© Beatriz Pequeno
No passado dia 20 de novembro, Os Pontos Negros saíram da toca e reuniram-se por uma noite, a convite do Lounge, e tornaram a uma casa amiga – em breve um inóspito espaço cultural, como tantos outros que fecharam portas em 2024 – rodeada de gente amiga, de fãs do início dos anos 2000 e, inclusive, de (menos) fãs nascidos no ano 2000.
A primeira vez que tocaram na capital foi, segundo a banda, em 2007, no Lounge, na apresentação do primeiro EP intitulado Pontos Negros; em pleno 2024, a banda de Jónatas Pires e Filipe Sousa, volta e testemunha um Lounge apinhado e sedento do reportório d’Os Pontos Negros. O concerto começou, justamente, com as canções do EP lançado em 2005, como “Lili” ou “Funeral”, em homenagem aos dias áureos do Lounge, alternando entre canções do Magnífico Material Inútil (2008), do Pequeno Almoço Ocidental (2010) e do último Soba Lobi (2013), todas elas tocadas de forma exímia. Sempre acompanhados pelo público que insistia em cantar cada palavra, verso, estrofe e refrão, Os Pontos Negros pareciam tão felizes a tocar como aqueles que os foram ver (os que conseguiram entrar no Lounge, claro está, e os restantes que ficaram do outro lado do vidro, também eles em êxtase).
© Beatriz Pequeno
Dentro da meia de Natal que circulava mais perto do fim do concerto, estavam papéis com títulos de canções d’Os Pontos Negros. Cada fã tinha a oportunidade de tirar um papel de forma aleatória e dizer em voz alta o nome da canção para que a banda a tocasse a seguir. Coincidência ou fatalidade cósmica, a verdade é que o concerto acabou ao som de “Tempos de Glória”. Poder-se-ia falar de nostalgia, claro, mas o concerto d’Os Pontos Negros não foi um momento nostálgico; pelo contrário, foi uma noite euforicamente mágica, erguida sob uma armada de pau, como canta Jónatas*, graças a uma banda, infelizmente, subestimada.
Simbólica, reflexiva, extremamente divertida e, sobretudo, esperançosa, mesmo em tempos negros para a cultura na cidade de Lisboa, que, a cada dia se capitaliza e vende, em detrimento do fecho de espaços culturais como o Lounge, o regresso d’Os Pontos Negros foi uma espécie de natal antecipado. Viva Os Pontos Negros e viva Lounge.
© Beatriz Pequeno
* “E quando vierem as tropas / afundar-nos nau a nau / Só nos restará combater / com uma armada de pau”.
Texto: Catarina Fernandes