“Se escutarem com atenção vão ver que se notam diferenças no disco. Até temos um vocoder!”
Os norte-americanos Real Estate regressaram no mês passado aos discos. Chama-se In Mind, é o sucessor de Atlas, editado em 2014. É um trabalho que vem com gente nova na banda: Julian Lynch entrou para o lugar de Matt Mondanile (que ficou a tempo inteiro nos Ducktails) e juntou-se a Martin Courtney, Alex Bleeker, Matt Kallman e Jackson Pollis para fazer um disco que respeita tudo o que sabemos da vida musical dos Real Estate. As delicadas melodias das guitarras elétricas, a voz suave de Martin, agora com uns teclados um pouco mais presentes — como nos confirma Julian Lynch. Foi com o rookie da banda que conversámos sobre este novo In Mind. Ele, que veio de fora, que já era fã dos Real Estate e amigo de infância do vocalista, explica-nos a que soava antes a banda e como soa agora.
És o mais recente membro da banda: juntaste-te no ano passado, não foi?
Sim, há cerca de um ano. Fez no mês passado um ano!
Sei que já eras amigo da banda — sobretudo do Martin Courtney e do Alex Bleeker. Mas como é que o pessoal te recebeu?
Do meu ponto de vista, muito bem. Não foi nada esquisito, foi tudo muito suave. Tem sido um processo muito simples. Claro que tive de aprender as canções mais antigas, mas foi coisa rápida, que implicou algum treino — tive também de ajustar os meus horários, porque tinha um trabalho das 9h às 17h…
“O que eu queria era conseguir equilibrar o lado de não querer ser o novo gajo que entra e desilude os fãs por fazer algo muito diferente; ao mesmo tempo que queria fazer algo interessante para o que já estava escrito”
Calculo que também já conhecias bem o trabalho dos Real Estate, até por seres amigo deles. Este novo disco já estava a ser feito quando entraste para a banda?
O processo já tinha começado, sim. O Martin e o Bleeker já tinham escrito a maior parte das canções, talvez com uma ou outra excepção. Ainda assim, juntámo-nos todos em Nova Iorque, onde vive o Martin, e escrevemos as partes de cada um. Pode dizer-se que as canções não estavam completas, mas já estava tudo muito bem organizado.
“Para quem ainda só ouviu o single: vão conseguir ouvir muitas mais coisas novas ao longo do disco, mas creio que esse tema é representativo do disco dos Real Estate”
Eles explicaram-te o que é que tinham pensado para o disco?
Não explicaram muito, na verdade. O Martin tinha feito umas demos e foi isso que ele gravou e me mandou, por isso eu tive uma imagem bastante clara de como é que as canções iam soar e daquilo que eu poderia acrescentar-lhes.
A sua ideia era permanecer fiel àquele ambiente das guitarras etéreas, pop e meio flutuantes?
Por causa dos três primeiros discos, os Real Estate têm um estilo muito bem definido com o qual eu já estava bastante familiarizado e que queria honrar. Mas também me apercebi que queriam tentar coisas diferentes. O que eu queria era conseguir equilibrar o lado de não querer ser o novo gajo que entra e desilude os fãs por fazer algo muito diferente; ao mesmo tempo que queria fazer algo interessante para o que já estava escrito.
O que é que achas que este In Mind traz de diferente ao catálogo dos Real Estate?
Acho que traz muitas coisas diferentes. Pelo que me têm dito e por aquilo que tenho lido, não se sente uma grande mudança — e por mim tudo bem. Mas se escutarem com atenção vão ver que se notam diferenças. As canções mais antigas dos Real Estate têm um ambiente mais estável e atmosférico — sem grandes variações dinâmicas (sem haver muitas partes mais altas e outras mais baixas). Neste novo disco há muito mais disso, muitos mais momentos em que o Matt Kallman, o teclista, se faz ouvir muito mais: o sintetizador aparece, muitas vezes, até como instrumento principal. O Jackson, o baterista, também começou a trabalhar muito mais com elementos eletrónicos, drum machines… e até temos um vocoder numa das canções — no tema “Darling”. E isso é uma grande mudança!
“Não consigo ouvir música quando estou a estudar, a ler ou a escrever! Para quem não tem problemas com isso, acho que este pode ser um disco bom para fazer companhia!”
“Darling” é o primeiro avanço para este In Mind. Para quem ainda não escutou o disco, é uma boa amostra daquilo que se pode escutar?
De certa forma, sim. Mas é um disco com uma maior variação estilística. Para quem ainda só ouviu o single: vão conseguir ouvir muitas mais coisas novas ao longo do disco, mas creio que esse tema é representativo do disco dos Real Estate. Os fãs conseguem perceber logo que é uma canção dos Real Estate, mas há novos elementos que foram introduzidos.
Pelo que sei, além dos Real Estate tens um projeto a solo. Como é que conjugas os dois trabalhos?
Olha, de qualquer das formas nunca tive muito tempo para me dedicar exclusivamente ao meu projeto a solo — e acho que esse elemento nunca vai mudar! Também sou estudante — estou a tirar um doutoramento em antropologia da música e dantes ainda tinha o tal emprego a full time. Agora já não tenho esse emprego, estou só com a banda. Mas sempre que tenho tempo, lá vou trabalhando na minha música.
“As canções mais antigas têm um ambiente mais estável e atmosférico — sem grandes variações dinâmicas. Neste novo disco há muito mais disso, muitos mais momentos em que o Matt, o teclista, se faz ouvir muito mais: o sintetizador aparece até como instrumento principal”
A música dos Real Estate é boa para te fazer companhia quando estás a estudar?
Não! Estava a falar disso com a minha namorada: não consigo ouvir música quando estou a estudar, a ler ou a escrever! Para quem não tem problemas com isso, acho que este pode ser um disco bom para fazer companhia!
Entrevista: Bruno Martins