2021 vai continuar a ter filmes adiados e a irem para o streaming. Disso, já se sabe, e é um fatalismo com o qual todos vamos ter de conviver, mas por agora é bom pensar que será um ano de regresso de autores incontornáveis — de Spielberg a Wes Anderson, passando por George Miller, Joel Coen, Peter Jackson e, por cá, Rodrigo Areias, Joaquim Pinto e João Pedro Rodrigues. Mas estes são os primeiros dez irrecusáveis, segundo o crítico Rui Pedro Tendinha.
Stardust, de Gabriel Range
David Bowie a tornar-se Ziggy Stardust. Gabriel Range pega no promissor Johnny Flynn como camaleão e navega pelas lendas do período americano do músico. O filme foi produzido à revelia da família do falecido, e não houve autorização para usar qualquer canção. Bowie sem música, mas os fãs vão ficar curiosos.
The Velvet Underground, de Todd Haynes
A Apple TV+ já conseguiu os direitos para um dos documentários mais aguardados deste novo ano. Se por um lado temos Peter Jackson a desbastar as imagens inéditas dos Beatles num documentário para a Disney, o grande Todd Haynes investiga a arte dos seminais Velvet Undergound. Para Haynes, o objetivo é mostrar, com esta obra, a importância da banda na cultura contemporânea. A banda que quis ser elegante e brutal tem agora um documento com imagens nunca antes vistas de concertos.
The Green Knight, de David Lowery
Eis um cineasta que vai a todos os géneros. Depois do sentido filosofal de História de um Fantasma e do divertimento do filme de golpe O Cavalheiro Com Arma, David Lowery aposta num cruzamento de horror gótico com as aventuras medievais, oferecendo numa história que confronta o sobrinho do Rei Artur com o diabólico Green Knight. Sente-se que poderá ser uma das demências do ano…
Salgueiro Maia — O Implicado, de Sérgio Graciano
Primeira obra do cinema português a ser produzida durante a pandemia. A sua distribuidora já teve data no ano passado, mas será mais perto de abril que vamos ver este biopic de um dos maiores heróis da nação, o militar Salgueiro Maia, fundamental para o sucesso do 25 de Abril. Pelas primeiras imagens vistas, percebe-se que a escolha de Tomás Alves para protagonista foi um risco ganho. No elenco, cabem também Filipa Areosa, Catarina Wallenstein, Rodrigo Tomás e o infalível José Raposo.
Uma Paixão Simples, de Danielle Arbid
O regresso do cinema erótico, neste caso sob um olhar e uma ética feminina. Danielle Arbid interroga o carácter aleatório do desejo sexual de uma mulher. A história de uma mãe solteira entregue a uma relação unicamente sexual com um diplomata russo. Uma espécie de Nove Semanas e Meia dos tempos do #MeToo. Cheira a sucesso de culto… Saiu do Festival de Veneza com críticas muito positivas.
Charlatão, de Agnieszka Holland
Vai ser um dos primeiros filmes a chegar este ano ao circuito das salas mais “arty”. Charlatan é a história de um talentoso curandeiro dos anos 50 na Checoslováquia, um homem que diagnosticava todos os problemas de saúde através da urina. Um olhar duro e implacável sobre um trauma social de um país marcado por flagelos históricos.
Cherry, de Anthony e Joe Russo
Fala-se que é a viragem estilística dos realizadores de Os Vingadores. Desta vez, fazem um drama de pequena escala sobre um militar traumatizado que se torna num improvável assaltante de bancos. O filme estreia-se à última hora no primeiro trimestre para poder ainda ser candidato aos Óscares. Está já em marcha uma campanha em torno de Tom Holland para melhor ator.
Malcolm & Marie, de Sam Levinson
Está quase a chegar ao streaming outros dos favoritos à temporada dos prémios. Este Malcolm & Marie é a história de um realizador de cinema que, após a estreia do seu filme, passa uma noite com a namorada à espera das primeiras críticas. Filmado durante a pandemia, trata-se de um projeto pensado para as suas estrelas: John David Washington e Zendaya. Do criador de Euphoria.
The United States vs. Billie Holiday, de Lee Daniels
Regresso do realizador de O Mordomo, desta feita para relatar a perseguição do estado americano a Billie Holiday. Depois do caso George Floyd, é o filme para debater o racismo na América através de uma “true story” do passado. A dada altura, fica-se com a impressão de que é uma obra “encomendada” para os Óscares…
Last Night in Soho, de Edgar Wright
Abril é a data para este conto do fantástico trazido pelo cineasta de Baby Driver — Alta Velocidade. Anya Taylor-Joy, fresca do histerismo de Gambito de Dama, é a estrela desta “acid trip” com corpos trocados e viagens no tempo que nos convida a visitar as noites loucas da Londres “swinging” dos anos 60. Corre o “boato” de que é um dos filmes mais livres a sair de um estúdio de Hollywood, neste caso a Universal.