Esta é uma história que, como tantas outras em Inglaterra, começou num pub. Saul Adamczewski e Ben Romans-Hopcraft passavam as noites a beber copos e a falar da vida no mesmo pub. Eram amigos de infância e são ambos músicos, o primeiro nos endiabrados Fat White Family, o segundo nos muito “soulful” Childhood. Saul era um homem a viver no limite, entre heroína, copázios, rock’n’roll e activismo niilista à séria. Ben, um tipo mais atinado à procura da batida perfeita para que soul seja soul no século XXI. Juntos, enquanto rodavam em fundo discos de lounge dos anos 1950, kraut-rocks e soft-rocks das décadas seguintes, afinaram vozes, arranjaram as melhores batidas de órgão Casio e começaram a inventar canções. Um tal Sean Lennon ajudou-os a gravá-las em Nova Iorque. Entretanto, Saul é convidado pelos rapazes dos Fat White Family a afastar-se da banda e a descansar um pouco. Segue-se um torpor de vários meses, segue-se uma clínica de desintoxicação. Quando saiu dela, tinha apenas aquelas canções. Estas, as que gravou no álbum de estreia dos Insecure Men, onde cabem citações a Whitney Houston, Gary Glitter ou romances com Cliff Richard. Estas, que são de um “groove” deliciosamente desconchavado que levaria Jarvis Cocker a ajeitar os óculos na cara para ouvir atentamente. Resumindo: viva a insegurança masculina.
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.