Olá, Mário.
Uma coisa: aquilo que vem na grelha da Antena 3 e que depois de se mandar para o ar as pessoas ouvem no seu rádio ou computador, a isso eu tenho cada vez mais dificuldades em chamar de “programa”. Todas as semanas entro no estúdio 20 contigo e com um disco, sento-me, ponho o telemóvel em silêncio, predisponho-me e simplesmente ouço. A única coisa que está programada é o tempo que guardo na agenda para o ter, para ter tempo para ouvir. E o tempo que passamos juntos é um presente, não é um programa.
Outra coisa: o presente que me apresentaste pela primeira vez e que esta segunda-feira renovaste é uma prova do valor que o tempo tem e de como, no eterno retorno, o tempo que nos oferecemos oferece sempre algo na volta. Sol de Março, dos Medeiros/Lucas, é o 3.º disco que “documenta” um ciclo de três viagens — a primeira foi aos sítios e à história, a segunda foi às pessoas e aos corpos, e esta última foi para dentro, à mente e ao espírito. E vale muito a pena esta peregrinação, ouvir os relatos em música desta tripulação que foi crescendo com o que aprendeu nos passos que foi dando. Sol de Março tem lá dentro o mundo todo, num espaço amplo de quem cresceu a ouvir um horizonte que não acaba, com a certeza de que sempre se chega. Todas as canções têm esta serena certeza e todas as palavras cantadas a confirmam. Sol de Março é mais um dos presentes que me trouxeste ao presente que nos oferecemos todas as semanas quando nos sentamos juntos a ouvir.
Quim Albergaria é um pai e marido que toca nos PAUS e cantava nos Vicious Five. Fala e escreve por profissão, come e bebe por natureza. Moderado evangélico da Livreza e Bacanidão, conversa com Mário Lopes todas as semanas na Antena 3, em O Disco Disse.