As contas estão feitas, e estes são os 30 álbuns internacionais de 2024 mais votados pela equipa da Antena 3. Durante toda a semana, revelamos as nossas escolhas no que diz respeito a álbuns e a canções, nacionais e internacionais. Acompanha as contagens ao longo da emissão ou em atualização permanente aqui no site.
Como habitualmente, O Homem do Bussaco teve a gentileza de revelar o top 5.
Nota: Foram contempladas as edições entre 1 de dezembro de 2023 e 30 de novembro de 2024.
A banda de Amy Taylor volta a trazer o espírito riot grrl para cima da mesa, com uma língua bem afiada.
Um novo capítulo do músico londrino de infinita ternura e poesia.
Mais progressivos e para sempre enigmáticos, o trio de Thom Yorke, Jonny Greenwood e Tom Skinner hipnotiza-nos uma vez mais ao som de uma banda sonora, sem tela.
Nenhum trabalho a solo desde os White Stripes tinha soado tão bem. Bem oleado, Jack White redescobriu a paixão pelos blues no anonimato.
Uma das mais belas vozes trazidas à luz em 2024. Uma sonoridade diferente na pop alternativa, que não tardará a encher grandes salas.
A primeira paquistanesa a ganhar um Grammy trabalha a música minimal como se fosse porcelana, noite e dia.
No fim de setembro, o quinteto de jazz britânico lançou a magia “feel good” outonal e estendeu o tapete para pés que teimam em dançar.
Em 2024, a temporada de treino acabou e ficamos mesmo “Houdini” da cabeça. O novo trabalho da estrela pop da Albânia, produzido a meias por Danny L Harle e Kevin Parker, é irresistível.
O brasileiro é do Recife, mas mora no jazz. A música da natureza é manipulada como uma marionete e é um exemplo de contemplação do alucinante sonho ancestral.
Depois dos Oasis, estes são os irmãos que não queremos que briguem. Um precioso tesouro de instrumentais da dupla latina.
Deus transformou água em vinho; Nick Cave transforma, uma e outra vez, as maiores angústias em algo extraordinário. A alquimia de um deus selvagem.
Quinze canções memoráveis de um duo subestimado. Etéreo, obscuro e cheio de pinta, Imaginal Disk é isso e muito mais. Quem pisa o chão de Madgalena Bay não volta o mesmo.
Um pequeno-grande paraíso tropical do trio de Texas.
Sexo, drogas… mas sem rock and roll. Porque a Harrison Smith interessa é a música de dança. É a nossa nova obsessão que encontrámos online, com a ajuda de Charli XCX.
Custa a crer que foi lançado em 2024 quando soa tanto a 1980 e qualquer coisa. Um conjunto de canções transversais a qualquer geração. Porque, quando se trata dos Cure, ficamos todos fragilizados.
Música que nos faz louvar a música. Atípico, livre como um cavalo sem rédea e com algumas das colaborações mais interessantes do ano.
A voz dos Portishead fez parar o tempo e lembrou-nos de como o presente é miraculosamente bonito.
Mais um bombom exótico e viciante da banda de Ezra Koenig, com algumas das canções mais belas e divertidas, bem como elegantemente produzidas de 2024.
Uma verdadeira odisseia musical que navega por jazz moderno, R&B e soul, conduzida pela talentosa saxofonista londrina.
Embrulhado numa sonoridade country, é um dos trabalhos de uma trilogia que começou com Renaissance. Bastante diferente do primeiro, podemos dizer que uma mudança de cenário é (quase) sempre inspiradora. E, se há alguém que pode mudar as regras durante o jogo, é Queen B.
Em número 10, temos o novo álbum da banda punk de Bristol que nos conquistou logo em 2017. Sete anos depois, o sangue dos Idles não fervilha tanto. O grupo de Joe Talbot e companhia mudou de mote: “love is the fing” é o grande slogan estampado em cada canto de Tangk.
Sempre grandiosos, mas cada vez mais pacíficos, os Idles dão as graças em “Grace” e estão gratos em “Gratitude” — é uma verdadeira máquina rock “feel good” em funcionamento. Estão plenos, confiantes e continuam a libertar-se de preconceitos (“fuck the king, he ain’t the king, she’s the king”, canta Joe em “Gift Horse”). Os ingleses têm uma nova carapaça: continuam rijos no que ao rock diz respeito, mas plenos na vida.
Lançado depois do São Valentim, o álbum é uma carta de amor, com novas cores, texturas e muita dança “hip to hip” e “cheek to cheek”.
A dança continua, agora com Fred again.., em nono lugar. Ten Days é o quarto álbum do produtor inglês, e dez são os dias que podíamos passar a ouvi-lo, sem parar.
Escreveu e produziu músicas para os coreanos BTS ou para nomes como Stormzy antes de criar canções a solo. Agora, serve uma paleta diversa de cores e moods. É música de dança que enriquece e ganha vida e mais sabor em cada colaboração. Destaque para “Places to Be”, canção que juntou Fred again… a Anderson .Paak. Antecipou o verão de 2024 e tornou-o bem melhor.
Na Antena 3, adoramos o Charm de Claire Cottrill, mais conhecida como Clairo.
Em 2017, era apenas uma adolescente que fazia música no conforto do quarto e acabou por explodir na internet quando lançou o single “Pretty Girl”, uma canção lo-fi acompanhada de um videoclipe caseiro. Foi associada desde logo à bedroom pop, mas, após o primeiro longa-duração, Immunity, em 2019, mostrou-se muito mais talentosa do que o que a etiqueta antiga denunciava.
Desde aí, a jornada de Clairo foi fluindo como um rio agitado, para desaguar em Charm, o trabalho mais refinado da artista norte-americana. Introspetivo e sensual, Charm é o diário pessoal de uma jovem mulher de Atlanta na casa dos vinte, que navega com perícia por várias emoções. Canções mais lentas e complexas, com elementos pop e jazz. Entre Joni Mitchell e Taylor Swift, temos Clairo. Um verdadeiro charme…
Em sétimo, temos The Collective, o segundo longa-duração a solo de Kim Gordon, a voz dos Sonic Youth, que, com 71 anos, continua a soar tão bem como nos anos 80. Lançado pela Matador Records, The Collective é uma espécie de instalação artística sonora desconcertante.
Repleto de noise e beats de trap, o álbum tem a mão do famoso produtor Justin Raisen, que trabalhou com Lil Yachty e Charli XCX. Ao vivo, apresenta-o com uma juventude sónica, num conjunto só de mulheres. A revolução não se extinguiu desde os Sonic Youth; seguiu avante, graças a Kim Gordon.
Uma viagem às profundezas da alma de Kim, que se reinventa uma e outra vez. Moderna e cheia de pinta.
Ninguém leva a sério Tyler, the Creator, incluindo o próprio, que anuncia: “I don’t give a fuck about pronouns, I’m that nigga and that bitch”. Agora, com 33 anos e poucos cabelos brancos, o rapper californiano sente o peso da idade. O choque da realidade traduziu-se em Chromakopia, um conjunto de canções que reflete os pensamentos que guarda na intimidade.
O disco mostra um Tyler interessado numa autoanálise, determinado a investigar mais sobre si, como se se tratasse de um profissional num filme de Alfred Hitchcock — é assim que o vemos na capa do álbum, num cenário noir de máscara na cara.
“Take Your Mask Off” e “Tomorrow” são as canções que melhor refletem a urgência em encontrar-se e a sua preocupação com o futuro. Este é o trabalho mais introspetivo de Tyler, the Creator, repleto de colaborações com novos e velhos amigos e a mesma criatividade de sempre.
Jamie xx é a chave mestra dos xx, mas, desde 2015, é o rei da festa. Passaram-se nove anos e a energia contagiante da música de Jamie xx permanece intacta.
Segundo o músico, produtor e DJ inglês, In Waves foi gravado ao longo de quatro anos, com o objetivo de fazer um álbum tão divertido como introspetivo.
A Jamie, juntam-se, por exemplo, Romy, Panda Bear, Kelsey Lu, John Glacier e ainda os Avalanches, em “All Your Children”. Os pontos altos são a vibrante “Baddy on the Floor” e — a cereja no topo do bolo — “Life”, canção que junta Jamie xx e Robyn, capaz de dar vida aos mortos.
Bem perto do pódio, está Brat, o álbum que esteve na cabeça e na boca de todo o mundo.
Foram precisos dez anos para Charli XCX ver o seu talento reconhecido enquanto cantora, compositora, produtora e DJ, e fê-lo com o seu oitavo longa-duração. Escrito como se de mensagens para amigos se tratasse e com a premissa de que cada canção pudesse ser ouvida numa rave, Charli XCX levou muito a sério a missão de criar um disco icónico. Repleto de “Club Classics”, Brat não é apenas um álbum, mas um fenómeno.
Vulnerável, como já tinha sido no álbum pandémico How I’m Feeling Now, Charli reflete sobre as próprias inseguranças nas relações pessoais enquanto mulher na indústria musical e ainda presta homenagem a SOPHIE, artista multidisciplinar e sua amiga.
Sensual e arrebatador, Brat transcende barreiras culturais e geracionais e marcou o ano de 2024.
Hit Me Hard and Soft, o sucessor de Happier Than Ever, mostrou-se, até agora, a obra maior de Billie Eillish e chega, com todo o mérito, ao nosso top 3.
A jovem norte-americana partilha um pouco o modus operandi online da amiga Clairo, uma vez que também se tornou viral no YouTube com músicas caseiras. No caso de Billie, o assunto é sério e em grande escala, reunindo uma gigantesca lista de prémios e nomeações com apenas 22 anos.
Nascida em 2001, cedo se mostrou promissora, desde a frescura na sonoridade pop até ao alcance vocal. Valendo-se de uma voz surrealmente perfeita, Billie é capaz de transformar qualquer música medíocre num hit de sucesso. Mas nada é medíocre em Hit Me Hard and Soft, bem pelo contrário: tudo é especial no terceiro álbum de Billie Eillish. O futuro da pop está muito bem entregue.
O futuro do hip hop está muito bem entregue… a Kendrick Lamar. Em segundo lugar, temos GNX, o sucessor de Mr. Morale & The Big Steppers, uma viagem confessional que ainda hoje custa a digerir.
Depois de tanto drama entre Kendrick Lamar e Drake, com várias diss tracks pelo meio, ninguém esperava um novo trabalho de uma das maiores referências do hip hop internacional. Lançado de surpresa perto do fim de novembro, o sexto álbum de Kendrick Lamar é versátil, com a sinceridade a que já nos habitou desde a era de ouro de To Pimp a Butterfly.
Podemos contar sempre com Kendrick para colocar o dedo na ferida certa. GNX é um guia espiritual e uma lição de hip hop em 2024. Provocador como só Kendrick Lamar consegue ser.
Chegamos, finalmente, ao número 1, ao melhor álbum internacional de 2024 para a Antena 3… e, sim, “you were my favourite for a long time”.
Falamos de Romance, um álbum que chegou embrulhado em grandes expectativas desde o lançamento dos singles “Favourite” e “Starburster”, duas das faixas mais refrescantes no panorama do pós-punk. Expectativas cumpridas, os Fontaines D.C. soam cada vez mais como eles próprios e cada vez menos ao que deixaram para trás. Romance é um espaço longe de Dublin (terra natal dos rapazes e terra de grandes escritores, como James Joyce, Samuel Beckett ou Oscar Wilde), mas com o imaginário de Dublin presente na mesma.
Pode parecer contraditório, mas há cinismo e sinceridade em Romance, o grande poema de Grian Chatten e companhia. Mais sofisticados do que nunca, jorram entusiasmo nas suas onze páginas.
O talento dos “boys in the better land” era um segredo que não podia ficar guardado para sempre. E está bem melhor assim, entregue ao domínio público para que todos possam viver esse grande amor, como vivemos na Antena 3. Romance é o nosso tesouro internacional de 2024.