Há 25 anos, um disco sacudia consciências e alertava para um novo flagelo: a Sida. Red Hot & Blue, aproveitava o legado clássico de Cole Porter, dava-lhe nova vitalidade e sentido nas vozes de gente como David Byrne, Annie Lenox, Neneh Cherry, KD Lang ou Tom Waits e inaugurava um projeto que se mantém ativo até hoje, muito embora John Carlin, o mentor, confesse que “a Red Hot Organization deve ser a única Organização no mundo que gostava de fechar, mas não pode porque ainda há muito para fazer”. Atualmente são 35 milhões os afetados pela doença em todo o mundo, muitos sem acesso a medicamentos retrovirais.
John Carlin, historiador de arte, advogado, produtor musical, empresário e estratega digital (foi um dos primeiros a investir na criação de apps, ramo a que continua ligado) é o mentor da Red Hot Organization, cuja missão é combater a Sida usando as armas da cultura pop, por assim dizer. Carlin, hoje com 60 anos, era militante da cena artística nova-iorquina nos anos 80, conheceu Keith Haring e perdeu muitos amigos para então “nova doença”. O drama pessoal levou-o a criar a Red Hot Organization e fazer um disco, depois outro… hoje são 19 as coletâneas com selo Red Hot, incluindo uma com musica portuguesa (Onda Sonora – Red Hot & Lisbon e duas de tributo à musica do Brasil (Red Hot & Rio 1 e 2). Há também dois discos dedicados a Fela Kuti (Red Hot & Riot e Red Hot & Fela) o mestre nigeriano do afro-beat que faleceu vítima de Sida em 1997. Mais recentemente saiu uma homenagem a Arthur Russell, violoncelista de formação clássica que teve papel fundamental na cena pós-punk e disco de Nova Iorque antes de sucumbir à doença em 1992. A última edição com selo Red Hot é a primeira dedicada à música clássica, concretamente a Bach, um projeto que Carlin confessa ser o seu preferido por lhe ter dado oportunidade de homenagear a mãe que, em criança, o tentou interessar por música clássica. A diversidade das abordagens e tributos e o arrojo geral da Organização Red Hot, nos discos que edita e nas ações que leva a cabo, são explicadas por Carlin como opções estratégicas: “tendo credibilidade é mais fácil fazer passar a mensagem política”.
Nesta conversa, John Carlin desvenda também alguns pormenores sobre o que será o próximo registo da Red Hot, ainda sem data de edição, mas com trabalhos já em curso. Idealizado por Aaron e Bryce Dessner, dos National (que também estiveram por detrás de Dark Was The Night, a coletânea mais indie da série), o novo disco será um tributo aos Grateful Dead , banda mítica, entre as mais influentes do rock americano (acid rock, psicadelismo, folk, bluegrass…é difícil prendê-los num rótulo). Espalharam a sua mensagem alimentada a LSD entre o início dos anos 60 e 1995 (ano da morte de Jerry Garcia o fundador e “cabeça pensante” dos Grateful Dead) gerando um culto que perdura até hoje. Os seus fãs, conhecidos como Deaheads, seguiam a banda religiosamente nos concertos e afastaram muita gente, Carlin incluído, que admite sempre ter desdenhado os Grateful Dead porque “não queria ter nada a ver com aquele bando de hippies” mas a que se converteu com este novo projeto: “escreveram algumas das melhores canções da música americana do século XX”, afirma convicto.
Podem escutar, em baixo, a entrevista completa ao fundador da Red Hot Organization, John Carlin.