“A criação de personagens facilita a forma como queremos transmitir a nossa música”
João Branco, Bruno Monteiro, Jonas Gonçalves, e Leonardo Batista são de Alcobaça. São aqueles bons rapazes que fazem pela vida: entre estudos e trabalho, começaram a rodear-se de instrumentos musicais e formar bandas. A ouvir rock ‘n’ roll e a tocar para passar o tempo e para se divertirem. Foi com essa naturalidade que nasceram os Stone Dead: as influências do chamado stoner rock passou dos ouvidos para as composições que começaram a criar e depois até deixou uma marca no nome do grupo, nascido mais oficialmente em 2012. Editaram dois EP — Silver Ball e The Stone John Experience. E agora é a vez do primeiro longa-duração: Good Boys. Bruno Monteiro, o baterista, conta-nos as histórias destes bons rapazes.
Os Stone Dead começaram por ser uma banda de covers. Como é que se deu a evolução da banda?
Sim, começámos como banda de covers em meados de 2009. Depois sentimos a necessidade de compor uns originais. Foi em 2012 que nasceram os Stone Dead, na altura ainda com uma outra formação. O baixista era diferente — o Léo [Batista] entrou para fazer este disco, o Good Boys. Começámos com uma sonoridade muito pouco definida: gravámos dois EPs, a andar à procura da nossa sonoridade e agora, finalmente, achámos que encontrámos um caminho e decidimos gravar o álbum.
“A única coisa que podemos definir é a partir das nossas referências de outras bandas: o rock dos anos 69 e 70; no pop britânico, mas também em coisas mais americanas como os MC5 ou Stooges”
Como é que perceberam o caminho para onde queriam ir? Foi mais com conversas uns com os outros ou foi na sala de ensaio com as mãos nos instrumentos?
Acabou por ser tudo meio natural. Nós ouvimos desde pequenos muito rock: os nossos pais mostraram-nos Censurados e todas aquelas bandas portuguesas, mas também os Pink Floyd. Quando começámos a tocar, havia em Portugal uma onda muito stoner e se calhar acabámos por ir para aí, para um lado mais pesado. O nome Stone Dead até vem daí, claro. E começámos a prestar mais atenção a outras coisas: os clássicos dos Beatles, dos The Who, e começámos a perceber que estávamos mais confortáveis a compor dessa maneira.
Mas conservam muito desse registo stoner rock, misturando-o até com alguns universos do blues. Por exemplo, o tema de abertura, “Blooze”, vem com um solo que me fez lembrar as guitarras do Chuck Berry.
Sim, claro. Vamos a toda a base do rock ‘n’ roll!
O vosso primeiro EP chamou-se The Stone John Experience e este novo disco, Good Boys, conta a história de Tony Blue. É mais fácil trabalhar com personagens na cabeça?
Até acaba por ser quase por necessidade. Este disco demorou um bocado mais de tempo a gravar: tivemos alguns problemas, a gravar em vários estúdios, trocámos de baixista… algumas músicas já têm mais de dois anos. E nestes dois anos houve muitas mudanças nas nossas vidas: no meu caso, tenho 22 anos e foi aquele período em que mudamos um pouco a maneira de pensar. Era um conjunto de músicas que refletiam várias maneiras de pensar: uma parte mais adolescente, outra mais adulta… tivemos a necessidade de arranjar uma personagem que estivesse dentro desse universo de crescimento.
E qual é a história que conta o disco?
É uma história cronológica: desde o nascimento do Tony Blue até à morte.
“Aqui em Alcobaça não há muitos sítios para tocar, mas arranja-se! Seja um café, outro barzito aqui ou acolá… já fizemos uns concertos no quintal do meu pai. É um bocado mais “homemade”, mas pronto. Acho que é por aqui que se deve começar o movimento e pôr as coisas a acontecer. Se não há onde tocar nós arranjamos onde”
O Tony Blue também é um homem do rock?
Sim. Eu não defino o rock como sendo um estilo musical, ou como um estilo de vestir. O rock ‘n’ roll é um espírito. Mas sim, pode dizer-se que ele era um rock ‘n’ roller.
O Stone John, do vosso primeiro EP, também era uma personagem?
Sim, uma personagem que acabámos por criar quando decidimos lançar o EP e arranjar uma capa. Não foi tão pensado como uma história cronológica: é algo mais abstracto. A criação de personagens facilita a forma como queremos transmitir a nossa música. Acho que olhamos para as músicas e não as vemos como coisas individuais. Parece que faz mais sentido se for visto tudo junto. Acho que transmite muito mais aquilo que queremos passar.
Como é que definem a vossa música?
É aquela pergunta de difícil resposta… a única coisa que podemos definir é a partir das nossas referências de outras bandas: o rock dos anos 1960 e 70; no pop britânico, mas também em coisas mais americanas como os MC5 ou Stooges. Também em algumas coisas mais psicadélicas… o que resulta daí são as pessoas que têm de nos dizer!
Este vosso primeiro longa-duração chama-se Good Boys. Quem é que são os bons rapazes? O Tony Blue e os amigos dele ou a vossa banda?
Pode ser tudo um bocado relativo! O Tony Blue não sabe se as pessoas que estão à volta dele são bons ou maus rapazes. O disco também trata dessa reflexão: da relatividade que existe entre aquilo que eu vejo e aquilo que as outras pessoas são. Mas podemos considerar-nos “Good Boys”! Acho que somos bons rapazes (risos).
“Este disco demorou um bocado mais de tempo a gravar: tivemos alguns problemas, a gravar em vários estúdios, trocámos de baixista… algumas músicas já têm mais de dois anos. Foi aquele período em que mudamos um pouco a maneira de pensar. Era um conjunto de músicas que refletiam várias maneiras de pensar: uma parte mais adolescente, outra mais adulta…!”
Além dos Stone Dead o que é que fazem? Dedicam-se aos estudos?
Estamos todos a acabar os cursos. Eu fiz uma pausa para me dedicar um bocado mais à música e a outras coisas de que gosto mais, como a edição de vídeo. O Jonas está já a trabalhar, por exemplo. Mas estamos todos a trabalhar e no fim dos estudos.
Vocês são de Alcobaça. Como descreves o movimento rock aí na zona?
Aqui em Alcobaça não há muito… Leiria, que é aqui ao pé, tem um movimento mais de pós-rock, tem a Omnichord Records… aqui em Alcobaça estamos nós, os Sidewalkers. O que está a começar a criar mais movimento é a Ya Ya Yeah, que é uma agência e promotora de concertos, fundada pelo nosso guitarrista — o Jonas. Acho que melhores tempos virão, mas ainda há pouca coisa. E há potencial para haver mais.
Há sítios para tocar aí na zona?
O que tem provocado mais movimento é mesmo o espírito da Ya Ya Yeah: não há muitos sítios para tocar, mas arranja-se! Seja um café, outro barzito aqui ou acolá… já fizemos uns concertos no quintal do meu pai. É um bocado mais “homemade”, mas pronto. Acho que é por aqui que se deve começar o movimento e pôr as coisas a acontecer. Se não há onde tocar nós arranjamos onde — é mais por aí.
Entrevista: Bruno Martins