Se o amor falasse, era a “Time Moves Slow” que cantava. Do belíssimo novo disco dos BADBADNOTGOOD, IV, e com a voz inconfundível de Samuel T. Herring, a canção que criaram vai até às esferas do espaço e do tempo para nos dizer que afinal, só damos conta destas duas dimensões quando nos encontramos com a solidão.
“Time Moves Slow” foi uma canção que demorou um dia a ser composta pela banda canadiana e que, depois de enviar o instrumental a Sam Herring, ficou sem palavras com o resultado. A verdade é que nós também.
A amizade entre a banda de hip hop instrumental e o vocalista dos Future Islands deu-se entre encontros ocasionais e profissionais, há cerca de dois anos, e resultou numa fusão de talento, emoção e sofisticação a que poucos podem igualar-se.
O improviso livre de inspiração jazz e ritmo marcado pelo experimentalismo trabalhado dentro da cena do hip-hop, vale aos BADBADNOTGOOD e a Sam Herring o lugar número um no pódio das melhores trinta canções internacionais do ano. Que o tempo ande sempre depressa para os BADBADNOTGOOD, ao ritmo de “Time Moves Slow”.
Na 3, somos todos diferentes, mas temos todos, também, parte do coração no indie-rock. Não deixamos de entender que o mundo digital vive em sintonia com o real, com o cultural e claro, com o musical e é também por isso que para nós, os Car Seat Headrest merecem lugar de destaque nesta lista.
A banda que começou por ser um projeto a solo com Will Toledo aos comandos, num banco de trás de um carro, lançou virtualmente onze discos desde 2010 e em 2015 assinou com a Matador Records. Do novo Teens Of Denial, segundo álbum gravado, de facto, em estúdio, surge “Fill In The Blank” que faz jus ao vídeo e à mensagem a passar.
É-nos dada a possibilidade de preencher os espaços em branco, sempre numa dinâmica Do It Yourself e relembrando as origens dos Car Seat Headreast. Na recuperação de material antigo, “Fill In The Blank” é amor ao rock, numa canção que é honesta, orelhuda e consciente da sua geração. Para a Antena 3, está em segundo lugar nas melhores canções internacionais de 2016.
Chegamos ao pódio das melhores canções internacionais de 2016. Para Brandon Paak Anderson, agora conhecido por Anderson.Paak, a vida nem sempre foi generosa. A infância atribulada e a juventude pouco estável tornaram-no num artista onde a questão do tempo, desde cedo preciosa para si, serviu de base conceptual para o tema “Am I Wrong”, que fala sobre aquilo que Anderson.Paak sempre valorizou – o tempo, a vida, as oportunidades.
Do disco Malibu, o homem que acredita no destino e que sabe que só se tem direito a uma primeira boa impressão, leva de “Am I Wrong” a dúvida existencial que Schoolboy Q ajuda a decifrar, neste tema de apresentação do novo disco. “Am I Wrong” de Anderson.Paak, é para nós, precioso, e leva por isso o lugar de bronze nas melhores canções internacionais do ano.
Nem todas as separações terminam em desgosto; há sempre quem dê asas à criatividade e mostre que depressa e bem, também há quem. Os Whitney, que resultaram da divisão dos Smith Westerns, gravaram o disco de estreia este ano e começaram logo em digressão, apresentando como single o tema “No Matter Where We Go”. Bem ao jeito do indie pop com inspiração folk psicadélica, “No Matter Where We Go” é um hino à boa disposição e ao amor leve e solto, sem pensar no dia de amanhã. O vídeo para o tema dos Whitney remete-nos também para isso, para as maravilhas das paixões da adolescência, ao som de acordes simples, despretensiosos e eficazes. “No Matter Where We Go”, dos Whitney, está na listas internacionais das melhores canções do ano e para nós, é também uma das preferidas. Está em quarto lugar nos melhores temas de 2016.
Andrew Bird começou por nos avisar que vinha aí mais um disco incrível, quando lançou o tema “Lef Handed Kisses”, na companhia de Fiona Apple. Pouco tempo depois, começávamos a ouvir “Roma Fade” tocar no rádio, naquela que seria uma canção brutalmente pessoal. “Roma Fade”, de Andrew Bird, está no disco Are You Serious, que é, por si só, um disco repleto de testemunhos autobiográficos, mas a canção em si fala sobre um momento inesquecível: o momento em que Andrew Bird viu a mulher com a qual, mais tarde, viria a casar. Para Bird, foi ali, no Beacon Theatre, em plena Broadway, que a vida mudou e que soube que um dia, haveria de escrever uma canção para aquele momento. Assinada por um romântico incurável, “Roma Fade”, de Andrew Bird, está em número cinco, nas melhores trinta canções internacionais do ano.
Foi um dos temas que mais rodamos na 3 durante 2016. Alternativamente pop, é uma das canções que mostra o que acontece quando se juntam três talentos num só estúdio só. case/lang/veirs é Neko Case, k.d. Lang e Laura Veirs, que numa dinâmica de supergrupo, revelam-nos o mais bem guardado segredo – a cumplicidade.
“Best Kept Secret” é o resultado de influências folk americanas, numa canção regada a amizades de longa duração e com potência de três vozes indie-folk femininas. Uma canção com pés e cabeça, que condensa em si várias texturas musicais, em elementos que vão dos violinos aos instrumentos de sopro. Para a 3, “Best Kept Secret” é a sexta melhor canção de 2016!
Se falamos numa atitude rock ‘n’ roll, não podemos deixar de pensar nos Last Shadow Puppets.“Bad Habits” foi o tema que nos fez arregalar os olhos e ter a certeza que 2016 não iria terminar sem vermos a luz do dia do segundo e finalmente editado novo disco dos Last Shadow Puppets.
Alex Turner e Miles Kane, símbolos do indie-rock britânico e num estilo retro-arrojado, mostram como os maus hábitos nem sempre dão mau resultado. Para a Antena 3, “Bad Habits” é sétima melhor canção de 2016, ou não fosse este, também, um disco com carimbo da 3.
Angel Olsen era uma menina quando a ouvimos cantar pelas primeiras vezes. De cabelo loiro, olhar no chão e atitude um tanto tímida, 2016 acabou com tudo isso e trouxe-nos, felizmente, uma Angel Olsen mulher. Agora, já diz em voz alta “Shut Up, Kiss Me” com a certeza de quem sabe o que quer.
O tema é o single para o novo disco My Woman, que nos dá já uma imagem mordaz da menina-agora-mulher Angel Olsen. No vídeo, o cabelo loiro dá espaço para as metamorfoses, havendo cabelo de tantos outros tons. São os sinais dos tempos, em evoluções bonitas de ver e ouvir. Para nós, “Shut Up, Kiss Me” é a oitava melhor canção do ano
Frank Ocean regressou e com o novo disco Blonde, apresenta alguns segredos escondidos que só depois de várias escutas parecem fazer sentido. Não é, no entanto, o caso de “Pink + White”, canção que apaixona à primeira, ou não fosse essa canção, ela mesma, reflexo de pensamentos poéticos nostálgicos, presos ao som das primeiras gravações de Frank Ocean. Desta vez, e neste tema, à capacidade vocal de Frank Ocean, juntam-se as harmonias maravilhosas da estrondosa – embora aqui discreta, voz de Beyoncé, que tornam todo um verso, numa composição artística de um elegante calibre. Porque nem sempre é preciso rugir, “Pink + White” é para nós, a melhor décima canção de 2016.
O décimo lugar nas melhores canções internacionais do ano pertence aos franceses M83, que voltaram a pegar nos sintetizadores para um tema que, à partida só pelo nome, incentiva à ação. O projeto de Anthony Gonzalez apresentou o novo e sétimo disco Junk através do single “Do It, Try It”, que acabou por continuar a rodar na 3 durante a segunda metade do ano. Se os anos 80 são tendência, a banda que desde cedo se inspirou no som dos Bloody Valentine ou Tangerine Dream, está na moda ao som de várias facetas nestes novos temas. “Do It, Try It” é a aventura nostálgica do som elétrico dos M83 e merece, por isso, lugar no top dez dos melhores temas do ano.
Ao cair do pano de 2016, os The XX ainda chegaram a tempo de ter um single a figurar na nossa lista de Melhores Canções Internacionais do ano. “On Hold” saiu este mês de dezembro e fica a apenas uma canção de chegar ao Top 10. “On Hold” é o primeiro tema a ser retirado do próximo álbum do trio e mostra a banda em tons musicais mais claros e extrovertidos. “On Hold” é uma canção em diálogo, sobre a maturidade do amor, de uma mulher que deixou de esperar por uma relação prometida e do homem que percebe que não a tem à espera.
É seguramente um dos maiores sucessos do ano. Drake e o seu “Hotline Bling” chegam ao 12º lugar da tabela. O tema r&b chega ao final do ano com mais de 1,05 mil milhões de visualizações. O crédito, esse, vai não só para a música R&B minimal sobre as saudades de chamadas…nocturnas, mas também para o vídeo que mostra Drake a dançar de gola alta, em movimentos suaves que se tornaram extremamente virais e geraram milhares de Memes. Na era das Redes Sociais, “Hotline Bling” é uma espécie de clássico imediato.
Chegamos ao 13º lugar da tabela, para ouvir Mayer Hawthorne. O segundo single do álbum Man about Town é claro na declaração de intenções contida no título: “I want a love like that”. O título da canção é repetido em refrão enérgico e Mayer vai descrevendo o tipo de amor que quer para ele. Soul feliz com pés leves, de disco. Difícil, mesmo, é não dançar.
Passamos para a escuridão do álbum Blackstar, de David Bowie. “’Tis a Pitty She Was a Whore” foi originalmente editada em 2014, sendo depois re-gravada para fazer parte do derradeiro álbum de Bowie, editado no início deste ano. A faixa tem o nome de uma peça dos século XVII, da autoria de John Ford e inspira-se na “chocante crueza da Primeira Guerra Mundial”. Violência, brutalidade, Jazz e uma impressionante carga dramática. É “’Tis a Pitty She Was a Whore”, de David Bowie.
Quando lá atrás dizíamos que os anos 80 foram inspiração para muitas das canções desta lista, não estávamos a mentir. Chegados ao número 15 da tabela, encontramos mais um desses casos, com a brasileira Mahmundi e o seu “Hit”. Em “Hit”, Mahmundi canta a paixão de sorriso nos lábios, em pop-eletrónica doce com tons de reggae. O tema faz parte do disco homónimo, o primeiro longa-duração da cantora brasileira, Marcela de nome verdadeiro, depois de dois EPs.
“Nobody Speak” é provavelmente o tema que mais se destacou no regresso de DJ Shadow aos discos. A faixa é retirada de The Mountain Will Fall e conta com a colaboração da dupla Run The Jewels. “Nobody Speak” traz boom-bap e sopros funk e ganhou fôlego com o videoclipe oficial. Inspirado no momento de eleições norte-americanas, mostra uma sala de reuniões com políticos ficcionados de vários locais do mundo que começam numa batalha rap com a letra de El-P e Killer Mike e acabam em luta uns com os outros. Sobre o vídeo, o rapper Killer Mike disse mesmo: “gostava que a Hillary e o Trump fizessem isto, para acabar de vez com isto”.
O projeto Nite-Funk junta Nite Jewel a Dâm Funk e chega ao 17.º lugar da lista de Melhores Canções Internacionais para a Antena 3 com “Let Me Be Me”. Juntos foram aos anos 80, inspiração para muitas das canções que por aqui têm passado, e trouxeram de lá o funk. “Let Me Be Me” faz parte do homónimo EP de estreia de “Nite-Funk”, é festiva e descontraída. Feita para dançar de laca no cabelo armado.
Voltamos a mudar a agulha e entramos no décimo oitavo lugar com “Real Love Baby”, uma declaração de amor confessional, na voz de Father John Misty. Aquele que é o primeiro single do músico desde o aclamado álbum I Love You, Honeybear é uma deliciosa balada sem vergonha. Father John Misty está a trabalhar num terceiro álbum, mas confirmou que “Real Love Baby” não fará parte do seu próximo trabalho.
Em décimo nono lugar estão os Disclosure com “Feel Like I Do”. O tema é considerado uma colaboração com Al Green, a quem foram buscar partes do tema “I’m still in love with you”, repetidas vezes sem conta neste “Feel Like I Do”. Retirado do EP Moog for Love, segue a tradição dos manos Lawrence que juntos gostam de “brincar” com vozes soul poderosas, trazendo assim a alma para as pistas de dança. Disclosure, com “Feel Like I Do”.
Abrimos o Top 20 de canções internacionais do ano com a leveza pop com raízes rap de Beck e “Wow”. Beck lançou este single no passado mês de junho e revelou ao radialista Zane Lowe que foram os filhos que o convenceram a editar o tema. “Wow” faz parte do próximo álbum de Beck e conta com batida viciante, ainda que possa soar estranha à primeira audição. Espere-se, assim, o inesperado do músico norte-americano. Até às novas canções, oiça-se “Wow”.
O título não aposta na subtileza para fazer passar a mensagem. Kiwanuka conta a sua história, a de um homem negro num mundo branco e faz uma crítica ao “privilégio branco” resumindo-a numa frase: “sou um homem negro num mundo branco”. É uma constatação de factos de um homem que não está zangado, mas sim triste com o estado do mundo, cantada com a alma que Kiwanuka nunca perdeu. Em vigésimo primeiro lugar: Michael Kiwanuka – Black Man in a White World”.
A faixa, incluída no aclamado Lemonade, mostra o lado mais rock de Beyoncé, que foi buscar Jack White, também produtor do tema, para a ajudar a criar esse ambiente. Lemonade é um álbum conceptual que relata, segundo a própria, “a viagem de uma mulher, do conhecimento próprio e da cura”. “Don’t Hurt Yourself” é, então, um aviso intenso a um hipotético marido traidor.
PJ Harvey inspirou-se na cidade de Washington DC para compor este The Community of Hope que chega ao vigésimo terceiro lugar da tabela de “Melhores Canções Internacionais” para a Antena 3. A canção reflete um passeio de Harvey pela capital norte-americana acompanhada de um jornalista do jornal Washington Post. A letra descreve locais específicos. A visão da cantora sobre a cidade levantou críticas de alguns políticos locais, que consideraram que esta deixava uma imagem errada sobre Washington.
“Opposite House”, do álbum Mangy Love é um hino melancólico para ser cantado baixinho. O tema conta com a voz de Angel Olsen e a letra descreve uma imagem surreal de uma casa imaginada com chuva no seu interior. O surrealismo da letra é acompanhado pelo surrealismo do vídeo, que mostra duas pessoas a apresentarem truques com bules e chávenas de chá.
Segundo os próprios, “Miles Apart” reflete sobre o espaço emocional entre as pessoas. O tema põe o coração partido a bater levemente em pop eletrónica a arder em lume brando. Ouvindo-a, sente-se o perfume de Pharrell ou Frank Ocean. “Miles Apart” faz parte do primeiro EP da banda, apropriadamente chamado de First pôs milhares de orelhas no ar. Além da nossa lista, os Liss são colocados em listas por esse mundo fora na categoria de “revelações do ano”.
Untitled Unmastered é o nome do álbum que junta canções escritas durante a criação do já clássico To Pimp a Butterfly. É de lá que sai “Untitled 03 05.28.2013”, o único tema do álbum que já tinha sido apresentado ao vivo por Lamar, nas despedidas do programa “The Colbert Report”. Em “Untitled 03”, Lamar discorre sobre as filosofias e valores das diferentes raças e faz também referência às pressões que o sucesso lhe trouxe. Experimentalismo, poesia densa e sem cedências, rimas rápidas e inspiração jazz para a música. É este o Kendrick Lamar que chega ao 26º lugar do top das melhores canções internacionais para a Antena 3.
Abel Tesfaye, ou seja, The Weeknd, é uma espécie de máquina de fazer sucessos. “Starboy”, que dá nome ao mais recente álbum do músico, não só o prova, como parece precisamente fazer referência ao seu recém-adquirido estatuto de celebridade mundial. No vídeo, o músico destrói metaforicamente quem era no passado, para fazer nascer uma celebridade de ego inflamado. Com uma ajuda dos Daft Punk, The Weeknd indica com “Starboy” um caminho mais pop do que R&B ou hip hop. A soar, por vezes a Michael Jackson e com inspiração nos anos 80, Starboy tem a velocidade de um dos carros topo de gama que Tesfaye diz ter na sua coleção privada.
“Drone Bomb Me” marca a estreia da artista anteriormente conhecida por Antony. O tema é uma história contada a partir do ponto de vista de uma rapariga afegã cuja família foi assassinada e cujo desespero a leva a pedir que uma bomba guiada por drone a mate também. A condizer com o desespero da letra está o desespero da icónica voz de ANOHNI e da eletrónica pungente que sublinha todas as dores que transmite.
“Freetown Sound” é o nome do mais recente álbum de Dev Hynes enquanto Blood Orange. Freetown é também o nome da cidade da Serra Leoa onde o pai de Hynes nasceu. Não é do álbum que aqui se fala, isso deixamos para outra lista, mas é também da história da família de Hynes que se fala. Ao procurar as raízes da própria identidade, ajuda a encontrar a dos afro-americanos nos EUA, não fosse Augustine o santo africano que ajudou a levar o cristianismo ao país. A história corre sobre os beat de bateria, guitarra e piano. Simples e majestosa.
A abrir a tabela está um regresso. Foi em fevereiro que a dupla eletro-pop Junior Boys regressou para o primeiro álbum em quase cinco anos. Este “Over it” foi o segundo avanço do álbum Big Black Coat e é uma dançante luta por um amor quase perdido, a pedir que se encontre a esperança no meio da noite. O falsetto de Jeremy Greenspan leva a canção, quase confessional, a voar mais alto. O vídeo também merece ser visto e acompanha a sonoridade dos anos 80 do tema.