Foto: André Leiria
“No novo disco senti a necessidade de explorar um lado mais masculino”
A fechar um ano superprodutivo para Rui Maia, que a meio do ano editou o disco de música eletrónica Fractured Music, chega-nos o primeiro single do segundo álbum dos Mirror People. “In Your Eyes”, com a participação na voz de Jonny Abbey, lança o ano de 2017 para o projeto de Rui Maia: o disco vai chamar-se Bring The Light e avança para um universo mais indie, menos pop do que Voyager, mas, ainda assim, com o lado eletrónico sempre presente.
O músico deixa-nos algumas escolhas de discos que o marcaram o seu 2016, que diz ter sido um ano estranho: abalado pela morte de algumas das suas principais referências no mundo da música, sobretudo David Bowie, mas também por ter passado muito a correr. “Se calhar fui eu que andei muito ocupado!” Isso parece ser um facto.
Editaste, há poucas semanas, “In Your Eyes” o primeiro single do teu novo trabalho. Queres explicar-nos o que é que representa para o segundo álbum dos Mirror People?
Além de ser o primeiro single do segundo álbum dos Mirror People, que tem a edição prevista para o início do ano, conta com a participação de um novo membro do projeto, que é o Jonny Abbey, que dá a voz ao tema. Ao contrário do que aconteceu no álbum Voyager, o primeiro, em que tive tantos colaboradores, neste novo Bring The Light, decidi convidar a banda que me acompanhou ao vivo durante o verão: falo da Maria Do Rosário, do João Pascoal e do Hugo Azevedo. Mas tive a necessidade de ter algumas vozes masculinas e já conhecia o João Abrantes – que é conhecido com o nome artístico Jonny Abbey. Trocámos alguns emails, andámos com ideias para trás e para a frente e acabámos a gravar canções em conjunto, algumas assinadas por ele. No fim, convidei-o para começar a tocar connosco ao vivo.
Lembro-me que a Maria Do Rosário teve um papel muito marcante no primeiro disco e também no lado ao vivo. Neste Bring The Light sentiste que precisaste de equilibrar os Mirror People com um lado mais masculino?
Eu senti uma grande empatia com o Jonny em termos de colaboração e também de visão naquilo que eu quero que Mirror People represente. Naturalmente as pessoas já conhecem o trabalho da Maria, a presença que ela tem e aquilo de que ela é capaz. Mas para este segundo trabalho senti a necessidade de explorar um lado mais masculino, diferente no estilo musical.
“Foi um ano estranho… não sei se foi por causa destas mortes todas, principalmente pela do David Bowie. É das minhas maiores referências. Comprei o disco [Blackstar]no dia em que saiu. Depois aconteceu a tragédia e nunca mais o consegui ouvir”
Essa maior presença masculina pode levar-nos a pensar que o disco será, talvez, mais pesado, mais denso?
Não é propriamente mais pesado. Sinto que abandona um pouco o barco do disco sound, contendo na mesma os elementos eletrónicos, mas um pouco diferente. O “In Your Eyes” acabou por fazer a ponte entre os dois discos: tem o lado eletrónico, mas com uma abordagem mais indie, não tão pop como foi o Voyager. Mas não creio que seja um álbum desfasado do primeiro, até porque continua a ser o meu projeto, com canções feitas por mim.
Em que fase é que se encontra a criação do Bring The Light?
Diria que está 90 por cento concluído. As canções estão todas feitas e falta gravar só uns pormenores. Já consigo ter o puzzle quase todo completo. Quero ter tudo pronto até ao final do ano para lançar no início de 2017.
Este ano já editaste um outro disco, mais solitário, o Fractured Music. Sentes que 2016 está a ser para ti um ano especialmente criativo?
De facto, em 2016 aconteceu o Fractured Music e este novo Bring The Light foi gravado num tempo praticamente recorde. O outro disco, Voyger, demorou quase dois anos a ser concretizado, mas também pela quantidade de convidados que teve. Este álbum foi feito em meio ano, por aí. Mas espero em 2017 estar criativamente ativo, também! Tenho planos para mais discos! (ri-se)
Que planos são esses? Estás a falar de X-Wife, que têm mais ideias no forno?
Sem querer adiantar-me muito, posso dizer que os X-Wife continuam a trabalhar e nós continuamos a desenvolver ideias. Naturalmente que queremos editar coisas novas, até porque a última coisa que editámos foi o single de 2015, “Moving Up”. Mas as coisas têm que ser feitas com calma: a banda tem quase 15 anos de carreira e não nos queremos precipitar, mas sim ter o valor que achamos que os X-Wife têm como banda. Queremos manter a fasquia alta, sobretudo depois de um single como esse – que entrou no Vevo, ou aqui na Antena 3 chegou a ser a canção mais votada do top A3.30. Mas à parte do álbum de Mirror People e das gravações com os X-Wife, estou a trabalhar na produção para outros artistas e em coisas até distantes do meu universo.
Deixa-me voltar ao Fractured Music para perceber as reações que tiveste ao disco, que mesmo sendo ligado a um universo muito específico da música de dança, era um trabalho que sentíamos que podia surgir na tua carreira, pela tua estreia ligação ao mundo da produção e ao universo do DJing.
Senti que o disco teve muito boas críticas. Em termos de feedback foi ótimo. Foi um trabalho muito importante para mim, mesmo não tendo sido feito a pensar em canções de rádio, foi feito muito naturalmente e foi influenciado pelo lado do DJing e da música de dança mais difícil. Senti alguma dificuldade perante o grande público em expandir o disco, mas porque também não existem muitos canais para divulgação de um disco como este, de música eletrónica. E deixou-me algumas influências pela experiência que tive – se calhar, no novo disco de Mirror People, haverá qualquer coisa influenciada pelo Fractured Music. Depois, acabou por encaixar bem no meu mundo: Mirror People sendo um bocado mais pop; os X-Wife ser uma banda rock, com o nome Rui Maia posso explorar mais o universo do DJing.
O “In Your Eyes” acabou por fazer a ponte entre os dois discos: tem o lado eletrónico, mas com uma abordagem mais indie, não tão pop como foi o Voyager
Ainda te vamos poder ver ao vivo até ao final do ano?
Tenho alguns DJ set marcados, mas concertos, até ao fim do ano, não tenho nada agendado. Foi um ano bom, em termos criativos, e com bastantes concertos. Mas foi um ano estranho… não sei se foi por causa destas mortes todas.
Sentes que terá sido um ano agridoce para ti? Por um lado muito bom, por todo o trabalho que desenvolveste, mas por outro um ano mau ao sentires a perda de alguns artistas que te marcam muito.
Principalmente pela morte do David Bowie. É das minhas maiores referências. Mas também senti que o ano passou a correr. Estiva a pensar também nos discos que mais me marcaram e não me lembrava assim de nenhum – ou então é de eu ter andado tão ocupado!
Chegaste alguma conclusão? Que discos te lembras de ter gostado?
No lado rock há vários discos de que gostei: o da Angel Olsen [My Woman]; gosto imenso do álbum dos Band of Horses [Why are You OK]. Em Portugal adorei o disco dos Sensible Soccers [Villa Soledade]. O dos The Last Shadow Puppets [Everything You’ve Come to Expect] também é um excelente disco! Eu quando gosto muito de um álbum, acabo por comprá-lo em vinil, por isso destes lembro-me eu bem, porque tenho aqui os discos! Há um disco que é altamente, que só saiu em cassete e em digital, dos Cut Copy. Chama-se January Tape – ainda que seja uma espécie de projeto paralelo mais ambiental, meio instrumental.
E o disco do David Bowie?
Eu comprei o disco [Blackstar]no dia em que saiu. Depois aconteceu a tragédia e nunca mais o consegui ouvir. Lembro-me que, passado um tempo, estava no carro e a passar uma canção do disco na rádio e achei aquilo super-forte. E nunca mais o consegui ouvir. Não sei porquê, mas acho que a mensagem é muito forte. Vamos deixar passar mais algum tempo para as coisas assentarem.
Entrevista: Bruno Martins