Começamos a contagem das melhores canções internacionais de 2017 pelos Spoon, e por “Hot Thoughts”, tema que dá nome ao disco que a banda lançou em Março.
Música sensual e irrequieta, com menos guitarras e mais sintetizadores.
O hip hop de um colectivo do Texas que prefere ser tratado como boysband. Os Brockhampton.
Em 28.º estão os LCD Soundsystem e “Call The Police”.
Saiu com o single “American Dream”, marcou o regresso da banda, e tem um cheirinho a “Heroes”, de David Bowie.
Em 27.º lugar, as manas Ibeyi com “Away Away”.
É o primeiro single do álbum Ash e usa a energia positiva para apelar à acção perante a loucura do mundo.
Os Parcels são australianos a viver em Berlim. Este ano, colaboraram com os Daft Punk numa canção que deixa bem à vista a marca da dupla francesa.
Chama-se “Overnight” e está em 26.º lugar.
Joe Goddard com o tema “Music is The Answer”. O teclista dos Hot Chip lançou-se a solo e quis que esta música fosse “o mais forte e bonita possível”. O resultado deu-lhe o 25.º.
Em 24.º lugar na contagem, os Grandaddy com “Way We Won’t”.
Eles estiveram dez anos sem lançar discos, e regressaram em 2017 com Last Place. “Way We Won’t” abre o disco de regresso.
Em 23.º estão os The xx e “Dangerous”. Faixa de abertura do álbum I See You, antevê na letra um desamor futuro, e tem nos trompetes iniciais o símbolo das novas cores da banda.
São os Grizzly Bear que estão em 22.º lugar, com “Mourning Sound”, que faz parte de Painted Ruins.
Além da canção, vale a pena ver o vídeo oficial, obra humorística feminista, que nos transporta para o imaginário de Sofia Coppola.
Quase a entrar no Top 20 estão os Future Islands, com “Ran”. Faz parte do álbum The Far Field, e corre imparável, com o vocalista Sam Herring de peito aberto, a derramar males de amor.
A inaugurar o top vinte estão os King Gizzard and The Lizzard Wizard, e “Sleep Drifter”. Eles serão provavelmente os maiores produtores de canções deste ano, já que lançaram quatro álbuns em 2017. Esta sai de Flying Microtonal Banana.
Em 19.º lugar, os Alt-J com “In Cold Blood”. Poderosa e dramática, “In Cold Blood”.
Trivia: os sopros foramgravados nos estúdios de Abbey Road, em Londres. Já o sintetizador, custou apenas uma libra.
Chegamos ao número 18 com os Arcade Fire e “Signs of Life”.
Segundo a banda, o tema: “ou é sobre a futilidade de encontrar sentido num mundo sem ele, ou sobre a celebração de uma noite na discoteca”. Contém palmas e sirenes.
Continuamos a falar de mudanças.
Beck lançou este ano um disco marcadamente pop, e o single “Up All Night” é prova disso. É ele que está em 17.º lugar.
Em 16.º, está Father John Misty com “Ballad of The Dying Man”.
Está no disco Pure Comedy e fala sobre um homem que no leito de morte lança um último olhar irónico sobre o seu feed nas redes sociais.
Em décimo quinto, St. Vincent. Não de guitarra em punho, mas ao piano, em “New York”. Uma canção sobre ter o coração partido na cidade grande.
Desde 2014 que os Chromatics têm vindo a lançar várias versões de “Shadow”. Em 2017 lançaram mais uma. Fez parte da banda-sonora de “Twin Peaks” e está em décimo quarto lugar na contagem.
Em décimo terceiro, The National e “The System only Dreams in Total Darkness”. Uma canção sobre “os tempos estranhos em que vivemos”, e que mostra a banda com uma urgência que até aqui desconhecíamos.
Em 2017, os Shabazz Palaces exploraram o espaço com dois álbuns dedicados à saga de um ser alienígena chamado “Quarzarz”. “Shine a Light” é uma das canções mais terrenas dos discos, e está em décimo segundo lugar.
Quase a entrar no Top dez, está Charlotte Gainsbourg com “Deadly Valentine”, uma canção sobre votos de casamento, muito longe do tradicional. Faz parte de “Rest” e está em décimo primeiro lugar.
Chegámos ao Top Dez das melhores canções internacionais do ano para a Antena 3.Para trás ficaram nomes como King Gizzard and The Lizard Wizard, Alt-J, Arcade Fire, Beck, Father John Misty, St. Vincent, The Chromatics, The National, Shabazz Palaces e Charlotte Gainsbourg. Em décimo, está Richard Russel. O nome é capaz de não nos dizer grande coisa, mas é o patrão da XL Recordings, editora de artistas como Adele, Radiohead, The xx, The White Stripes, Vampire Weekend…entre muitos outros. 28 anos depois de ter entrado na indústria, Russel decidiu que era altura de ele próprio lançar-se como músico, com o nome Everything Is Recorded. E surgiu o EP “Close but not quite”. Em décimo lugar, a inaugurar o top dez de canções internacionais, está o tema soul que dá nome ao EP. Conta com a voz de Sampha, um sample de Curtis Mayfield em “Makings of You”, um piano delicado e palmas suaves a envolver a duas vozes. Em décimo Lugar, Everything is Recorded featuring Sampha, “Close But not Quite.”
E agora, uma música nova que tem…vinte anos. Em Junho, os Radiohead mostraram um tema inédito gravado nas sessões de “Ok, Computer”, editado em 1997. Chama-se “I Promise” e está em nono lugar na nossa contagem. “I Promise” foi incluída na reedição celebratória de “Ok, Computer”, chamada “OKNOTOK 1997 – 2017”. “I Promise” fazia parte dos concertos de Radiohead quando a banda fazia as primeiras partes de Alanis Morrisette, mas nunca tinha chegado a ser lançada oficialmente, nem sequer fez parte dos Lados-B de Ok, Computer. Comparada pela banda a temas de Roy Orbison e Joy Division, “I Promise” passa com distinção no teste do tempo. O tom acústico da canção afasta-a do som de “Ok, Computer”. “I Promise” vai crescendo até ao refrão dito em forma de promessa desesperada. Há vinte anos os Radiohead acharam que “I Promise” não era suficientemente boa para ser incluída no repertório da banda, mas os próprios admitem agora que estavam errados e voltaram a incluí-la no alinhamento dos concertos. Em nono lugar, “Radiohead – I Promise”.
Fazemos a ponte atlântica para chegar ao oitavo lugar. É lá que está Mallu Magalhães o single “Você Não Presta”. O tema abre o mais recente álbum da cantora brasileira, “Vem”, gravado entre Portugal e o Brasil. Será impossível falar sobre “Você não presta” sem falar da polémica que o videoclipe do tema suscitou, com Mallu Magalhães a ser acusada de racismo por usar apenas bailarinos negros, que surgem como personagens secundárias, em cenários de periferias, o que ajudaria a manter estereótipos. Mallu Magalhães pediu desculpa pelo vídeo, e garantiu que só queria ter um vídeo com excelentes bailarinos a dançar ao som da música. Quanto à música, “Você não presta” dá o mote para uma Mallu Magalhães mais afastada do folk, e mais próxima do samba-rock, sem perder a doçura e a identidade.
São os Young Fathers que ocupam o sétimo lugar na contagem, com “Only God Knows”. A faixa foi lançada para a banda-sonora da sequela de “Trainspotting”. O realizador Danny Boyle ouviu os escoceses Young Fathers depois de eles terem vencido um Mercury Prize em 2014. Ele diz que a canção da banda é o “batimento cardíaco” do filme, tal como “Born Slippy”, dos Underworld, foi para o filme original. Este batimento acompanha então o ritmo acelerado de “T2 Trainspotting”. “Only God Knows” conta com a participação do Coro Congregacional de Leith, o que a transforma num épico de hip-hop e punk-gospel de quase quatro minutos que passam literalmente a correr. Em sétimo lugar na contagem: a triunfante “Only God Knows”, dos Young Fathers.
Chegamos a “Holding On”, por The War On Drugs. O single faz parte do álbum “A Deeper Understanding”, e é um dos mais luminosos do trabalho. “Holding On” soa a novo, a um caminho diferente para a banda, mas não perde as referências, especialmente as que os comparam a Bruce Springsteen. A melancolia noturna que domina as canções de The War On Drugs estende-se ao sol, em “Holding On”. Mesmo que a letra soe a coração partido. Adam Granduciel move-se aqui entre sintetizadores e a slide guitar, e mistura o passado e futuro numa só faixa. Talvez seja disto que são feitas as canções intemporais. Em sexto lugar na contagem das Melhores Canções Internacionais para a Antena 3: The War on Drugs – “Holding On”.
A abrir o Top cinco, estão os Portugal, The Man, com “Feel It Still”. O tema foi um fenómeno de popularidade para a banda, que conseguiu o seu maior sucesso até à data. “Feel It Still” faz parte do álbum “Woodstock”, produzido por Mike D e Modest Mouse, e a banda diz que foi das canções mais fáceis de criar. Os Portugal. The Man foram buscar inspiração a “Please Mr. Postman”, clássico das The Marvelettes, para criar uma canção de Groove vintage e baixo funk. De melodia que se cola ao corpo e não sai da cabeça…nem dos pés. “Feel It Still” é uma canção sobre rebeldia, que se inspira nos movimentos civis do passado para falar sobre a América do presente. Fica só a faltar dizer que Portugal. The Man foi um nome inventado pela banda, ainda antes de conhecer Portugal. A escolha do país para o nome foi feita de forma completamente aleatória. “Feel It Still”, dos Portugal. The Man, em quinto lugar na contagem.
Em quarto lugar está a dupla Kurt Vile / Courtney Barnett, com “Over Everything”. Este foi o primeiro single a ser retirado do álbum “Lotta Sea Lice”, que junta os dois músicos em colaboração, e foi o que deu o mote para o trabalho. “Over Everything” foi escrita por Kurt Vile em 2015, com a voz de Courtney Barnett em mente. A ideia acabou por se concretizar, e a colaboração foi tão feliz que decidiram avançar para um álbum em conjunto. A faixa é criada no meio caminho entre o estilo de cada um destes dois contadores de histórias. O vídeo oficial para a canção é um bom símbolo para esta simbiose, já que mostra os músicos a cantarem as partes um do outro. Duas vozes, duas guitarras, e pouco mais. Parece que não é preciso mais nada. “Over Everything” – Courtney Barnett e Kurt Vile em quarto lugar na contagem.
E agora para algo completamente diferente. Em Março, Kendrick Lamar partia a Internet ao lançar um single para o álbum “Damn”. O single chamava-se “Humble” e está no terceiro lugar na nossa lista de Melhores Canções Internacionais do ano. À “Rolling Stone”, Kendrick revelou que “Humble” nasceu com o beat enviado pelo produtor Mike Will Made It, e que o fez lembrar da “simplicidade complexa” dos primeiros tempos do Hip Hop. É de facto simples, e ao mesmo tempo avassalador o ritmo do piano que protagoniza “Humble”. A letra, essa, mostra a face mais agressiva de Lamar, a assumir-se salvador do hip-hop. A referência é, aliás, sublinhada com as imagens religiosas no brilhante vídeo que acompanha a faixa. Essa relação entre letra e imagem ironiza sobre o poder que lhe é dado pelos media, e o poder que os próprios media têm na criação de imagens não reais. O refrão de “Humble” exige humildade a quem o ouve, e a quem a carapuça servir, mas Lamar garante que nesta canção é ele próprio a brincar com o ego, e a ver-se ao espelho. Kendrick Lamar com “Humble”, a terceira melhor canção internacional do ano para a Antena 3.
Uma banda repetente. Depois de terem alcançado o vigésimo oitavo lugar na contagem com “Call The Police”, os LCD Soundsystem chegam ao segundo lugar com “Tonite”. É mais um single de “American Dream”, o álbum que marca o regresso da banda, seis anos depois de ter anunciado o fim. “Tonite” mostra os LCD Soundsystem a voltar à parte mais electro-disco das próprias raízes. Segue em crescendo, às costas de sintetizadores vintage. É um hino para as pistas de dança que arde em fogo lento, enquanto James Murphy reflecte sobre o envelhecimento e a mortalidade. A meio da canção, de quase seis minutos, Murphy diz mesmo “Oh good gracious, I sound like my mom” (Oh meu deus, pareço a minha mãe”). “Tonite” é a reflexão sobre a vida feita por um homem de 47 anos, em catarse na pista de dança. É a segunda melhor canção internacional do ano, para a Antena 3.
Estamos a chegar ao final da contagem das Melhores Canções Internacionais do ano, e por isso vale a pena recordar o Top cinco: em quinto lugar Portugal, The Man com “Feel It Still”; em quarto, Courtney Barnett e Kurt Vile com “Over Everything”, em terceiro, “Kendrick Lamar” e “Humble”, e em segundo LCD Soundsystem com “Tonite”. Se os LCD Soundsystem têm duas músicas a brilhar nesta tabela, também a banda que chegou ao primeiro lugar. Eles estão no número 18 com “Signs of Life” e no número um com “Everything Now”. São os Arcade Fire. “Everything Now” é a música que dá nome ao mais recente trabalho da banda, e logo aos primeiros acordes ouvimos uma certa inspiração nos Abba. É a música que abre o álbum, e o novo tom da banda fica logo apresentado: estes são uns Arcade Fire mais disco, mais ligados à pop eletrónica do que aos hinos folk-rock que apresentaram no início da carreira. “Everything Now”, a canção, é uma crítica ao excesso de conteúdo disparado constantemente por uma sociedade pós-moderna preocupada com os “falsos sorrisos”. A dureza das letras contrasta e equilibra-se com a felicidade da melodia. Os novos Arcade Fire estão aí, e esta foi a canção que melhor os apresentou. “Everything Now”, a canção internacional do ano para a Antena 3.