Saltar para o conteúdo
    • Notícias
    • Desporto
    • Televisão
    • Rádio
    • RTP Play
    • RTP Palco
    • Zigzag Play
    • RTP Ensina
    • RTP Arquivos
Antena 3 - RTP
  • Programas
  • Podcasts
  • Vídeos
  • Artigos
  • Agenda
  • O que já tocou
  • Programação
  • Aceder ao Instagram da Antena 3
  • Aceder ao YouTube da Antena 3
  • Aceder ao WhatsApp da Antena 3

_

_

NO AR
PROGRAMAÇÃO O QUE JÁ TOCOU
Imagem de Mariano Marovatto
Oub'lá 25 jan, 2017, 14:15

Mariano Marovatto

Imagem de Mariano Marovatto
Oub'lá 25 jan, 2017, 14:15

Mariano Marovatto

Foto: Anastasia Lukovnikova

“Sempre fui à procura de algo novo, mesmo que o novo esteja no passado”

 

Mariano Marovatto atravessou o Atlântico há pouco mais de seis meses. O músico luso-brasileiro trouxe na sua bagagem o seu mais recente disco, Selvagem, um trabalho de recolha de canções que fazem parte do cancioneiro lusófono, tanto do Brasil e de Portugal. A investigação deste poeta, escritor e arquivista doutorado em Literatura Brasileira – neto de portugueses de Barcelos e de Vila Nova de Foz Côa – levou-o a descobrir aquilo que já tinha sido feito por nomes como Michel Giacometti, em Portugal, ou Mário de Andrade, no Brasil. Selvagem é um disco de aparente simplicidade, onde as palavras são quem mais ordena, pontuadas pelos arranjos eficazes da guitarra de Pedro Sá que levam o folclore lusófono a um outro patamar das descobertas. O disco chega às lojas no dia 3 de fevereiro, mas já pode ser escutado online.

Como é que nasce este disco, uma espécie de mistura entre os folclores brasileiro e português?

O disco nasceu no final da gravação do meu disco anterior, chamado Praia. estava à procura de uma canção indígena de “ninar” [embalar]. Encontrei uma canção do Acre, do Norte do Brasil, mas para encontrar essa canção deparei-me com um arquivo imenso do lado português – por acaso – e de indígenas brasileiros, das Smithsonian Folkways, dos EUA, que têm uma vasta biblioteca de LPs na Internet que se pode comprar. E é engraçado pensar que o Brasil está tão perto e ao mesmo tempo tão longe de Portugal: tive que ir para os EUA à procura destes disco e encontrar as recolhas do [Michel] Giacometti que são uma preciosidade e totalmente desconhecidas do público brasileiro. Por outro lado, no Brasil, o folclore é desconhecido: não está na memória normativa, é uma palavra gasta, muito impregnada de coisas ligadas à política. Não é um material que dialoga muito com a cultura direta, a não ser pela via normativa da música evolutiva brasileira, que vai do samba até à bossa nova. Nas recolhas da Smitsonian Folkways, na parte brasileira, encontrei uma caixa com as recolhas feitas pela Missão de Pesquisas Folclóricas de São Paulo, datada de 1938, que o Mário de Andrade, enviou para o Nordeste do Brasil. E de repente tinha esse material imenso da lusofonia e que estava completamente distante daquilo que é conhecido da música tradicional portuguesa – daquilo que é fado ou que é samba.

O que é que sentiu de fascinante nesses registos ao ponto de querer re-interpretá-los?

A primeira é uma coisa ancestral ou genética – nem sei bem: a minha família é toda portuguesa e escutar as pessoas de Portugal remete-me muito para a minha própria família. E, a outra coisa, é perceber a riqueza desse material. Lembro-me que quando mostrei esse material ao produtor do disco, Martin Scian, argentino que mora no Rio de Janeiro e, por isso, distante deste universo, ele respondeu: “A mim parece-me que é destas canções que vem a língua portuguesa. Parece que estás a ir buscar à fonte”. O disco tem um conceito que pode parecer imenso, mas,  no fundo, são cantigas em que as pessoas cantam em várias versões. É tudo muito simples.

O Mariano, neste trabalho, dá primazia, sobretudo, às palavras. As guitarras vêm com arranjos muito simples. Recorde-nos como é que eram musicados os tais registos da origem?

A maioria eram vozes a capella, com pessoas a interpretar cantigas de memória. Eram poucas as faixas que tinham instrumento. Em Selvagem são arranjos muito simples e limpos que prezam o silêncio, o som do instrumento e da voz. É a língua portuguesa acima de tudo e a olhar para isto como um meio de repensar a cultura, não de uma forma iconoclasta ou a pensar como um resgate cultural, como um museu, mas antes mostrar o valor através de arranjos simples e eficazes.

 

“São arranjos muito simples e limpos que prezam o silêncio, o som do instrumento e da voz. É a língua portuguesa acima de tudo e a olhar para isto como um meio de repensar a cultura, não de uma forma iconoclasta ou a pensar como um resgate cultural, como um museu, mas antes mostrar o valor através de arranjos simples e eficazes.”

 

As canções originais têm uma raiz rural. Já as do disco foram reinterpretadas com a influência de um centro urbano, o Rio de Janeiro. Isso tem alguma influência na forma como o Mariano abordou estas re-interpretações?

O centro urbano é uma antena e eu recebi as recolhas todas pela Internet, claro. Os músicos também são todos de centros urbanos: o Pedro Sá, guitarrista, mora no Rio de Janeiro; a Ami Yamasaki mora em Tóquio – e não há nada mais urbano no Planeta Terra do que Tóquio! São pessoas que vivem nos centros urbanos, mas que entendem o poder do silêncio e da simplicidade sonora da coisa.

Sempre teve esta abordagem musical na sua carreira, a de ir remexer nas raízes ou este é um caminho que começa agora a traçar?

Eu sempre fui à procura de novo, mesmo que o novo esteja no passado. O que importa é evoluir na carreira musical: bater sempre na mesma tecla é sentir-se confortável por uma coisa que funcionou no primeiro momento, mas a arte é pesquisa, procura, entender o que é que está a acontecer no horizonte. O planeta roda, não vai para a frente: as coisas voltam para nós de uma outra forma e conseguimos entender isso de forma ainda mais potente. Eu tenho também a veia de pesquisador: trabalhei muito tempo como arquivista no Museu de Literatura Brasileira, tenho doutoramento em Literatura Brasileira… vasculhar papéis sempre foi uma espécie de paixão. Unir a música ao arquivo, entender de onde veio e por que veio é a grande pulsão deste trabalho.

O mundo gira e nós giramos com ele. O Mariano, recentemente, fez uma nova rodagem na sua carreira que o trouxe até Portugal. Porquê?

Não houve um motivo específico: foram questões pessoais, profissionais e musicais. O disco também me motivou a vir para cá. No início não pensava, mas era uma ideia que já tinha dentro de mim por causa da cidadania portuguesa e da família portuguesa. Sempre estudei a língua portuguesa, vinha muitas vezes a Portugal e sempre me senti em casa. Neste momento esgotou-se um pouco o Rio de Janeiro e o Brasil para mim. Fui até onde poderia ir. Os meus amigos perguntavam-me porque é que eu estava a vir para cá e eu respondia: “a vida é curta e o mundo está logo ali fora”. Portugal tem essa coisa maravilhosa de se falar português (risos). É de um extremo bom senso quando no planeta terra se fala português!

 

“O produtor do disco, Martin Scian, é argentino e mora no Rio de Janeiro, e quando lhe mostrei as canções, sendo argentino e distante deste universo, ele respondeu: ‘Para mim parece-me que é destas canções que vem a língua portuguesa, parece que estás a ir à fonte’”

 

Quer-nos explicar a sua ligação de sangue a Portugal?

Não tem muito mistério: como grande parte da população branca do Rio de Janeiro sem ancestralidade fidalga, por causa da corte, a minha família é de portugueses do Norte de Portugal que foram para o Rio de Janeiro no início do século XX, tal como para São Paulo foram os italianos e os japoneses; e para o Sul foram os alemães e polacos. A proposta do Governo era, precisamente, embranquecer a população. Era racista. Chegaram todos os meus bisavós no Rio de Janeiro e todos portugueses: um de Barcelos, outro de Vila Nova de Foz Côa e todos se conheceram no subúrbio carioca, todos portugueses, casaram-se, tiveram filhos – a minha mãe tem uns quatro avós portugueses e eu uns seis bisavós de Portugal. As minhas tias são todas umas portuguesinhas maravilhosas. E todas as tradições foram mantidas. E fiz ainda uma outra coisa: na busca pelas minhas raizes, durante este processo de Selvagem fiz um exame de DNA mitocondrial que pretende saber, exatamente, as nossas origens. É uma espécie de Google Maps que mostra de onde vem a sua família. Eu queria, de facto, ter algum sangue indígena brasileiro, mas não tenho nada! Sou 94% mediterrânico, 3% mouro e 3% negro, mas está um bocado na história do Brasil o branco ter sangue negro, mas não por vias românticas.

Está em Portugal há cerca de seis meses. Tem vontade de fazer o roteiro pelas suas raízes?

Eu já fiz isso com a minha mãe. Fomos ver algumas cidades e conhecer os primos distantes. Já fui a Barcelos e a Foz Côa, mas tenho que ir ainda a Bragança – à cidade de algumas das canções que estão no disco. É uma busca sentimental, de certa forma, mas o olhar mais para o futuro do que para o passado, entender como me posso colocar no mundo enquanto pessoa lusófona. Lisboa, embora vocês digam que é muito pequena, mas é a capital da lusofonia no mundo e isso não se encontra no Brasil: indianos falando português, não tem africanos lusófonos no Brasil. O Brasil é um lugar que fala português, imenso e gigante, e depois tem o resto. É uma ilha, muito distante, mas ao mesmo tempo muito próximo. É uma relação muito impactante.

 

“Os portugueses conhecem muito da música brasileira – é quase como se fosse vossa. mas escutar música portuguesa no Brasil é algo que não acontece e é uma grande falha de caráter do brasileiro. Mas o Brasil acha-se maravilhoso e precisa de um pouco mais de humildade”

 

Neste período em Portugal tem aproveitado para conhecer mais música portuguesa?

Sim e tem sido uma felicidade enorme! Os portugueses conhecem muito da música brasileira – é quase como se fosse vossa – e lá no Brasil não há nada. Sabemos que há Amália Rodrigues, Roberto Leal – porque vive no Brasil (risos). Os Madredeus também lá chegaram, mas escutar música portuguesa no Brasil é algo que não acontece e é uma grande falha de caráter do brasileiro – e das políticas culturais dos dois países, talvez. Mas o Brasil acha-se maravilhoso e precisa de um pouco mais de humildade. Mas sim, estou a descobrir vários outros artistas que fizeram este tipo de pesquisa, como o caso de Zeca Afonso ou Banda do Casaco. Podia nomear mais, mas posso errar porque ainda sou novo no assunto!~

Entrevista: Bruno Martins

Mariano Marovatto

Podes ouvir o disco Selvagem no Spotify.

Anterior Seguinte

Pode também gostar

Imagem de Raquel Ralha & Pedro Renato

Raquel Ralha & Pedro Renato

Imagem de Conan Osiris

Conan Osiris

Imagem de Homem em Catarse

Homem em Catarse

Imagem de António Bastos

António Bastos

Imagem de Linda Martini

Linda Martini

Imagem de Fugly

Fugly

Imagem de Minus & MRDolly

Minus & MRDolly

Imagem de Blasph

Blasph

Imagem de Nosaj Thing

Nosaj Thing

Imagem de Black Rebel Motorcycle Club

Black Rebel Motorcycle Club

PUB
Antena 3

Segue-nos nas redes sociais

Segue-nos nas redes sociais

  • Aceder ao Instagram da Antena 3
  • Aceder ao YouTube da Antena 3
  • Aceder ao WhatsApp da Antena 3

Instala a aplicação RTP Play

  • Apple Store
  • Google Play
  •  Perfil da Rádio
  •  Contactos
  •  Frequências
  •  Programação
Logo RTP RTP
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Youtube
  • flickr
    • NOTÍCIAS
    • DESPORTO
    • TELEVISÃO
    • RÁDIO
    • RTP ARQUIVOS
    • RTP Ensina
    • RTP PLAY
      • EM DIRETO
      • REVER PROGRAMAS
    • CONCURSOS
      • Perguntas frequentes
      • Contactos
    • CONTACTOS
    • Provedora do Telespectador
    • Provedora do Ouvinte
    • ACESSIBILIDADES
    • Satélites
    • A EMPRESA
    • CONSELHO GERAL INDEPENDENTE
    • CONSELHO DE OPINIÃO
    • CONTRATO DE CONCESSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO DE RÁDIO E TELEVISÃO
    • RGPD
      • Gestão das definições de Cookies
Política de Privacidade | Política de Cookies | Termos e Condições | Publicidade
© RTP, Rádio e Televisão de Portugal 2025