São cinco nomes que estão ativos no cinema e que deveriam ter maior exposição. Rui Pedro Tendinha lança uma seleção de esperanças de talentos a merecer maior reconhecimento. Apostas que são certezas da diversidade dos trilhos da nossa cinematografia…
Justin Amorim
Os poucos que viram o seu filme de estreia em 2018, o subestimado Leviano, talvez tenham percebido que nasceu um esteta. Alguém sem medo de incluir referências a Sofia Coppola e misturar um imaginário de pop lusitano numa história sobre segredos familiares de três irmãs “benzocas” algarvias. Justin Amorim estreava-se em suspensão e com os tempos certos de uma sensualidade “anormal” no cinema português. O filme foi ignorado pelo público, pois a sua promoção ia pelos caminhos de uma aproximação a Morangos Com Açúcar. Daqui a uns tempos, será seguramente recuperado, nem que seja pela estreia em cinema de Alba Baptista, logo aqui a prometer mundos e fundos.
O importante também com Justin é perceber a sua dinâmica como produtor e agregador de projetos. Depois de Leviano, alavancou a sua Promenade Films e tem produzido webséries, séries e curtas, sempre segundo um princípio de revelar novos valores. E o segredo é misturar estilos e registos. Vem aí muita coisa boa e a certeza de voltar a filmar Alba Baptista, a musa que descobriu e que recentemente dirigiu para um vídeo para a Vogue Portugal que ficou viral…
Isabél Zuaa
Sintomático, o caso desta atriz portuguesa com maior reconhecimento no Brasil do que em Portugal. É lá fora que tem vencido prémios atrás de prémios, com destaque para o estardalhaço que provocou no Festival de Gramado com a vitória como melhor atriz principal e melhor atriz secundária nesta última edição. Um furacão capaz de transformações radicais, de mulher-lobo em As Boas Maneiras a escrava digna em Joaquim.
Atriz de impetuosa dignidade, Isabél tem estado em todas no cinema brasileiro. Recentemente, foi imperial como musa moçambicana em Um Animal Amarelo, de Felipe Bragança, e por estes dias é uma das atrizes do excelente Desterro, de Maria Clara Escobar, obra que tem estreia marcada para os nossos ecrãs após o Doclisboa.
Em Portugal, só muito recentemente alguma imprensa lhe deu a atenção devida. Uma atriz com sucesso de pele escura talvez ainda incomode muita gente neste país…
Eduardo Brito
Entre a verdade-ficção-memória passa o cinema deste vimaranense, habitual presença no Curtas Vila do Conde. Eduardo Brito é um dos valores mais seguros de um cinema que se fabrica em modo “do it yourself” e com a anuência da Bando à Parte, produtora de Rodrigo Areias que tanto gera projetos de Edgar Pêra como esse fenómeno chamado Listen. E este é um caso sério de criação de um universo cinematográfico que toca os limites da instalação e da fotografia. Mas filmes como Penumbria, Declive e Ursula também remetem a sua filiação narrativa a afluentes literários de um surrealismo que lembra Gonçalo M. Tavares.
Mas é também como argumentista para outros cineastas que a sua imaginação voa para ideais de ficção inovadores, tal como se pôde comprovar em Hálito Azul, de Rodrigo Areias, ou A Glória de Fazer Cinema em Portugal, de Manuel Mozos. Entretanto, era bom que fizesse urgentemente uma longa em nome próprio…
Nuno Nolasco
É um nome e um rosto que têm sido recorrentes em curtas-metragens e no teatro. Nuno Nolasco está naquele preciso momento em que está a ficar um dos atores com maior procura no audiovisual português, sobretudo para os próximos tempos, com dois papéis de destaque em filmes que vão fazer rolar muita tinta: Bem Bom, de Patrícia Sequeira, e o muito esperado Mar Infinito, filme de ficção científica de Carlos Amaral.
Formado na Escola Superior de Teatro e Cinema, tem aquele porte certo que pode dar tanto para “leading man” como para ator de composição. A boa notícia é que tem conseguindo impor-se sem fazer novela há muito. Quem já tinha reparado nele em Pedro e Inês, de António Ferreira, talvez tenha percebido logo que a câmara gosta dele. Tal como Albano Jerónimo ou Nuno Lopes, também tem tudo para poder começar a sonhar com carreira internacional…
Ricardo Oliveira
Saber filmar detalhes, criar nuances e encontrar caminhos de cinema. Tem sido esta a vida de Ricardo Oliveira, neste momento ainda numa fase de anonimato — poucos conhecem as suas curtas, e o argumento de Linhas de Sangue, comédia de terror com um dos maiores elencos de sempre no cinema português, já está desculpado. Pelo menos, até à próxima semana, altura em que chega às salas Sol Posto, o filme-concerto que dirigiu para os Capitão Fausto, depois de já ter assinado Pontas Soltas, incursão ao processo criativo da banda de Alvalade, possivelmente o melhor momento musical do documentário nacional em muitos anos.
A aliança com os Fausto já originou um teledisco, “Teresa”, prova viva de uma noção de um imaginário muito próprio. Se Ricardo Oliveira se tornar o cronista visual oficial da maior banda pop portuguesa, que isso não anule todo o cinema que tem para dar no futuro. E importa realçar que é um cineasta que não tem medo das referências cinéfilas…