Arriscando o lugar de um dos mais disruptivos e pronunciados lugares do fado e da língua portuguesa transposta em canção, Paulo Bragança está de regresso aos discos, Em Cativo, o fadista adianta-nos que 2018 só agora começou.
Voz singular da cultura popular portuguesa, Paulo Bragança volta à cidade de Ary dos Santos, Carlos do Carmo, e daí parte para os seus santuários biográficos, onde à cabeça nos surgem os nomes de Yale Evelev e David Byrne, patronos da editora Luaka Bop, que, em 1995, colocou na rota internacional o disco Amai. Mas há tantos mais: as canções de Nick Cave, a residência afetiva de Fernando Ribeiro (Moonspell) e o lugar de palco que sempre vão querer lembrar os Calexico sobre esta voz portuguesa.
Passaram-se 23 anos desde essa travessia da sombra à luz imensa de Nova Iorque e do mercado de melómanos à escala mundial; desse tempo, muito espaçamento na nublosa e mais ou menos conhecida rota pessoal do fadista. O desassossego colidindo com o desamor da desvalorização encabeçaram a lista de razões para a instalação e adoção de Dublin como cidade de residência e adoção emotiva. Por lá, e em mais de dez anos, penetrou nos terrenos da representação, da publicidade, da fotografia. Contornou para provocar o avanço, e não poderia esse movimento sair sem reflexo de canções novas, culminando isso com um regresso ao país-mãe.
Portugal está no jardim da conversa que o Tiago Ribeiro teve com Paulo Bragança para a Antena 3; estabeleceram-se as confidências do que está para acontecer: os concertos e um novo país de escuta e curiosidade em torno dos seus fados que sempre vão querer escapar a rótulos imediatos.
São chamados a este novo disco Sandro Costa e Bruno Mira (guitarra portuguesa), Tiago Silva (viola), André Santos (guitarra clássica), Jorge Carreiro (viola contrabaixo) e Carlos Maria Trindade (teclas).
No vagar da leitura deste tempo, e para alguém que não credencia caso de amor pelo passar das horas, a Paulo Bragança falam-se as canções novas cruzadas com a memória, a lembrar que ainda não terminámos, sequer, o prólogo desta história única de um desassossegado confesso.