O Festival Internacional de Cinema de Roterdão decorreu pela segunda vez em formato online. A equipa do Domínio Público acompanhou a forte comitiva nacional desta 51.ª edição, aproximando o público português das obras que marcaram presença num dos primeiros grandes momentos do calendário de festivais de cinema do ano.
Corpos, identidades e relações estão em grande plano no filme Tornar-se um Homem na Idade Média, de Pedro Neves Marques. Um espaço intimista em que seguimos um capítulo muito particular da vida de dois casais — um heterossexual e um homossexual — num processo de tentativa de reprodução. Uma viagem orgânica pelos mais diversos sentimentos, pelas mais flutuantes sensações, pontuada por um guia narrativo: os pensamentos, a voz interior de Mirene, a mulher cis presente. Do orgânico ao artificial, do individual ao animal, Pedro Neves Marques apresenta um retrato humano urgente, com um toque subtil de disrupção e desconstrução de noções e conceitos sociais estabelecidos e pré-concebidos — essas expectativas irrealistas, essas prisões impostas de carácter surrealista — de indivíduos, de relações, de ecossistemas, do ser em pleno e em sociedade. Um sopro leve com travos de sublime demolição, com o verdadeiro potencial de crescimento e enriquecimento através (da arte do familiar) do cinema.
Tornar-se um Homem na Idade Média, com produção Foi Bonita a Festa, venceu o prémio Ammodo Tiger Short Competition e foi escolhido como candidato do festival ao Prémio Europeu de Cinema para curtas-metragens.
Conversa de Pedro Neves Marques com Teresa Vieira.