Não praticamos essa coisa de querer tudo para nós, só para nós e para mais ninguém. Não franzimos o sobrolho quando uma banda de que gostamos se torna popular e passa a ser de todos. Não somos desses, não prezamos o elitismo. Já dizia o bom velho Duke Ellington que “há dois tipos de música, a boa e a má”, e essa é a máxima que se deve aplicar sempre e sem distinção. Ainda assim, é impossível não sermos atraídos por aquelas figuras que parecem habitar as margens e nelas florescer e frutificar. Aquelas figuras que são segredos bem guardados, que se partilham com cuidado e que geram empatia imediata quando, em conversa, nos damos conta de que temos do outro lado alguém que partilha o mesmo fascínio.
A galesa Cate Le Bon é uma dessas figuras. Colaboradora em início de carreira dos Super Furry Animals e dos Gorky’s Zygotic Myncy, duas belíssimas excentricidades pop dadas ao surrealismo psicadélico, iniciou em 2009 uma carreira a solo que logo lhe reservou um lugar especial, único. A música que cria é pop desconstruída, rock cubista, pós-punk impressionista — inclassificável, portanto. É Cate Le Bon, que assim é mais simples e fica tudo explicado.
Reward, o álbum que agora nos chega, surge depois de uma mudança para os Estados Unidos e de colaborações com Tim Presley, dos White Fence (com quem formou os DRINKS), ou com os Deerhunter (para quem ajudou a produzir Why Hasn’t Everything Already Disappeared?). É, porém, um álbum de regresso às origens.
Foi gravado em casa, no País de Gales, e, fazendo justiça à sua singularidade, nasceu nos intervalos de um curso de carpintaria em que se dedicou a construir cadeiras. É um álbum de recolhimento, guiado pelo piano em vez da guitarra. Um álbum de alguém que continua a ser um segredo. Mas um daqueles que não deve ser guardado, antes partilhado com todos. Pois bem, é para isso que aqui estamos. Senhoras e senhores, meninos e meninas, O Disco Disse tem alguém a apresentar-vos. Cate Le Bon é o seu nome.
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.