e groove. Uma viagem sonora tranquilizante, repleta de esperança, numa abordagem descontraída à fé.
Entramos numa nave rumo a um universo paralelo com explosões de jazz e eletrónica. Anunciados para Paredes de Coura em 2020, só vieram este ano… mas valeu a espera para embarcarmos neste passeio intergaláctico.
Um disco leve que, num ano como 2022, traz a calma necessária. Um puzzle construído por canções ambiente, cujo bónus são as colaborações que Simon Green escolheu para o disco.
Depois de anunciar uma pausa de dois anos e de ter tido vontade de sair da indústria musical, fez um dos discos mais vendidos na América. Um trabalho que revela um lado cru de MItski e a sua relação com ser artista.
Feito em Portugal, desenhado em tempos de pandemia. Produzido com loops de temas dos anos 50 e 60, as novas canções trazem uma falsa sensação de alegria, contrastando com as letras pesadas.
Continua debaixo do nosso radar, com um novo trabalho, em que continua a trazer memórias da cultura negra. Logo a abrir o disco, o tema-título é um manifesto dos nossos tempos.
Um trabalho que evoca o fim, o arrependimento e a autodestruição de uma personagem e que é também a segunda parte de uma trilogia sonora iniciada em After Hours. A história é narrada por Jim Carrey.
Uma das mais importantes artistas da música pop dos últimos anos. Midnights bateu recordes de streaming após o lançamento, num trabalho inteiramente escrito ao lado de Jack Antonoff.
Mais um presente dos SAULT. Um dos cinco discos disponibilizados gratuitamente que marcam a versatilidade desta banda-mistério. O fascínio com a numerologia continua, com 11 temas editados no mês 11.
Seja um dia de sol ou uma noite com céu estrelado, ambos os cenários encaixam neste disco. Os Beach House trazem-nos a familiaridade dos seus sons, guitarras e vozes, sempre com um olhar diferente em cada disco.
Fazem parte da nova vaga de bandas pós-Brexit. Cada canção é uma história contada com língua afiada e bastante humor, sobre política, dinheiro ou a mera existência no mundo de hoje.
Em 2022, repetem a proeza de nos deixar rendidos ao toque mais adolescente das suas canções soturnas e melancólicas. Um trabalho repleto de questões sobre a morte, o medo e a ansiedade.
Amor é o que este primeiro álbum da dupla britânica merece. Com bases académicas numa das melhores escolas de Inglaterra, desconstruíram a música clássica e misturaram-na com pop num resultado altamente disruptivo.
Contemplação, silêncio e a existência: três das Mil Coisas Invisíveis que fizeram este disco, que se foca no bom e no belo que nos rodeia. Um som etéreo para apreciarmos o mundo e a vida com outro olhar.
No ano passado, surpreenderam com New Long Leg e, ainda na pandemia, escreveram mais um disco. Canções pós-punk repletas de textos algo desconexos, debitados de uma forma solitária e com humor.
Uma das surpresas do ano combina vários instrumentos, entre os quais o cavaquinho. Ao terceiro disco, Stromae evoca questões sociais acentuadas pela pandemia, fala abertamente sobre saúde mental e partilha a sua luta contra a depressão.
Uma lufada de ar fresco na forma como se fazem as canções deste disco, que evoca a nostalgia do tropicalismo adaptado aos nossos dias e que nos transporta para belas tardes de sol.
Continua o misticismo em torno dos Khruangbing, transportado diretamente para o sucessor de Texas Sun. Mistério, espiritualidade e sedução combinam-se na música da banda e na voz de Leon Bridges.
Um dos melhores discos de 2022 com hinos genuínos carregados de emoção, recuperando memórias do passado, desde os tempos de Funeral, o primeiro álbum, editado há quase 20 anos.
São uma das grandes bandas de rock deste século e, ao sétimo álbum, reforçam esse estatuto com um disco que também podia ser um filme. Os Arctic Monkeys de The Car já não são os mesmos de 2006, quando o álbum de estreia se destacou como o disco que mais rapidamente vendeu no Reino Unido — desde sempre! Tinham 20 anos então, eram os salvadores do rock. Entretanto, não só ganharam segurança e alargaram o léxico musical como envelheceram e desenvolveram gosto por fantasias cinemáticas. Alex Turner passou de adolescente cheio de genica a crooner adulto, atolado em dúvidas; a banda ganhou sofisticação e elegância; e, hoje, há toda uma mística Arctic Monkeys que vai para lá dos riffs de guitarra. The Car pega na experiência espacial de Tranquility Base Hotel & Casino, o álbum anterior, desce à terra e mistura soft rock, pop barroca e música para filmes, para criar o cenário perfeito para canções teatrais sobre o amor e os dilemas da vida adulta.
Angel Olsen é uma das vozes mais luminosas da música atual e, no novo Big Time, consegue brilhar ainda mais, mergulhando nas suas origens country para cantar sobre amor e desgosto, com entrega comovente. O sexto álbum da cantora americana foi gravado em Topanga, sob o sol da Califórnia, e nasce de uma fase complexa, emocionalmente muito atribulada pela sucessão de acontecimentos: assume publicamente a sua homossexualidade, apaixona-se e perde pai e mãe. Entre a tristeza da perda e a celebração de um novo amor, entre a luz e as sombras, Big Time é um dos discos mais honestos e fascinantes de Angel Olsen. Aparentemente, tudo é frágil, mas a vulnerabilidade também é uma força, e Angel Olsen consegue explorar isso como ninguém, mesmo quando lembra cantoras clássicas como Loretta Lynn ou Emmylou Harris.
Os Fontaines D.C. mudaram-se de Dublin para Londres, mas não perderam as ligações à Irlanda e declaram isso logo no título do seu terceiro álbum: Skinty Fia significa qualquer coisa como “maldição do veado”, é uma expressão usada como uma espécie de insulto e tem a ver com uma lenda irlandesa de um veado gigante chamado “Irish elk” (o que explica também a capa do disco). Mesmo a viver em Londres, onde supostamente tudo acontece, o quinteto de Dublin City — é daí que vem o D.C. — continua a usar com orgulho os símbolos da cultura original. Na verdade, o desconforto de ser irlandês em Londres parece ter sido a faísca para fazer estas canções, marcadas pelas referências pós-punk que nos fizeram gostar deles desde o primeiro minuto, com o álbum de estreia, Dogrel, mas nas quais já podemos reconhecer uma identidade própria, que vai para lá da citação de exemplos passados. Skinty Fia é um disco tenso e inquieto, que nasce do desenraizamento e procura sinais de uma identidade original.
O segundo álbum é sempre uma prova difícil, mas há quem a supere com vitalidade reforçada. A fama dos britânicos Black Country, New Road pode ter sido alavancada pelas relações familiares da baixista Tyler Hyde (filha de Karl Hyde, dos Underworld), mas a banda já não precisa de referências externas para ter lugar no mapa do rock atual. Ants From Up There é o segundo álbum, mas o primeiro que o septeto assume ter pensado como um todo. Nasceu em contexto pandémico, mas mostra uma banda madura e coesa, com vontade de explorar fórmulas pop sem nunca cair na banalidade. Gravado em ambiente de retiro, na ilha de Wight, Ants From Up There revelou novos caminhos, alguns inesperados. Isaac Wood, o vocalista, anunciou a saída dias antes do lançamento, alegando necessidade de tempo para cuidar da saúde mental; mas no disco não sentimos qualquer cisão, apenas um coletivo de músicos com uma linguagem comum e grande à-vontade com a experimentação.
2022 foi um ano intenso para Harry Styles. A sua experiência no cinema em Não Te Preocupes Querida, sob realização da então namorada Olivia Wilde, pode ter sido controversa, mas o seu estatuto enquanto ícone pop à escala mundial saiu reforçado com o terceiro álbum, Harry’s House, um disco que revela um artista a mudar de pele e à vontade com isso, pronto para mostrar o que lhe vai na cabeça, como se esta fosse uma gloriosa casa aberta. Tudo está no sítio certo: as canções são influenciadas por funk e R&B, mas também pela chamada city pop japonesa dos anos 80; a produção é elegante e polida; as superfícies brilham; e o charme está por todo o lado. “As It Was”, o primeiro single deste terceiro álbum a solo do ex-elemento dos One Direction, recebeu selo de total aprovação indie quando os Arcade Fire fizeram uma versão num programa da BBC, o que só reforça o processo de libertação de Harry Styles de todos os preconceitos.
A meio da tabela dos dez melhores álbuns internacionais do ano, está outra das grandes estrelas pop do planeta: Beyoncé. Queen B regressou, seis anos depois de Lemonade, na figura de uma Lady Godiva poderosa, disposta a celebrar o momento sem pedir autorização e com novas coordenadas musicais para explorar. Em RENAISSANCE, Beyoncé presta homenagem às raízes negras da música de dança, disco, tecno e house, ao mesmo tempo que canta canções de afirmação e hedonismo, algo que de resto sempre marcou a cultura de clubes. Devemos agradecer à pandemia as virtudes desta nova Beyoncé: segundo ela, toda a experiência COVID-19 transformou-a como pessoa, e isso levou-a a aceitar — e procurar — o prazer hedonista como uma espécie de símbolo de renascimento pós-confinamento. RENAISSANCE mostra uma artista no pico da sua carreira, dona das suas opções e do seu destino, que nos convida a dançar sem complexos, rodeando-se de produtores como Nova Wav, Skrillex ou Honey Dijon, entre outros.
Continuamos sob domínio feminino, com uma banda que começou por brincadeira e, logo ao primeiro single, “Chaise Longue”, conquistou meio mundo. O outro meio acabou por se converter com o álbum de estreia. Falamos das Wet Leg, duas raparigas da Ilha de Wight dispostas a revitalizar o indie rock como expressão da angústia millennial. Rhian Teasdale e Hester Chambers são enérgicas, têm sentido de humor e autocrítica e sabem o que fazer com guitarras — claramente, divertem-se a fazer música, e é difícil não sentir o mesmo a ouvi-las. Iggy Pop gosta delas; Dave Grohl, Lorde e nós, na Antena 3, também. O álbum de estreia é uma coleção de canções efervescentes que se colam a nós com refrães que podem nem sempre fazer sentido, mas também nunca nos deixam indiferentes.
O top 3 dos dez melhores álbuns internacionais de 2022 começa com o terceiro álbum de uma artista catalã que ascendeu de forma meteórica ao pódio das estrelas internacionais. Com MOTOMAMI, ROSALÍA prova que não é nem uma estrela fugaz nem uma artista de fácil definição. É uma das mais influentes e arrojadas figuras pop da atualidade. MOTOMAMI é um disco conceptual, o mais pessoal de ROSALÍA (diz a própria), mas é tocado por outros dedos experientes, como os de Pharrell Williams e El Guincho, e tem convidados como The Weeknd. Mostra ROSALÍA entre nomes de topo e arrisca novas possibilidades para a música pop, misturando flamenco, trap, R&B, eletrónica, reggaeton e baladas sul-americanas de cortar o coração.
Thom Yorke e Jonny Greenwood, os dois homens centrais dos Radiohead, e Tom Skinner, baterista que tocou com Sons of Kemet ou Floating Points, assinam um dos álbuns mais marcantes de 2022. A ideia e a música germinaram durante a pandemia; Jonny Greenwood foi quem começou por mobilizar esforços, mas tudo aconteceu em segredo. A inesperada estreia deste supergrupo aconteceu online, no festival de Glastonbury em 2021, e deixou muita expectativa no ar, mas A Light for Attracting Attention, o primeiro álbum, só chegou este ano — e com impacto imediato. Lembra os Radiohead, naturalmente (além de Thom Yorke e Jonny Greenwood, tem produção de Nigel Godrich, velho cúmplice do banda de OK Computer), mas The Smile vai além do previsível e coloca-se num patamar diferente dos outros projetos paralelos que envolveram elementos dos Radiohead. Afrobeat, prog rock ou pós-punk são algumas das influências que marcam o álbum de estreia deste supertrio britânico e fazem dele um disco com um território muito próprio.
Kendrick Lamar é um poeta. Domina as palavras, é veloz e certeiro nas rimas, honesto e contundente na mensagem. Já o sabíamos de álbuns anteriores, mas tudo sai reforçado em Mr. Morale & The Big Steppers, um álbum duplo que mostra um Kendrick Lamar ainda mais introspetivo do que é habitual, a refletir sobre a paternidade, a família, a amizade, o mundo, a política, a internet e o que descobriu sobre si próprio no processo de terapia. Mr. Morale & The Big Steppers é um trabalho longo, com alguns momentos bastante duros, outros mais suaves, até doces, e, nessa ambivalência, reflete as atribulações de Kendrick Lamar enquanto pessoa e celebridade. Ambicioso na produção, tem matemática rítmica avançada, muitas músicas com orquestra e piano e colaborações de gente como Ghostface Killah, Sampha ou Beth Gibbons, dos Portishead. É o disco internacional do ano da Antena 3 em 2022.