2000 A.D. é o enigmático título do espetáculo que Samuel Úria vem apresentando em 2025 e que tem no disco recentemente publicado a sua fonte artística principal.
Para uma determinada geração nascida no século passado — a denominada Geração X ou, desambiguando, aquelas pessoas em idade ativa que se queixam de dores de costas com demasiada frequência —, o cruzar do ano 2000 afigurou-se um marco menos intenso do que a prévia antecipação do ano 2000. A previsão dessa efeméride foi, durante muito tempo, pejada de um sentimento esperançoso, de ensejos optimistas; era a súmula de toda a ideia de progresso, o sinónimo cristalizado do futuro.
Estimulado pela realidade atual e pela frustração sentida com os sinais de regressão civilizacional que a mesma teima em apresentar, Samuel Úria construiu, em torno do imaginário do “ano 2000” e das esperanças românticas que a chegada do novo século gerou à época, uma abordagem poética e musical que se traduz em nove temas memoráveis, registos da invulgaridade criativa de Samuel.
Em palco, como lhe é reconhecido, as suas canções ganham nova dimensão: se os temas novos têm na coesão que os liga um dos seus pontos fortes, a sua mistura com as composições com que nos tem inquietado ao longo da sua carreira comprovam estarmos perante o cantautor mais interessante do século XXI.
As apresentações previstas, a par de concertos nos teatros municipais do país, incluem também a passagem pelo Vodafone Paredes de Coura, em agosto, e a estreia em nome próprio nos Coliseus de Lisboa e do Porto, a 11 e 17 de outubro, respetivamente.
E se a expectativa é de que a jornada seja tranquila… equívoco, o conforto vai ser frequentemente assaltado pela energia explosiva com que Samuel e companheiros desequilibram (ou, deveríamos dizer, equilibram) os momentos de intimidade.
O ano 2000 já chegou. E recomenda-se.