Foto: Nicole Nodland
Era 2005 e andámos durante meses e meses a ouvir em loop aquela canção de bom groove. Pensámos na velha soul americana e regressámos aos discos do Otis Redding nos intervalos em que não estávamos sob o feitiço de um inglês das electrónicas transformando em soulman instantâneo. Como esquecer esses meses de “Multiply” a rodar interminavelmente, Quim?
Jamie Lidell é o nome do homem da nossa alegria de há onze anos. Fez vida na Warp, a editora de Aphex Twin, de Nightmares on Wax, de Autechre ou do Jimi Tenor, e mostrou-nos que não é preciso banda completa para atingir a douta profundidade de Redding e Stevie Wonder ou da Stax e da Motown. Bombeou sangue quente nos circuitos electrónicos e nós a dançar com ele em 2005, em 2006, em 2007… Bem, já percebeste a ideia.
Pois bem, o velho Jamie Lidell disse adeus à Warp e mudou-se para Nashville com a mulher. Foi pai e andou a embalar o bebé no estúdio enquanto gravava um álbum sobre o bem que a vida lhe corre neste momento. Continua a olhar para o Stevie Wonder como o maior de sempre. Já cá anda há década e meia mas agora é como se começasse tudo de novo. Pelo menos, deve ser isso que quer dizer o título Building a Beginning. Que tal confirmarmos se é mesmo assim de phones nos ouvidos?
* Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com o Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, n’ O Disco Disse.