Foi uma das maiores surpresas do Primavera Sound Porto. Num festival marcado pelo hip-hop e pela música indie, Israel Fernández juntou milhares no palco onde tocou, ao fim da tarde do último dia do festival, num concerto verdadeiramente arrebatador.
O Daniel Belo falou com o cantor e com o guitarrista cúmplice Diego del Morao sobre a globalização do flamenco e a forma como novos artistas o usam.
Israel Fernández e Diego del Morao tocam dia 29 de junho em Oeiras, no Festival Jardins do Marquês, para abrir para António Zambujo, Camané e Ricardo Ribeiro.
(Transcrição da entrevista)
[DANIEL] O flamenco globalizou-se. Não seria muito comum, há uns anos, pensar em músicos de flamenco clássico num festival como o Primavera Sound, mas aqui estão vocês. O que pensam disso?
[ISRAEL] Bem, para nós é uma bênção, estamos muito gratos ao festival, à música e à juventude. Para nós, estar aqui é uma grande alegria, vamos dar tudo. Vou de alma e coração juntamente com o meu Diego, e estamos muito gratos.
[DANIEL] O flamenco já não é só flamenco. Está em todo o lado, incluído em géneros novos. A Rosalía, por exemplo, é uma das que transporta essa música para todo o mundo. Como é que reagem ao ver o flamenco assim usado?
[DIEGO] Nós temos um legado. Este caminho já vem de há muitos anos, desde que o mestre Paco, que foi um dos pioneiros, foi aos Estados Unidos. Acho que nos indicaram o caminho e que devemos levar este tesouro, este legado, com honestidade. O que Israel faz é o mais puro flamenco. À sua maneira, na sua juventude, mas sempre com seguindo o cânone, com as todas as coisas muito bem feitas. Acho que isso é que é importante, não é? Quer dizer, nós concordamos com todo o tipo de música e conceitos, mas ele… ele é flamenco puro. Ortodoxo, mas da sua época.
[DANIEL] Vê-se, por exemplo, a forma como te apresentas. O teu Colors Show ficou espetacular, mas não tens o visual que eu esperaria num artista de flamenco clássico. Há críticas das pessoas mais velhas sobre a tua imagem pop, ou isso não importa quando abres o teu coração para nós a cantar?
[DANIEL] Bem, a imagem ainda não tem críticas. Eu ouço as críticas do ponto de vista da edificação – críticas que edificam. As críticas que destroem, não as ouço nem presto atenção. Eu acho que é preciso frescura, é preciso estar atualizado mesmo sendo um aficionado do cante flamenco tradicional. O que está bem feito não deve ser quebrado. É preciso cantá-lo, é preciso tocá-lo, é preciso vivê-lo, não é? E esse Color Show… a verdade é que foi uma coisa muito bonita, estar ali e partilhar música com aqueles músicos enormes. Foi muito bom
[DANIEL] O que é mais importante no flamenco?
[ISRAEL] O mais importante no flamenco, como na vida e na música e em tudo em geral, é o coração. O coração vai sempre com verdade. A mente pensa muito e faz pouco.