Entrevista: Teresa Vieira | Voice-over: Inês Pedrosa e Melo
As últimas décadas têm sido marcadas por uma crescente afluência de informação, com a expansão dos meios de comunicação para novas plataformas e com uma adaptação a novos formatos. A notória efervescência do universo de informação impede, por exemplo, o vislumbre da realidade para além da determinação algorítmica, viabilizando tanto uma dormência perante os horrores do mundo como uma tendência crescente de desinformação. O ideal de democratização do acesso à informação está, assim, longe de ser atingido, e a utilização das novas tecnologias de difusão de informação requer inevitavelmente pensamento crítico e processos de análise constantes.
Mas nem tudo é negativo neste novo paradigma: a expansão deste universo permite, por vezes, a criação de um novo espaço às vozes que são alvo de tentativas de silenciamento. A censura não é claramente só uma realidade do passado, e o caso da jornalista Carmen Aristegui é prova disso: foi nestas novas plataformas que encontrou um espaço para mais um passo na luta contra a (falaciosa) imagem e narrativa mediática imposta pelo governo de Enrique Peña Nieto. Um espaço para a luta contra o medo, para a luta contra o silêncio, para a luta pela democracia.
A realizadora Juliana Fanjul acompanhou Aristegui nesse processo de (re)encontro com o público mexicano, de (re)introdução no discurso mediático. Radio Silence é, em si, uma viagem pelo universo fatal da discordância para com a retórica dominante, uma mostra do potencial do cinema para o acesso à informação — esse bem essencial para a vida em sociedade. Um palco para esta (e outras) voz(es), que todos os dias arrisca(m) a sua vida pelo dever inerente à sua função (informar e esclarecer), mas também um espelho para a realidade social mexicana dos últimos anos.
Uma história que não pode, nem vai, ficar por contar: a Teresa Vieira falou com Juliana Fanjul sobre este filme, cuja estreia no Doclisboa foi adiada, mas que em breve estará nas telas da cidade de Lisboa.