Quim,
Estou aqui a pensar que é provável que já nos tenhamos denunciado. Basta conferir as vezes em que, para criar o contexto dos álbuns que passamos no programa, deitámos mão aos Crosby, Stills & Nash. Fizemo-lo porque o trio de “Wooden ships” está nos nossos corações, culpa da óptima música que deixou gravada. Fizemo-lo, e é por isso que digo que o mais provável é que já nos tenhamos denunciado, porque, como se diz em língua estrangeira, somos uns “suckers” pelas maravilhas do grão da voz. E quando se juntam umas quantas vozes em harmonias bem medidas, então não há nada a fazer, recostamo-nos para trás nas cadeiras e deixamo-nos levitar com aquele bom sorriso nos lábios.
Os Fleet Foxes não são os Crosby, Stills & Nash, mas também conhecem muito bem o poder das vozes harmonizadas em conjunto e foi isso que nos pôs todos a olhar para eles há nove anos, quando editaram o primeiro álbum. “Helplessness Blues”, o segundo, trouxe novas complexidades na composição e outras questões a atormentarem-lhes o espírito. Depois disso, desapareceram durante seis anos. Regressaram agora com “Crack-Up” e a viagem sónica continua – eles gostam de procurar novas coisas. Mas e estas vozes, Quim? Ah, essas são as de sempre. Recostemo-nos que a harmonia está quase a chegar.
* Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.