Para assinalar o espaço e a geografia dos Beach House teremos de recuar cerca de cinco anos. Teen Dream (2010), não só abria a porta para a eternidade das canções da dupla de Baltimore, como também convocava em cada uma das canções do disco um registo intemporal, cruzando o sonho, a poética e a intermitência entre os vários géneros musicais onde assenta a sua dream pop.
Formados em 2004, e inspirados pelo indie rock de ampla expressão na cidade onde ainda eram estudantes, Alex Scally e Victoria Legrand formaram uma casa cósmica baseada em métricas downtempo. Ainda também a composição orgânica de um teclado e uma guitarra, retoques aqui e ali ecoados por uma voz poderosa, característica onde logo se fez notar Vitoria no primeiro registo de estúdio (2006).
O ADN dos Beach House garantiu-lhes, desde muito cedo, lugar de destaque na imprensa musical norte-americana, mas também no cruzar do Atlântico onde, também no continente europeu, ganharam forte expressão, incluindo-se o significativo clã de admiradores portugueses.
Em menos de uma década, cinco discos editados depois do trabalho de estreia, em intervalos regulares de dois anos. Canções sem localização precisa que fogem à cartilha pop, mas também ao modelo rock. É essa a navegação por que segue a música dos Beach House.
Estão de regresso a Portugal neste 2015, ano particularmente entusiasmado no fulgor musical da dupla americana. Depois de Depression Cherry, apresentado como o trabalho mais negro e introspectivo da banda, e até há pouco mais de um mês tido como o grande centro gravítico dos concertos pela Europa, surpreendem crítica, promotores e fãs com mais um tiro editorial: Thank Your Lucky Stars.
Nove novas canções resguardadas de colagens ou aproximações mais ou menos fáceis ao anterior trabalho, clarificando a rápida convicção de que tratar-se-iam de lados b de Depression Cherry.
Dois discos que respeitam universos temáticos distintos, partilhando, porém, de forma exacta e coordenada, as mesmas condições infinitas de sinónimos em torno de ingredientes com que nos habituámos a descrever esta casa musical. Belo e bucólico, desde logo à cabeça.
Os Beach House esta segunda-feira (23 de Novembro) no Armazém F, em Lisboa. No dia seguinte no Porto, no Teatro Sá da Bandeira.
Beach House – PPP (Depression Cherry, 2015)
Uma das muitas propostas cósmicas viradas para o retratos noctívago dos Beach House, é nesta canção que encontramos o mais imediato selo do som da dupla neste 2015. Também canção com rotação na Antena 3 ao longo das últimas semanas.
Beach House – Beyond Love (Depression Cherry, 2015)
Canção em crescendo, recurso estilístico várias vezes referenciado pela banda nas suas narrativas melódicas, é em Beyond Love que encontramos um dos mais templários e essenciais segredos onde se resguardam os Beach House. Ainda os coros instalados nos refrões com a voz de Victoria atirada para um primeiro plano, nunca em si descurando o celestial reverb apurado nas guitarras que sustentam grande parte do postal sonoro durante os poucos mais de quatro minutos de duração da canção.
Beach House – Majorette (Thank Your Lucky Stars, 2015)
Quebrando a métrica de um disco a cada dois anos, e assumida como a grande surpresa do ano da banda, é do segundo longa-duração que editam neste 2015 que saí uma das canções mais respeitadoras do berço musical da banda. Orbitando entre a amplitude de uma catedral e o pequeno caixote lo-fi, – quase herdado da era da cassete de onde conhecemos o seu som característico- é nos acordes mais ou menos repetidos e na insistência de frases cantadas numa toada mais ou menos homogenia que floresce a canção abertura deste novo disco da banda. Esta aqui certa como uma das canções a encontrar num dos dois concertos da banda por Portugal.
Tiago Ribeiro