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Imagem de “O Agente Secreto”: entrevista com Kleber Mendonça Filho
Entrevistas 3 nov, 2025, 15:58

“O Agente Secreto”: entrevista com Kleber Mendonça Filho

Imagem de “O Agente Secreto”: entrevista com Kleber Mendonça Filho
Entrevistas 3 nov, 2025, 15:58

“O Agente Secreto”: entrevista com Kleber Mendonça Filho

Candidato à disputa do Oscar, “O Agente Secreto” é a estreia da semana da Antena 3. O filme passa-se em Recife, no Brasil, em 1977. Marcelo (Wagner Moura) é um especialista em tecnologia na casa dos 40 anos e está em fuga. Chega a Recife na semana do carnaval, na esperança de reencontrar o filho, mas logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio não violento que ele procura.

Kenia Nunes conversou com o realizador Kleber Mendonça Filho sobre o filme, a sua relação com os trabalhos anteriores do realizador e a construção da memória e a escavação de arquivos, essencial para o desenvolvimento desta obra que estreia dia 6 de novembro em Portugal.

 

[Kenia]: Na apresentação d’O Agente Secreto” em Lisboa, falaste do facto de haver uma lógica inerente aos países onde os filmes e as obras são feitas. Falaste da lógica do Brasil e de como este filme — e os teus filmes — transbordam também essa lógica. Fala-me sobre o que, nessa lógica, te inspira, que sempre te inspirou, e que estão por trás deste teu filme.

[Kleber Mendonça Filho]: O que eu falei ali, na verdade, repetido em alguns lugares, é subentendido. Mas eu também acho que é uma ideia muito pouco discutida talvez até pela presença muito forte da indústria, a indústria de Hollywood, por exemplo. Quando você vê um filme dos Estados Unidos, ou de Portugal, ou da Austrália, é claro que eles vêm embutidos com uma lógica muito da cultura que os fez. O público no mundo, o público no Brasil, na Europa, meio que assume que o normal é um filme de Hollywood. Isso é algo que eu, como realizador não hollywoodiano, coloco com todos os colegas de todos os países, porque eu já conversei sobre isso, os franceses, os alemães, Portugal não é diferente, nem Espanha.

A lógica de um certo tipo de cinema, como hollywoodiano, ela meio que se sobrepõe a todas as outras lógicas. E, às vezes, eu, nos meus filmes, me vejo na posição de ter que explicar coisas que eu acho que não são tão turvas dessa forma. Eu acho que elas têm a lógica da vida, têm a lógica de uma outra cultura, e eu acho que O Agente Secreto, por mais universal que ele esteja se revelando — tem sido muito bem recebido internacionalmente, no Festival de Cannes… — é um filme brasileiro, e ele conta uma história que é muito brasileira, com uma lógica brasileira, em português do Brasil. Então, talvez era isso que eu estava tentando abordar quando eu o apresentei, mas, no final das contas, é um filme para você ver, se intrigar, se assustar, rir e se emocionar.

[K]: Nos teus filmes, colocas muito do cinema como espaço, mas também como transformação. “O Agente Secreto” tem muito de trauma, do que foi a ditadura brasileira, mas também tem muito daquela beleza de ir ao cinema, de estar numa cabine de projeção. No “Retratos Fantasmas”, traças uma cartografia da cidade do Recife, através desses cinemas que tu habitaste, quando eras criança. Como é que operaste essa transposição do teu cinema (do que viste, do que viveste) para este “O Agente Secreto”?

[KMF]: Eu acho que a cultura, e nós todos fazemos parte da cultura — quando eu falo a cultura, a literatura, a música, o cinema —, tudo isso faz parte da nossa vida. A produção cultural do mundo nos oferece carimbos de tempo. O tempo vai passando e você usa não só pessoas que você conheceu e que você conhece, amizades, amores e também a cultura, para marcar a sua vida. Para mim, a lembrança do cinema, a memória do cinema, da música, ela é indissociável dos tempos da vida que nós temos. A minha vida é marcada por música, por cinema, por livros e por pessoas.

Então, dessa forma, é muito natural para mim escrever um filme que tenha as marcações de tempo a partir de elementos da cultura. Quando eu era criança, nos anos ‘70 — eu era uma criança pequena nos anos 70 —, eu lembro de andar no centro da cidade com a minha mãe, e as salas de cinema que eram muitas no centro da cidade, eram marcadores geográficos e de cultura. Eu, por exemplo, vi “The Omen, A Profecia”, muito antes de eu realmente ver o filme, porque eu via o cartaz do filme, eu via as fotos mostradas do lado de fora do cinema. Eu ficava com medo de olhar o cartaz do “The Omen” e do “Tubarão” também, porque eles vinham carregados de muita fantasia e de imaginação, e eram materiais de divulgação absolutamente espetaculares. E isso fez com que, na minha memória, o centro da cidade fosse quase uma exposição gráfica de materiais de cinema. Então, tudo isso me marcou muito, e para mim é natural utilizar o cinema como marcação de tempo e de textura histórica. A mesma coisa com música. Por exemplo, tem duas músicas do Paêbirú [de Lula Côrtes e Zé Ramalho], que é um grande álbum psicodélico pernambucano, inclusive gravado a não mais de um quilômetro da minha casa, e que não existem coincidências, eu acredito. Fez 50 anos no mês passado, em junho, e tem duas músicas nesse filme que eu sempre quis usar como referências maravilhosas de Pernambuco e dos anos ‘70 em Pernambuco. A música vira quase uma bactéria independente dentro do próprio filme. Eu acho que isso é matéria-prima maravilhosa para eu poder trabalhar e desenvolver o filme. Então, todos esses elementos que você está falando vêm muito naturalmente para mim, porque a nossa vida é marcada por esses elementos de cultura.

[K]: Este filme é uma consequência direta do “Retratos Fantasmas” ou é um objeto completamente paralelo?

[KMF]: É muito difícil explicar, porque os dois filmes são muito diferentes, mas, ao mesmo tempo, o  “Retratos Fantasmas” me deu, de maneira não planejada, os elementos de compreensão histórica e de viagem histórica para eu escrever “O Agente Secreto”. Eu desenvolvi o “Retratos Fantasmas” durante muitos anos, acho que foram sete ou oito anos, e eu me expus a muitos materiais de arquivo, fotografias negativas, fitas antigas, fitas de som. As fitas de som que eu ouvi no “Retratos Fantasmas” me lembraram que a minha mãe, historiadora, vinha para casa quando eu era criança com muitas fitas e um gravador Panasonic, o que explica, talvez, existir um gravador Panasonic n’“O Agente Secreto”. Então, as conexões são muito inesperadas e muito naturais.

O “Retratos Fantasmas” também me levou para um lugar que eu acho incrível no Recife, que é o Arquivo Público Estadual, onde eu passei muitas manhãs olhando jornais antigos, e esses jornais antigos me deram um sentido de época muito forte, de você ver classificados e a página de anúncio dos filmes nos cinemas, a parte da polícia e a parte política, publicidades da época. Tudo isso me lembrou muita coisa e me deu muitas informações novas sobre linguagem, sobre o uso de palavras, sobre a linguagem francamente racista que o jornalismo tinha naquela época, preconceituosa, misógina, homofóbica. Tudo isso construiu um retrato de época que me deu uma segurança muito grande de escrever “O Agente Secreto”. Então, mesmo sendo filmes muito diferentes, eles são irmãos.

[K]: Tu tens um comentário no Letterboxd sobre o Liquorice Pizza, do Paul Thomas Anderson, em que falas sobre como ele consegue fabular as ruas de L.A.. Sentes que é isso que também tens feito com o Recife? Eu nunca fui ao Recife, mas quando vi aquela ponte no filme, n’ “O Agente Secreto”, lembrei-me que já a conhecia do “Aquarius”, d’“O Som ao Redor”.

[KMF]: Eu posso, qualquer realizador ou realizadora pode… Uma realizadora que mora no Porto pode transformar o Porto numa cidade absolutamente cinematográfica, e que alguém na Austrália veja um filme e diga o Porto. Eu nunca fui no Porto, mas já fui no Porto por causa desse filme. Eu acho que o “Liquorice Pizza”, o “Once Upon a Time in Hollywood”, o “Zodíaco”…! Eu acho que o “Zodíaco” foi o filme que eu mais discuti com os amigos quando eu estava fazendo “O Agente Secreto”, porque é um filme do David Fincher que é sobre um assassino em série, mas, na verdade, o que mais me interessa no filme é a maneira como ele reconstruiu São Francisco de quando ele era criança, de quando ele tinha, sei lá, 10, 11, 12 anos. Eu acho fascinante você pegar todo aquele dinheiro e reconstruir a cidade de uma lembrança. Não é só a sua lembrança, tem pesquisa histórica também, mas a sua lembrança é a que vai dar coração àquilo. E eu me sinto totalmente à vontade de fazer a mesma coisa com o Recife.

[K]: Queria pegar aqui duas personagens muito paradigmáticas do teu filme: a primeira é a Dona Sebastiana, a atriz Tânia Maria, que nós já conhecemos um bocadinho no “Bacurau”, que eu acho que, por aquilo que se sentiu na sala, tornou-se na personagem preferida de toda a gente. Em contraposição, temos o Dr. Euclides, nessa figura muito bruta, intensa, vil, enfim, fascista. Como é que foi a construção de cada uma delas em polos opostos?

Tânia Maria é uma grande, grande pessoa, e uma grande atriz, que não é tecnicamente uma atriz profissional, mas eu diria que ela é, agora. Ela tinha trabalhado com a gente em “Bacurau”, onde ela foi, claro, maravilhosa, tem uma fala em Bacurau que todos lembram (“Que
roupa é essa, menino?”). Eu escrevi Dona Sebastiana pensando muito em Tânia, sem saber se ela poderia ou gostaria de fazer o filme. Então, quando ela não só disse sim para o filme, mas eu entendi que ela seria incrível no filme, foi um grande momento de felicidade. Eu adoro ela no filme e adoro trabalhar com ela absolutamente. Ela é muito Dona Sebastiana mesmo. Eu escrevi dois papéis no filme, um para a Wagner [Moura] e um para a Dona Sebastiana, para a Tânia. O Dr. Euclides é muito carismático, porque o Robério Diógenes é muito carismático. E o Euclides é muito interessante, ao mesmo tempo em que ele é um fascista. Ele também tem uma coisa que eu identifico em algumas pessoas da extrema-direita, é que elas não entendem muito bem o que acontece e têm conclusões muito equivocadas, como, por exemplo, a relação dele com o alfaiate alemão Hans. Ele não entende que Hans é, na verdade, um refugiado da Segunda Guerra Mundial. Então ele assume que Hans foi um grande soldado… Um herói de guerra. Um herói de guerra da Alemanha. E eu acho tudo isso muito terrível, e muito engraçado, muito humano e muito brasileiro. E eu acho que o Euclides é um personagem que eu gosto muito, não obstante o fato de ele ser um filho da puta.

[K]: Ultimamente, tem havido cada vez mais destes filmes que retratam estes traumas da ditadura. O “Marighella” que, inclusive, é do Wagner Moura, que foi censurado no Brasil, saiu dois anos depois daquilo que seria suposto. Depois, obviamente, o “Ainda Estou Aqui” também tem ganhado louros mundo fora. E agora “O Agente Secreto”, que, como disseste, ganhou variadíssimos prémios em Cannes, que está a fazer uma tour internacional…

[KMF]: Eu acho que há um subgênero do cinema brasileiro e argentino que investiga um período militar de ditadura. Os americanos fizeram isso com A Guerra do Vietnã, nos anos 1980. Era quase assim, “Uau, outro filme do Vietnã…”. Claro que muitos filmes bons foram feitos.
“Apocalipse Now”, “Full Metal Jacket”, acho que são dois grandes destaques. Essa é uma época do Brasil muito interessante de observar, porque, recentemente, tivemos uma volta a uma certa sensação que eu achava que tinha sido aposentada, uma certa nostalgia da própria
ditadura, que é inimaginável, eu acho, para muita gente, muitos brasileiros, inclusive eu mesmo.

No filme do Walter aconteceu uma coisa muito incrível, porque eu fico sempre achando que a história faz parte da nossa formação, mas eu vi mesmo uma sessão do “Ainda Estou Aqui”, no Recife, onde duas amigas jovens, de 15 anos ou 16, onde uma falou para a outra: “Poxa, mas
eu não sabia que tinha sido tão ruim assim”. E aí você entende, que sim, para além de ser um belo filme, tem uma função educativa, didática, porque, pelo menos, elas não duvidaram do que viram no filme, o que eu já acho que é um ganho. Então, eu acho importante, qualquer filme que olha para a história, obviamente teremos os filmes ruins, os filmes bons e os filmes que são medíocres, mas é possível também fazer e contar grandes histórias a partir da história do seu país. Adoro o filme da Maria de Medeiros sobre a Revolução dos Cravos [“Capitães de Abril”]. É um filme que eu lembro com muito carinho sobre a história de Portugal. Acho que a História é uma fonte inesgotável de história.

[K]: Tanto que “O Agente Secreto” acaba por fazer uma ponte muito direta entre passado e presente. Aliás, eu sinto que há assim um corte quando passamos para o presente. Fiquei tipo, afinal ainda estamos aqui! Como foi fazer essa opção narrativa, da oposiçãodo passado e do presente através de um exercício de transcrição da história, do Arquivo.

[KMF]: Eu acho que contar o filme sem a participação do presente seria quase como se fosse um filme flat, 2D. Quando entra o presente e a perspectiva do futuro para o passado, o filme fica 3D. Nós estamos tendo essa conversa aqui, mas essa conversa, se ela sobreviver nos arquivos daqui a 57 anos, ela vai ter um valor completamente distinto do valor de ela ser ouvida quando você publicar isso aqui, porque teremos um peso muito grande de tempo, de história, sobre essa conversa, sobre mim e sobre você.

O arquivo expõe uma carga muito forte, eu acho, que ressignifica o que nós vimos. Eu espero que nada disso seja intelectual demais, mas eu acho que basicamente é uma questão de amplificar e fortalecer a história que foi contada. Porque você está muito envolvido em ‘77, mas
você descobre que ‘77, na verdade, é um pingo no tempo. E aquelas pessoas já morreram, e a vida seguiu. E isso é o mundo. É triste, mas esse é o mundo.

[K]: Espero não soar demasiado bisbilhoteira mas, no final, vi-te a bater umas bolas com o Sérgio Godinho, um dos nossos grandes compositores. No início falávamos dessa “lógica” — já percebi que não é essa a palavra que mais gostes para o descrever —, mas repito-a: qual é a “lógica” que aprecias em Portugal?

[KMF]: Quando eu venho a Portugal, tenho uma sensação muito forte de que eu estou na casa dos meus avós. E eu falo isso para o bem e para o mal. Eu gosto do som do português de Portugal. Eu gosto… Eu gosto do cinema português, que é um cinema que não parece estar preocupado em ser popular, que é uma forte fonte de crítica em Portugal em relação ao próprio cinema português. Eu gosto de lembrar de uma sessão de “O Porto da Minha Infância” [do Manoel de Oliveira], que eu vi em Santa Maria da Feira, no norte de Portugal, uns 20 anos atrás, e que teve um impacto muito grande em mim. E eu fui e fiz um filme parecido chamado “Retratos Fantasmas”. Eu gosto da comida em Portugal. Eu gosto de reclamar da TAP que, na verdade, não é uma empresa aérea ruim. Eu gosto de ouvir os portugueses. Eu gosto de conversar com portugueses. Não sei, eu gosto de muita coisa em Portugal. E os portugueses parecem começar a ter uma sensação de que agora eles estão sendo colonizados pelo Brasil, que vem acontecendo desde as novelas, nos anos ‘70. Eu acho delicioso. Para o bem e para o mal.

 

 

Kleber Mendonça Filho O Agente Secreto
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