Pedro Costa, Todd Phillips, Kit Harington, Antonio Banderas ou Nanni Moretti. São estes alguns nomes fortes para esta nova temporada cinematográfica. Depois de um verão em que Variações chegou, viu e venceu, Tarantino triunfou e O Rei Leão bateu recordes de bilheteira, a rentrée tem cinema de qualidade e as primeiras aragens dos Óscares. Rui Pedro Tendinha apresenta um guia com alguns dos filmes mais esperados.
Dor e Glória, de Pedro Almodóvar (5 de setembro)
O filme bandeira deste arranque de temporada, dê por onde der. Almodóvar a filmar o seu gesto humano, sem vaidades, sem nada a mais. Perfeição pura de um realizador cujo amadurecimento é tudo menos um “statement” cota, antes pelo contrário, quase como que uma nova vida. Em jeito minúcia sentimental, conta-se a história de um realizador espanhol em momento de pausa. Um realizador, obviamente, com o penteado de Almodóvar e os seus tiques. Um homem que olha para o seu passado e enfrenta também um problema de drogas. Dolor y Gloria é um pouco a súmula de todo o trabalho de Almodóvar e tem um Banderas com nunca o vimos: a fazer muito com pouco.
Santiago, Itália, de Nanni Moretti (12 de setembro)
Documentário de Moretti que fez estrondo na última Festa do Cinema Italiano. Uma análise do cineasta italiano da ferida chilena ao regime de Pinochet através de uma série de entrevistas a pessoas que fugiram da ditadura e foram para Itália. Simples e com uma montagem que nos põe em pele de galinha, Santiago, Itália é também uma tese sobre gestos políticos em cinema ou como um documentário nunca poder ser parcial…
A Herdade, de Tiago Guedes (19 de setembro)
Já foi apelidado de Novecento português, mas nas raízes de inspiração estão talvez as influências do melhor melodrama da Hollywood dourada. Porém, e não é mero detalhe, não poderia ser mais português: a história de uma herdade a sul do Tejo e a vida da sua família ao longo de mais de 40 anos. Tem sopro de saga e, nas suas quase três horas, o realizador filma tudo com uma serenidade exemplar. Do 25 de Abril ao incesto, da reforma agrária aos agrobetos, tudo é um espelho de um país. E depois há um Albano Jerónimo inacreditável em diversas idades. Grande acontecimento.
Campo, de Tiago Hespanha (26 de setembro)
Cinema do real com possibilidades do fantástico. Neste documentário aclamado no Cinéma du Réel, em Paris, Tiago Hespanha inventa, desenha e propõe geometrias de espaço cinematográfico a partir do Campo de Tiro de Alcochete, o maior campo de treino militar da Europa, onde é possível a sociedade também intervir e o cinema agir. O realizador encontra histórias e narrativas e observa-as com um sorriso traquinas ao canto da câmara. Lúdico, louco, mas também rigoroso e profundo, Campo é um filme onde tudo pode acontecer. E acontece tudo, de filmagens alheias a discursos filosóficos e observadores de aves. E tanto mais… Tudo na ordem do “arco-da-velha”…
Joker, de Todd Phillips (3 de outubro)
O filme que vai consagrar o “dude” de A Ressaca como cineasta de prestígio. Pelo menos, são esses os ecos que a imprensa de Veneza faz passar… Joker é cinema de “arte & ensaio” a driblar o filme de género, neste caso os filmes de super-heróis. Um retrato humano de um dos vilões mais reconhecíeis do universo DC. Aqui não há Batman, mas sim a história das origens deste mau da fita. Joaquin Phoenix é o Joker do título numa interpretação que deve ter combustível para chegar à temporada dos prémios.
Divino Amor, de Gabriel Mascaro (31 de outubro)
O cinema do brasileiro Gabriel Mascaro tem presença constante nos maiores festivais do mundo e compreende-se: há sempre uma linguagem nova e fraturante no meio dos temas que propõe. Desta vez, é a cegueira que os cultos cristãos propõem na sociedade brasileira, neste caso num Brasil do futuro, onde a salvação pode ser através de uma libertação dos corpos. Tenso e chocante, Divino Amor pode não estar ao nível de Boi Neon, mas é outro triunfo deste cineasta com um pé entre as artes plásticas e o cinema.
A Minha Vida Com John F. Donovan, de Xavier Dolan (31 de outubro)
Dolan no seu primeiro filme “de Hollywood” — a história de um jovem e a sua correspondência com um ator de televisão famoso. Todo o filme é um imenso flashback que aborda temas como a culpa e o estrelato. Claro que é Xavier Dolan a fazer confissões pessoais, mas o que impressiona pela negativa é o tom sentimentalão que geralmente o seu cinema evita. O filme foi vaiado no último TIFF e tem tido dificuldades de estreia no resto do mundo, apesar de um elenco que inclui Natalie Portman, Susan Sarandon e Kit Harington.
Vitalina Varela, de Pedro Costa (31 de outubro)
O tal cinema mais perto da pintura de Pedro Costa foi recompensado em agosto com o Leopardo de Ouro em Locarno e, entretanto, vai ter honras de seleção em Toronto e Nova Iorque, provando-se que Costa é o cineasta mais internacional do nosso cinema. A Vitalina Varela do título é uma cabo-verdiana que chega a Lisboa para acompanhar o funeral do marido — uma viagem que vai trazer fantasmas e desconfianças. Trata-se de um regresso a uma personagem que já conhecíamos de Cavalo Dinheiro. Vitalina Varela dá vida a esta Vitalina Varela das sombras de Costa. Uma mulher de verdade que venceu o prémio de melhor atriz em Locarno.