Parte dos filmes mais sonantes do cinema português para o resto de 2020 e 2021 foi revelada esta semana nos Encontros do Cinema Português, iniciativa da NOS Audiovisuais para promover títulos nacionais junto de exibidores, distribuidores e imprensa. Apesar de achar que não é uma fornada particularmente feliz, Rui Pedro Tendinha defende que continua a fazer sentido acreditarmos num cinema nacional completamente livre e plural. Eis alguns dos casos mais prometedores.
Listen, de Ana Rocha de Sousa (22 outubro 2020)
Já se sabe que, depois dos prémios em Veneza, Listen, o filme de estreia de Ana Rocha de Sousa, se tornou numa espécie de símbolo de um ato de resistência de um cinema nacional sem devoção a uma certa escola de “cinema português”. Por estes dias, mesmo com o grave declínio das bilheteiras devido à COVID-19, afigura-se como um dos possíveis sobreviventes ao furacão de fracassos. Uma história verdadeira contada com contenção e um estilo que lembra o mais duro cinema britânico de tradição social.
Sol Posto, de Ricardo Oliveira (11 novembro 2020)
Ainda não é desta que os Capitão Fausto têm o seu A Hard Day’s Night, mas a aposta aqui é reconfigurar o lugar do filme-concerto, neste caso um concerto em três tempos, filmado sem público e em diferentes partes do dia. É um presente da banda para os seus fãs e só pode ser ser visto nos cinemas e em teatros às 21h30 de 11 de novembro. Um “take it or leave it” que parece uma experiência sensorial pelas primeiras imagens mostradas. Nos Encontros, Tomás Wallenstein salientou que esta ideia de um filme-concerto foi uma maneira de combater estes tempos de fim do nosso normal.
Mais tarde, já sem a espuma do happening, foi anunciado que poderá chegar ao streaming.
O Último Banho, de David Bonneville (2021)
Já confirmado numa série de festivais estrangeiros, o ansiado filme de estreia de David Bonneville é uma história de laços familiares incestuosos entre um jovem e a sua tia prestes a tornar-se freira. Pelas imagens apresentadas, parece um objeto de pulsão sexual curiosa. Tem uma Anabela Moreira como nunca a vimos e revela Martim Canavarro, rosto também conhecido do mundo da moda. Cinema de risco que terá a sua estreia nacional no Festival Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira já em dezembro.
Nheengatu, de José Barahona (2021)
É o filme que vai abrir o Doclisboa deste ano, uma co-produção luso-brasileira feita em pleno coração da selva amazónica. Um documentário que explora os sortilégios de Nheengatu, língua dos índios e uma afirmação de uma identidade ameaçada. O filme promete mundos e fundos e é uma aposta de Fernando Vendrell, produtor que no ano passado foi o recordista de bilheteira com Variações. Na apresentação, algo coxa, José Barahona, o realizador, confessava ter ficado doente em plena rodagem e toda a dificuldade desta odisseia.
Amadeo, de Vicente Alves do Ó (2021)
Grande aposta da produtora Pandora da Cunha Telles, Amadeo é mais um biopic na carreira de Vincente Alves do Ó. Depois de Florbela Espanca e Al Berto, é a vez de o realizador se dedicar à vida do pintor Amadeo de Souza-Cardoso. Das primeira imagens, deduz-se que se trata de um filme ambicioso, tentando mostrar a inspiração do artista mas também a sua vida íntima. Rafael Morais é o protagonista numa história que não dispensa os encontros parisienses do artista com Picasso, Apollinaire, Modigliani ou Max Jacobs.
Mar Infinito, de Carlos Amaral (2021)
Ficção científica low-cost feita pela Bando à Parte, produtora vimaranense muito na moda. Uma história de amor em plena debandada do planeta. As imagens mostradas, ainda sem os efeitos visuais completos, têm um potencial tremendo, e a cinegenia de Maria Leite e Nuno Nolasco parece evidente. É filme para poder fazer carreira nos festivais de género; um filme destes no nosso país só é possível pelo facto de Carlos Amaral ser, antes de mais, um dos poucos feiticeiros dos efeitos visuais…
Sombra, de Bruno Gascon (primeiro semestre de 2021)
Do realizador de Carga, mais um filme duríssimo, neste caso uma variação do caso Rui Pedro, em que se conta a história de uma família a lidar com o desaparecimento do filho durante 15 anos. Um drama emocional que quer fazer espectadores e que já esteve para se estrear neste ano. Do trailer mostrado nos Encontros, pressentiu-se uma aposta numa linguagem antitelefilme e numa possibilidade de thriller. Ana Moreira no papel da mãe-coragem, pelas primeiras imagens, parece um trunfo ganho à partida.
O Sentido da Vida, de Miguel Gonçalves Mendes (2021)
Depois de uma primeira versão sua ter passado no Curtas Vila do Conde, o novo documentário de Miguel Gonçalves Mendes teve direito à apresentação de um excerto do seu início, em que se começa a perceber a evolução de um conceito que foi mudando ao longo dos anos em que foi sendo feito.
Depois deste primeiro contacto, fica-se com algumas certezas: neste conjunto de histórias sobre figuras diferentes que acabam por nos dar o sentido da vida, há um ritmo diabólico e há ainda uma surpreendente inclusão, a de José Sócrates, ainda antes de ser preso e com acesso ilimitado à sua vida mais privada. O ex-primeiro-ministro está ao lado de Valter Hugo Mãe ou Julian Assange, entre outras figuras.
Provavelmente, é o filme português com maior potencial de vendas internacionais de 2021.
Great Yarmouth — Figuras Provisórias, de Marco Martins (2021 ou 2022)
A produtora do filme, Filipa Reis, contou algumas novidades do filme de Marco Martins atualmente em filmagens no Reino Unido. Como se previa, trata-se de uma versão para o cinema da peça que o próprio Marco Martins tinha levado à cena em Portugal e em que se falava de uma comunidade de emigrantes portugueses em Great Yarmouth, estância turística convertida em centro de convergência de imigrantes de todo o mundo. Imagens, ainda não as houve, mas as fotografias impressionaram, e ficou-se a saber que, no elenco, para além dos inevitáveis Beatriz Batarda e Nuno Lopes, há ainda Kris Hitchen, o protagonista de Passámos por Cá, de Ken Loach.