O cubano Cimafunk – e a sua potente banda – foi o nome que fechou no dia 26 de julho mais um dia do Festival Músicas do Mundo, em Sines. Nesta 22ª edição, que arrancou em Porto Côvo no dia 22 de julho, o artista de 34 anos, já apelidado pela crítica de “James Brown cubano”.
Cimafunk veio mostrar os ritmos do seu último disco, editado em 2021, “El Alimento”, um disco que cruza os ritmos cubanos com que o músico cresceu com o funk e a soul norte-americanas. Inspirações que lhe permitiram chegar a nomes como CeeLo Green, Lupe Fiasco ou George Clinton (mítico líder dos Funkadelic), todos eles nomes presentes neste “El Alimento”.
Em palco, Cimafunk é tudo aquilo que prometeu durante a entrevista com a Antena 3: “Muita energia”, disse o cubano. A noite no Castelo de Sines terminou com o palco carregado de ginga, mãos na cintura, e muitas pessoas da plateia que foram chamadas para irem dançar com o músico.
Antes disso, Rokia Koné: do Mali para Sines, a “rosa de Bamako”, que editou recentemente Bamanan, com o selo da Real World Records e produção de Jacknife Lee, deixou o convite à agitação dos corpos com as suas novas e velhas canções, todas elas muito assentes na tradição griot, mas com um olhar mais contemporâneo: o de uma mulher de 39 anos que tem uma visão do presente, que apela à paz, à igualdade e ao respeito pelas mulheres.
Três mulheres diferentes; três cantoras da mesma raça
A tarde/noite, em Sines, começou com uma figura maior da nova música portuguesa: às 18h começaram a ouvir-se os primeiros acordes de A Garota Não que cumpriu, em 2023, um sonho que, de certa forma, Cátia Mazzari de Oliveira nem sabia que tinha.
A cantora e compositora de Setúbal tem sido, durante muitos anos, espectadora presente nas plateias do Festival Músicas do Mundo. “Nunca tive essa pretensão de estar neste palco”, confessou, timidamente, em entrevista à Antena 3 depois da atuação perante um Castelo cheio, cheio de sol, que com as canções de 2 de Abril, ficou ainda mais iluminado.
Acompanhada pelo guitarrista Sérgio Mendes e pelo baterista e percussionista Diogo Sousa, A Garota Não cantou o Portugal de 2023, com a força da pena a fazer lembrar outros autores de outros tempos que cunharam o estilo da “canção de intervenção”. Emocionou a plateia e também se deixou emocionar.
A noite continuou cheia de emoções, com mais duas mulheres no Palco do Castelo: primeiro Carminho, que trouxe o fado a um festival com a tradição da música do mundo – com todo o sentido, claro. Não sendo uma casa de fados, e perante uma plateia muito bem recheada, Carminho levou o público numa viagem pela sua história e pelas suas histórias: a chegar-se à frente, a narrar e até muitas vezes a entrar em diálogo com um público que vem ao Castelo para abraçar as propostas que estão no palco – independentemente do género.
Da mesma forma que a plateia baila ao som de Cimafunk; se agita ao som de Rokia Koné; reage às palavras de A Garota Não; ou faz silêncio para escutar o fado de Carminho; também sabe reagir ao turbilhão de emoções que Lila Downs, multi-galardoada cantora mexicana, trouxe a Sines.
Um espectáculo carregado de cumbias, boleros, rancheros, às vezes mais festivo, outras vezes mais contemplativo, sempre com muita alma de luta, de intervenção e de apelos, como fez questão de explicar à Antena 3 em entrevista antes do espetáculo. “As canções sobre os direitos das mulheres é algo que eu ando a cantar há mais de 20 anos”, sorriu. “Por muito que ache que não há uma grande mudança, fico contente que agora haja muitas mais pessoas a fazê-lo”, disse Lila Downs em conversa com Raquel Morão Lopes.
A Antena 3 continua em Sines até ao último dia do Festival Músicas do Mundo 2023. Com emissões em direto sempre depois das 21h, com Luís Oliveira, Raquel Morão Lopes e Bruno Martins, com produção de Filipa Ramos.
Fotos: © CM Sines