O que impressionava ali, e nós ouvíamos e ouvíamos outra vez, passava pelo prazer de ver um novo ser pop a nascer, com canções montadas com formas inesperadas, com a voz e a guitarra — ui, a guitarra, Annie Clark, St. Vincent, melhor guitarrista do pedaço, sem discussão — a dançarem em encontros e desencontros. O que impressionava ali era isso, que já era muito, ser acompanhado de um olhar inesperado — está tudo nas letras, na dramatização da narrativa, nas referências bem sacadas. Ouvimos Actor e já tinha havido Marry Me, ouvimos Strange Mercy e vimo-la contagiar-se de David Byrne, outro alienígena bem humano que se fartou de nos mostrar coisas novas, em Love This Giant. Depois avisou que, se calhar, era melhor fingir um recomeço e, para não enganar ninguém, deu o seu nome ao quarto álbum, St. Vincent. Masseduction é o primeiro passo depois do recomeço. As guitarras não soam a guitarras, a pop é uma outra coisa, a autobiografia é sugerida mas não a podemos tomar por certa. A transformação continua. Temos mesmo que ouvir, não é, Quim? E ouvir outra vez depois disso, para tentar perceber tudo.
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.