Eis-nos então aqui chegados, Quim. Descobrimo-los todos luz tropicalista, luz bucólico-psicadélica. Luz de Goiânia, imagino eu, que nunca lá fui, mas tu, que lá irás, hás-de confirmar-me se é mesmo de Goiânia, a luz que ouvíamos nesse abençoado primeiro As Plantas Que Curam, com o seu “Lucifernandis”, que nos informou, glorioso, de que havia algures no mundo um brilho especial que irradiava canções.
Os Boogarins, eles mesmos. Chegaram assim como disse, desviaram para planares noturnos e estelares, e lá seguimos o Manual dos sonhos que nos deram depois. Vimos como aquelas canções se transformavam noutras coisas, como eles eram magos elétricos quando fazem aquilo que melhor sabem, que é estar num palco, e vimo-los procurar sombras em circuitos eletrónicos — Lá Vem a Morte, disseram eles, os Boogarins, mas não nos assustámos.
E agora isto. Agora, a luz de Goiânia a passar pelo prisma que é o mundo inteiro e uma banda completa, os Boogarins feitos feiticeiros no estúdio, a descobrir outras formas daquilo a que chamamos psicadelismo e a que eles chamarão certamente, simplesmente, canções.
Que viagem, Quim. Assistimos a tudo desde o início, e a surpresa continua. É marca de gente boa, de gente que sabe. Gostamos disso, aplaudimos isso. “Sombra ou Dúvida”? Ouvimos isso também, claro. Ouvimos eles, os Boogarins. Como não, não é?
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.