Tu sabes, Quim, até porque eu não me cansei de to dizer, que estes rapazes e rapariga haveriam de ser um caso sério, que seriam um amor melómano logo correspondido, que assinariam álbuns e canções para guardar nos tempos que virão. Para tal, bastou a primeira canção do segundo álbum, We’re Not Talking, que se chama “Make Time 4 Love” e é pérola de guitarras e voz nasalada, baixo pulsante, cowbell e uma orquestração a surgir inesperadamente, só para tornar mais intenso este existencialismo sábio e cheio de pinta cantado por pessoal de 19 anos. Passada essa canção, chegou o resto e tornou-se óbvio. A banda de Louis Forster, filho de Robert Forster, dos Go-Betweens (e nota-se, e ainda bem), traz para o seu presente pedaços bem selecionados do rock independente de tempos idos (os Vaselines, os Beat Happening), mas isso é apenas um pormenor na equação. Porque o que eles trazem, acima de tudo — e ao lado da forma certeira com que alinham letras tão inspiradas, que parecem pensadas num impulso —, são melodias e harmonias e ritmos que soam a uma inspirada capacidade de transformar em canção as angústias, as dores e toda a felicidade incluída nesse período a que se chama a primeira juventude. É mesmo comovente e muito inspirador. Pelo menos, foi o que me lembro de te ter dito quando explicava que eles já são um caso sério (para mim). E se os partilhássemos para ver se há mais pessoal a achar o mesmo?
Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.