Quim,
parece que foi ontem que me apareceste em passo de corrida, laptop debaixo do braço, e me disseste, “Mário, ouve-me só isto”. Isto era o El P e o Killer Mike, senhores da carreira distinta no hip hop, a reunirem talentos nos Run The Jewels e, no processo, a tornarem-se maiores juntos do que a soma individual dos dois. E eu ouvi, e ouvimos os dois, e gargalhámos como se impunha com a página no site em que propunham uma série de prendas a quem apoiasse financeiramente a banda – uma delas, regravar Run the Jewels 2 só com sons de gatos, nasceu mesmo (Meow the Jewels é o título da pérola).
Obviamente, não os perdemos de vista. De resto, tornou-se impossível, porque nestes tempos de turbulência, no país deles e no resto do mundo, os Run The Jewels tornaram-se não só imprescindíveis no cenário musical, como uma voz que reflecte e actua sobre o mundo à sua volta. Isso nunca foi tão claro como agora com Run The Jewels 3, o presente que nos ofereceram no Natal passado. Não há como escapar-lhe. E se está a escapar a alguém, só há uma coisa a fazer: “Pessoal, ouçam-me só isto”. Não é preciso dizer mais nada.
* Mário Lopes é jornalista e crítico musical no Público e fala com o Quim Albergaria todas as semanas na Antena 3, n’ O Disco Disse.