Poderá dizer-se que o último dia de Beat Fest foi também o primeiro dia para o rap nacional. Um virar de página indiscutível para todos aqueles que marcaram presença na Comenda. De produtores a MCs, DJs, público e organização, todos sem excepção partilhavam do sentimento que a estrada nos traria até aqui: o hip hop tuga teria, enfim, morada própria e o Alentejo foi quem o escolheu receber de braços abertos.
Para as despedidas, continuou a apostar-se na versatilidade dentro do género. Holly Hood, Eva Rap Diva, Dillaz, Mundo Segundo & Sam The Kid e Stereossauro ocuparam-se de matar a sede de rimas das mais de 2000 pessoas na plateia, quem não arredaram pé das barbas dos MCs. No terceiro e último dia, no entanto, nem só de barbas se vestiu o palco da Ribeira da Venda: Eva Rap Diva representou as mulheres dentro de um género que continua a ser claramente dominado pelos homens e deixou-se coroar rainha – e rei – do freestyle, pelo próprio público.
Eva Rap Diva à conversa o estúdio da 3
Se os amantes de rap na Comenda já tinham sido obrigados pelos bangers de Piruka, Kappa Jotta ou Holly Hood a sair do chão nos primeiros dias de festival, não seria Dillaz a poupá-los dessa tarefa. O rapper da Madorna é um verdadeiro all-in-one: representante de primeira linha desta nova escola, a sua entrega em palco não só nos mostra exactamente isso como supera as expectativas de quem o ouve cá em baixo.
Superação de expectativas é algo a que os veteranos Mundo Segundo & Sam The Kid deverão estar mais do que habituados. À 3, Samuel Mira confessa as suspeitas que já tínhamos, e ainda ontem falámos de intergeracionalidade! Se boa parte do público deste terceiro dia de Beat Fest não viveu o movimento na altura em que este se escrevia, não foi isso que o impediu de agarrar todos os êxitos como se fossem seus, em casa cheia e a plenos pulmões, para mostrar que esta ideia do hip hop estar vivo está, ela sim, viva há muito tempo.
Os concertos e todas as entrevistas do primeiro Beat Fest rodam na Antena 3 esta terça-feira, a partir das 20h, num especial de 3 horas assinado por Bruno Martins e Rui Miguel Abreu.
Texto: Núria R. Pinto