No segundo álbum em nome próprio, a ex-Chairlift faz a pop avançar no sentido do futuro com canções inteligentes e sofisticadas que combinam elementos de vários universos musicais.
Nota: Foram contempladas as edições entre 16 de novembro de 2022 e 30 de novembro de 2023.
Jorja Smith confirma ser uma das vozes mais intensas e interessantes da cena soul/jazz britânica. Falling or Flying, o segundo álbum, aborda a sua relação ambivalente com a fama.
Sessenta anos de carreira, 80 de idade, e continua a ser um dos personagens mais relevantes da música popular. Mercy é o 17.º álbum do ex-Velvet Underground.
Depois de algumas fantasias espaciais afrofuturistas, Janelle Monáe mergulha num oásis de sol e sensualidade, acompanhada de convidados notáveis como Sean Kuti e Grace Jones.
Anohni reativou a sua banda para fazer um disco intenso e atormentado, inspirado na soul mais clássica. Dez canções fortes, de sofrimento e redenção, na voz única e dramática de Anohni.
O primeiro álbum do cantor de Bala Desejo nasceu durante a pandemia de COVID-19, em concertos nas escadas do prédio onde vivia, no Rio de Janeiro. É um lote de delicadas canções em formato voz e violão.
Todos esperavam hip hop, mas André 3000, metade dos Outkast, trocou as rimas e os beats pela flauta e entrou no multiverso da música ambiente e do jazz espiritual. Inesperado e absolutamente surpreendente.
Também elemento de Bala Desejo, Julia Mestre gravou o segundo álbum em ambiente doméstico, misturou vários estilos e referências musicais e até convidou a portuguesa MARO para uma canção.
O álbum de estreia do trio de Los Angeles foi lançado em duas partes, é uma obra de arranjos vocais e musicais esplendorosos, canções que devem ao gospel e à soul e soam tão atuais como intemporais.
Canções neo soul com influências do R&B passado. Heaven foi o primeiro de dois álbuns lançados pela vocalista oficial dos Sault em 2023. É um disco de crescimento e autocuidado, envolvente e pacificador.
Mitski trocou a synth-pop mais efervescente pela folk orquestral e assinou um álbum intimista sobre o amor e os seus ciclos. Gravado entre Los Angeles e Nashville, é o mais americano dos discos da compositora de origem japonesa.
São uma das bandas mais emblemáticas da cena shoegaze britânica e continuam hipnóticos. Everything Is Alive é o quinto álbum dos Slowdive, o segundo depois do regresso aos palcos em 2014.
O segundo álbum da britânica Arlo Parks tem, segundo a própria, as canções mais pessoais. É como um diário de dores e aspirações do processo de crescimento e tem mensagens individuais fortes em formato pop refinada.
Um disco que funciona em simbiose com um livro de poesia, de titulo Orlam, adaptando alguns dos seus poemas. Polly Jean Harvey apresenta uma versão muito pessoal de uma certa tradição folk britânica.
Lana del Rey já tinha provado ser uma das grandes escritoras de canções da atualidade. No nono álbum, explora as temáticas da família e da autossuperação na companhia de gente como Jack Antonoff e Father John Misty.
Com apenas 20 anos, Olivia Rodrigo é já uma superestrela pop. No segundo álbum, expõe as suas dores de crescimento em canções pop enérgicas, com atitude quase punk.
Foi metade de Charles & Eddie, nos anos 90. Trinta anos depois, é uma das vozes mais cativantes da música atual. Sundown é o segundo álbum de Eddie Chacon, foi gravado entre Los Angeles e Ibiza e tem produção de John Carrol Kirby.
Estreia luminosa, a deste baterista e produtor, uma das figuras mais importantes do novo jazz britânico. Um disco dominado pelo groove imparável e complexo da bateria de Yussef Dayes.
Boygenius são Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus, um supertrio indie rock. No álbum de estreia, gravado durante a pandemia, harmonizam ideias e vozes em canções de amor e amizade.
Yves Tumor é uma das personalidades mais desafiantes da música atual e, no quinto álbum, reforça a ideia de enfant terrible, combinando eletrónica com influências glam rock e pós-punk.
Playing Robots into Heaven, o sexto álbum de Blake, é um disco em que o produtor, cantor e músico britânico regressa de algum modo às origens dubstep, com ambientes densos e texturados, vozes ragga e beats incisivos a ganharem primeiro plano. As baladas melancólicas e assombradas, decisivas para a ascensão de James Blake ao megaestrelato pop, também lá estão. Uma delas, “I Want You to Know”, cita “Beautiful”, de Snoop Dogg e Pharrell Williams, mas, ainda assim, o ambiente geral é de clube. Um clube escuro e com fumo, que funciona a bpm moderadas, mas onde também há explosões pensadas para incendiar a pista de dança, como acontece em “Tell Me”.
Os Jungle — os britanicos Josh Lloyd Watson e Tom Mcfarland — têm o que podemos considerar uma carreira incólume e uma fórmula infalível: traduzem o espírito dos tempos com ferramentas atuais e referências do passado e colocam o groove no centro da questão. Volcano é o seu quarto álbum e tem tudo o que se espera de um disco de Jungle: pop enérgica e inventiva, com base rítmica bem vincada e ecos de soul, produção cuidada e efeito calculado para não deixar ninguém quieto. Desta vez, as responsabilidades vocais estão dividas com convidados como Roots Manuva, Channel Tres ou Erick the Architect.
O quinto álbum de Natalie Mering como Weyes Blood é o segundo capítulo numa trilogia que começou em Titanic Rising e ainda não terminou. No álbum anterior, Mering falava da iminência da catástrofe; neste And in the Darkness, Hearts Aglow, já estamos no centro do furacão, a lidar com o caos. Julgando o disco só pela forma e melodia, ninguém diria. O ambiente é onírico, as canções são orquestrais e elegantes, e a voz de Weyes Blood é extraordinária e envolvente. Natalie Mering consegue fazer soar doce a mais profunda inquietação, talvez porque acredita que o caos faz parte da existência, tal como a tendência para a ordem, o que a torna uma figura apaziguadora, mesmo quando aborda os assuntos mais trágicos. Quando Weyes Blood canta, até os dramas soam a bênçãos.
Groove disco, canções R&B e pop eletrónica para nos prender à pista de dança. That! Feels Good! é o quinto álbum de Jessie Ware, um disco com espírito retro, inspirado na música de dança dos anos 70, quando divas de voz poderosa, tal como Jessie Ware, eram acompanhadas por esplendorosos arranjos orquestrais, alimentando assim a febre de sábado à noite nos clubes noturnos. Jessie Ware adapta a fórmula ao presente de forma sofisticada e certeira e defende o seu papel de nova diva disco sem hesitar. A canção-título é um hino à liberdade e ao prazer e usa, na abertura e no refrão, vozes de alguns notáveis, como Kylie Minogue, Róisín Murphy ou a atriz Gemma Arterton.
Ana Frango Elétrico é na realidade Ana Maria Fainguelernt. A dificuldade em pronunciar o último nome levou à adaptação livre para Frango Elétrico, algo que teria acontecido originalmente com o avô, nos tempos de faculdade, mas que Ana decidiu recuperar, décadas depois, como entidade artística. Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua é o terceiro álbum da cantora de 26 anos nascida no Rio de Janeiro e saiu pela editora britânica Mr Bongo. É um disco surpreendente, de canções efervescentes — mais uma pérola que nos chega do Brasil, revelando a grande diversidade musical que por lá germina.
Para banda virtual, os Gorillaz têm uma carreira muito real. Cracker Island é o oitavo álbum da banda inventada por Damon Albarn, dos Blur, e Jamie Hewlett, o criador da banda desenhada Tank Girl. Chega-nos 22 anos depois do álbum de estreia e tem convidados de elite como Thundercat, Tame Impala, Bad Bunny, Beck ou Stevie Nicks, o que atesta bem o estatuto adquirido pelos “bonecos”. No disco, ouvem-se pedaços de hip hop, ecos de dub, groove funk, melodias redondas e até uma aproximação lenta ao reggaeton. Como é habitual nos Gorillaz, há um conceito: Cracker Island é uma ilha de fantasia onde vive um culto que prende os seguidores num falso paraíso — uma alusão, segundo Albarn, às pessoas que decidem unir-se em grupos fechados, protegidas numa bolha de realidade alternativa. O disco está cheio de canções frescas sobre a insatisfação com o mundo. “Oil”, por exemplo, é sobre a guerra, tem voz de Stevie Nicks, mas, aparentemente, a primeira opção tinha sido Julian Casablancas. Damon Albarn afirmou que não acreditava que a lendária cantora dos Fleetwood Mac aceitasse colaborar com a banda, mas estava enganado… Stevie Nicks até quis ser retratada como personagem do universo Gorillaz.
Os Black Pumas — os texanos Eric Burton e Adrian Quesada — assinaram em 2019 um álbum de estreia tão marcante, que lhes valeu elogios no mundo inteiro e várias nomeações para os Grammys (acabaram mesmo por ganhar o de melhor novo artista). Chronicles of a Diamond foi por isso feito sob pressão, como acontece sempre com os diamantes e com os segundos álbuns de bandas com estrelas brilhantes, mas é um disco que cintila com luz própria e intensa. Para o fazer, a dupla teve de se desligar do ruído e das expectativas e focar-se simplesmente em fazer música que cumprisse as suas próprias exigências. Os Black Pumas continuam fiéis ao revivalismo soul psicadélico que fez a sua estreia tão especial, mas as canções de Chronicles of a Diamond têm novas cores e polimento extra — são outro tipo de diamante, igualmente precioso.
Javelin, o décimo álbum de Sufjan Stevens, foi editado depois das mortes do pai e do companheiro do cantor e de um internamento hospitalar que o obrigou a reaprender a andar. É um disco íntimo e emotivo, assombrado pela perda, pela incerteza e por todas as inquietações existenciais que nos atormentam em momentos difíceis, mas as canções têm uma luz intensa, que se manifesta às vezes com delicadeza extrema, outras em explosões contidas. Da folk mais espartana aos arranjos quase barrocos, o novo álbum de Sufjan Stevens parece feito para partir o coração e confirma-o como um dos grandes cantautores deste século.
O título diz muito. No Thank You — não, obrigada — é uma afirmação forte e dá nome ao quinto álbum de Little Simz, cantora britânica de origem nigeriana que também conhecemos dos Sault e da série de TV Top Boy. Little Simz não está interessada em facilitismos ou ilusões, por isso diz No Thank You. Ela conhece bem as injustiças do mundo e as fragilidades do ego e chama-as pelo nome, disparando tiros certeiros em várias direções. Não é fácil prender a sua música num rótulo: Little Simz assimila e devolve influências que vão do rap à música orquestral e à soul clássica, um puzzle onde tem sido fundamental a presença de Inflo, o produtor de Sault que a tem acompanhado também na carreira em nome próprio. No Thank You saiu escassas semanas depois de o aclamado Sometimes I Might Be Introvert ter recebido o Mercury Prize e fala de saúde mental, desigualdade social e racismo, mas também de desconfiança na indústria musical e vitórias pessoais.
Conhecemo-los da britpop dos anos 90, mas, trinta anos depois, mostram continuar relevantes, ainda que longe do entusiasmo quase juvenil do início. The Ballad of Darren é o nono álbum dos Blur, o primeiro em oito anos. Um disco que Damon Albarn considerou de “pós-choque”, com canções escritas durante a pandemia e no rescaldo da morte de vários amigos próximos, como Bobby Womack, Tony Allen, o tour manager e também o guarda-costas da banda. Albarn não tem medo de expor as suas fragilidades em canções de perda e desgosto, mas as suas palavras de tristeza e melancolia ganham outras dinâmicas no diálogo musical dos Blur, que tanto lhes dá colo em arranjos e harmonias suaves como as sacode com energia e distorção. Os Blur estão mais velhos e não querem escondê-lo, embora ainda se lembrem de quem já foram e mantenham alguma proximidade com a britpop original.