Guitarras nervosas e vozes nasaladas, cantadas, faladas, zangadas. Ah, como é bom ouvir as guitarras nasaladas e as vozes nervosas, tão nervosas como é matematicamente precisa a secção rítmica. Como é bom sentir aquele frémito e aquele ambiente de cidade buliçosa, aquele movimento constante porque ninguém dorme e, mesmo se alguém dormisse, não teria tempo para o fazer. Não em Nova Iorque, como diz a frase feita aplicada à terra, mas na música dos Parquet Courts, como sabemos desde que estes texanos chegaram a Nova Iorque e começaram a editar álbuns atrás de álbuns. Como dizes, Quim? Pois, é verdade, não são álbuns atrás de álbuns, que os Parquet Courts não são os King Gizzard & The Lizard Wizard ou os Thee Oh Sees, mas seis álbuns desde 2011 também não está mal — e o Light Up Gold ou o Sunbathing Animal valem por dois ou três. Adiante, então.
Os Parquet Courts aí estão novamente. Wide Awake! é o título da nova peça. Continuam com o nervo dos Feelies, com o tom de Jonathan Richman e com a precisão dos Wire, mas agora chatearam-se mesmo e querem fazer qualquer coisa com a raiva que acumulam dentro de si quando olham para o seu país, o que elegeu o presidente que elegeu, e para as consequências dessa eleição. Querem fazer da raiva algo positivo, agregador e, quais Gang of Four, gritam e rockam bem alto para todos ouvirem. São guitarras nervosas, cantadas, faladas, zangadas. São vozes que também tocam assim. São os Parquet Courts. Tudo a acordar, boa gente, gente do bem.
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.