“Vamos tentar despertar o animal que há em mim!”
Conhecemo-lo dos agitados e vibrantes Throes + The Shine. Diron é um dos vocalistas da banda do Porto que, há meia dúzia de anos, cruzou os ritmos do kuduro com a potência do hardcore. Começou por fazer parte da dupla The Shine, com André do Poster, cresceu e mostrou-se com o “rockuduro”, mas Diron mostra agora que ainda consegue haver muito mais ritmo na correr nas veias, que tem ainda muito mais jinga nos músculos.
Alone vai ser o nome do seu primeiro disco, com edição da Soundway Records lá mais para o fim do verão — tudo indica que será no início de setembro. O disco está pronto, gravado, e vão-se ouvindo alguns excertos aqui e acolá daquele que vai ser o primeiro single deste lado solitário de Diron — em breve sairá o primeiro single. Apesar de ser um projeto a solo, Alone vem com muita velocidade, muito ritmo e pé na pista de dança a puxar por corpos suados. E isso vai ser possível comprovar já, em primeira mão, já no dia 2 de junho, durante o festival MIL – Lisbon International Music Network. Diron vai voltar a mostrar o animal que há nele — mas antes disso, fomos perceber as motivações para esta aventura a solo.
Alone é o nome do teu primeiro disco a solo. Porquê dar este passo depois dos Throes + The Shine?
Porque eu continuo a achar que tenho muito mais para mostrar às pessoas. Resolvi dar este passo porque chegou uma altura em que estava a ter uma série de ideias que tinha e que não conseguia implementar em Throes + The Shine e não queria vê-las a ser arquivadas ou deixadas de lado. E por isso resolvi fazer um disco a solo.
Que ideias eram essas?
Têm muito que ver muito com a minha forma de pensar… eu acho que com Throes + The Shine conseguimos atingir um público muito específico, mas eu achava que a solo conseguiria atingir outro público, que se calhar era algo que não conseguiríamos fazer em Throes + The Shine — ou seja chegar a quem já me ouvia, mas também a novas pessoas.
Vais fazer a estreia deste teu projeto a solo no festival MIL — ainda um par de meses antes de lançares Alone, que será editado em setembro. O que é que vamos poder ouvir já deste teu primeiro disco?
Vai ser um concerto um pouco diferente daquele que farei depois do disco estar cá fora. Mas no MIL vou já tocar a maior parte das músicas: vão já poder ouvir o disco a ser executado quase como ele é na realidade.
“Continuo a achar que tenho muito mais para mostrar às pessoas. Resolvi dar este passo porque chegou uma altura em que estava a ter uma série de ideias que tinha e que não conseguia implementar em Throes + The Shine e não queria vê-las a ser arquivadas”
Nos Throes + The Shine Até agora tens estado acompanhado de mais gente e mais instrumentos. Como é que será o Diron a solo?
Vou estar eu, a Ana Cerqueira, a Adrielle Mendes e Filipa Mora a fazer back vocal e percussão e um rapaz, o Emanuel Macedo, nas programações e percussões.
Tens-te preparado muito para o concerto do MIL? Como estás a ver estas canções a crescer no palco?
Sim, tenho ensaiado muito, até porque é o primeiro concerto a solo. Eu já não dou concerto sem banda, sem bateria e guitarra há muito tempo. Desde que parámos de dar concertos em The Shine, que era tudo eletrónico. Vai ser recordar um bocado o que era nesse período, mas vai ser completamente diferente. Vamos tentar despertar o animal que há em mim! (risos) Tentar fazer a festa.
Quando é que este disco começou a ganhar forma na tua cabeça?
Foi quase há quatro anos que comecei a planear, mas foi uma coisa na minha cabeça, pensando naquilo que ia fazer no futuro. Não podia continuar só com Throes + The Shine, porque sentia que tinha muito mais para explorar e desenvolver e que não conseguia fazer na banda porque eram muitas cabeças a pensar, tínhamos sempre que discutir e partilhar ideias — mas isso é bom, atenção! Mas eu queria trabalhar sozinho, fazer um disco sozinho. No último ano foi quando decidi executá-lo.
“Trabalhei o disco todo sozinho, a nível de melodias, ritmos, voz… mesmo algumas guitarras. Só depois de tudo feito é que chamei um guitarrista e um outro músico para pôr sopros nalgumas músicas”
Produziste tudo sozinho?
Trabalhei o disco todo sozinho, a nível de melodias, ritmos, voz… mesmo algumas guitarras. Só depois de tudo feito é que chamei um guitarrista — que também é baixista —, o Rafael Silver, e pedi-lhe para ele tocar umas guitarras que eu já tinha feito e outras que ele fez diferente. E ainda pedi a um outro músico para pôr sopros nalgumas músicas.
Foi uma novidade para ti assumir este papel de produtor?
Não, porque no último disco de Throes + The Shine fomos nós que produzimos — e só depois é que levámos para o estúdio do Moullinex, que lhe deu o input que fez toda a diferença.
Para quem conhece Throes + The Shine acredito que vá conseguir imaginar mais ou menos os ambientes que criaste para este Alone. Mas para quem não conhece ou está com a imaginação um pouco mais preguiçosa, como é que descreves este teu novo disco?
Apesar de algumas terem um ritmo muito bom para dançar, são músicas para ouvir, para divertir. E algumas até têm algum sentido de humor (risos). Noutras lanço algumas mensagens que fazem muito sentido sobretudo para mim: quando estive a escrever as músicas estava a passar uma fase muito difícil da minha vida (sorri) e tentei transmitir isso nas músicas!
“Este disco vive muito daquilo que vivi, daquilo que é o meu passado, ainda que tenha ido buscar muita coisa àquilo que é o meu presente — coisas que fui ouvindo agora. Mas grande parte é fruto de coisas que ouvi quando era criança e fui tentar recordar algumas vezes”
Pareceu-me ser um disco com um foco muito específico, virado para o universo do afrohouse, mas também com ligação a um lado rítmico mais orgânico e próximo daquilo que serão as tuas referências mais tradicionais da música africana: temas que parecem que vêm com uma banda que poderia ser de Lagos ou Nairobi na década 1970.
Deves estar a falar do tema “Oxala Kuanboté”… tive pôr o nome em português, porque no dialeto original, em kimbundo, seria “Oxaleno kwanboté”…
O que é que quer dizer?
Fiquem bem! (risos)
Há outro tema, chamado “Don’t Stop” que parece ter essas referências mais tradicionais…
Depois de planear o disco que queria fazer, tive que ouvir muita coisa que ouvia quando era criança. Eram as músicas que a minha mãe e o meu pai metiam a tocar. Ouvi durante muito tempo os África Negra e muita coisa desse universo. Os África Negra eram uma banda que tinha elementos de São Tomé, outros de Angola e Cabo Verde… o vocalista [são-tomense] chama-se José Seria e era general. Aquilo é muito engraçado.
O teu disco terá uma canção chamada “Ghetto Ghetto” onde se diz que saíste do gueto, mas o gueto não sai de ti. Muito do que vamos escutar neste disco também será uma herança dos teus tempos de Cazenga?
Sem dúvida. Este disco vive muito daquilo que vivi, daquilo que é o meu passado, ainda que tenha ido buscar muita coisa àquilo que é o meu presente — coisas que fui ouvindo agora. Mas grande parte é fruto de coisas que ouvi quando era criança e fui tentar recordar algumas vezes. E é verdade: posso ter saído do gueto, mas o gueto não saiu de mim! (risos) Essa música vai ter um vídeo muito engraçado e vou gravá-lo em Angola.
Vai ser o teu primeiro single?
Estou indeciso, mas dependerá da editora. Tenho três vídeos prontos e agora vai-se decidir qual sair primeiro.
Alone vai ser editado pela Soundway Records, de Londres. Como é que se deu esta aproximação?
Era para ser com outra editora, que me deixou de dar respostas. Comecei a ficar preocupado, porque já tinha o álbum gravado há muito tempo e não o queria lançar em formato independente. Estive em contacto com um amigo da Holanda que me sugeriu a Soundway, mas não tinha contactos… funcionam muito por recomendações. Por acaso falei com o Pedro [Coquenão] dos Batida — que é um gajo bué porreiro — e tinha o connection (risos). Eu pedi para ele mandar a dica, mandou o link do soundcloud e quem ouviu foi diretor da editora que me mandou uma mensagem a dizer que é dos melhores discos que tinha ouvido nos últimos tempos… e foi mais ou menos assim!
Entrevista: Bruno Martins