São tempos sombrios, estes. Ódios à solta, fantasmas tenebrosos que julgávamos desaparecidos a arreganharem os dentes peçonhentos, confusão a rodos, o futuro ameaçado por sombras perigosas no horizonte. Tempos sombrios, estes, como outros foram sombrios, e já cá andávamos, nós, gente viva e com vida, e por cá continuaremos, aconteça o que acontecer.
Estranha forma de começar a falar de um disco como este que me mostraste e que depois ouvimos, não é, Quim? Mas tu melhor do que ninguém, porque o ouviste, porque foste tocado por ele e o sugeriste, reconhecerás que não é absurdo falar assim disto que é Joy as an Act of Resistance, segundo álbum dos Idles, ingleses de Bristol, mas sem traços de outras luminárias da cidade, como Portishead, Tricky ou Massive Attack.
Os Idles são ruído rock como catarse, são punk confessional, são uma banda que faz do seu tempo e da sua vida, do particular e do global, uma mesma matéria. Tocam no ódio latente, tocam nas feridas que latejam neles mesmos, gritam para que o grito seja deles e nosso, para que seja confronto e libertação. São tempos sombrios, estes, mas a luz prevalecerá enquanto pessoal como os Idles exclamar, em bom inglês, “no pasarán!”. E não hão de passar, Quim. Tamojunto.
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.