A delicadeza pode ser delicada demais, coisa afetada, se não for acompanhada de uma sensibilidade bem afinada. Sabes bem isso, Quim, porque faz parte das nossas conversas e discussões à volta da música. Mallu Magalhães, a paulista que desde há alguns anos é também lisboeta, tem uma coisa acompanhada pela outra. Começou pela paixão pelo rock clássico, culpa do gira-discos do pai, foi descobrindo mais das velhas histórias da country e da folk de boas assombrações e assim cantou, em inglês muito seguro de si no início da sua história, quando o MySpace ainda parecia reinar sobre a Terra — foi lá que a descobriram.
Pouco a pouco, foi reordenando horizontes, foi-se descobrindo num outro lugar. Pitanga, o terceiro álbum a solo, já tinha muitas cores e muitos sons misturados com graciosidade. Depois chegou aquela Banda do Mar que ela partilhava com o marido, Marcelo Camelo, e com o nosso velho conhecido Fred Ferreira. E agora, será da saudade?, ouvimos Vem, e é Mallu Magalhães, ela mesmo, na sua forma de nos cantar intimidades que tomamos como nossas, a procurar no seu Brasil, na maravilhosa MPB e no obrigatório samba, novas velhas coordenadas. Mallu Magalhães toda luz sob uma nova luz. Delicadeza e sensibilidade bem afinada. Como resistir, não é?
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.