Quim,
Chegámos a meio do disco, o que quer dizer que tinham passado uns dezasseis minutos de música, e tínhamos a cabeça a andar à roda. Mas era tontura da boa, provocada por demasiado Foxygen a arejar as sinapses. A verdade é que já conhecíamos a tendência de Sam France e Jonathan Rado para as boas piruetas musicais e para os cruzamentos estéticos inesperados, muito de acordo com o nosso tempo, mas, também, e é isto que os distingue, só de acordo com o que conspiram, para nosso prazer e alegria delirante deles, aqueles dois cérebros de sacanas muito inventivos que inventaram, em 2013, We Are The XXIst Century Embassadors Of Peace & Magic.
Quatro anos depois, com o épico em duração e ambição conceptual …And Star Power, pelo meio, os Foxygen editam Hang e mal tinham passado dezasseis minutos de música, foi aquilo que disse: a cabeça a andar à roda com vaudeville rock, orquestra em rodopio e Sam France, qual crooner habitado pelo espírito de Mick Jagger, Lou Reed e Scott Walker, a erguer a voz com autoridade e um sorriso malvado a escapar-lhe nas entrelinhas. Outros dezasseis minutos depois disso, a cabeça continuava a rodar e o sacana do sorriso, o nosso, prolongou-se-ia durante muito mais tempo. Foi mais ou menos isto, não foi, Quim?
* Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com o Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, n’ O Disco Disse.