Ao longo do ano, a Antena 3 vai revisitar o punk, canção por canção. Revisitar não só o punk, que eclodiu em Inglaterra há quatro décadas, mas também descobrir, lá atrás no tempo, aqueles que o prenunciaram quando punk não era ainda género musical e, um pouco depois desse tempo, aqueles que dele frutificaram.
Anti-Nowhere League – So what
Quem o descobrisse em 1979 a viver nas montanhas do Canadá, de barbas compridas e a alimentar-se de coelhos, não imaginava o que ele fora e muito dificilmente imaginaria o que ele viria a ser. Mas havia uma razão para Animal, nascido em Inglaterra, andar escondido no Canadá no final dos anos 1970. Problemas com gangues de motas, explicou sem revelar muito. Assim já fazia mais sentido. Porque era realmente pessoal de gangues motorizados aquilo que pareciam os Anti-Nowhere League, a banda que Animal fundou em 1980 no regresso do exílio canadiano e que diz tê-lo salvo de uma vida na prisão.
Apresentaram-se com um dos grandes hinos de punk, manifesto niilista por excelência. “So what?”, gritava Animal e gritavam em coro com ele Magoo, o guitarrista de dentes ameaçadoramente cariados, Winston, o baixista com boina de motoqueiro da velha guarda, e PJ, o baterista coberto de cabedal, como era de rigor na banda. Gritavam “So what?” como ameaça, como um “não me chateiem!” que era mesmo para levar a sério.
A letra era uma sucessão de provocações profanas que incluíam bestialismo, uma lista de doenças venéreas, referências a drogas e bebedeiras de caixão à cova. Quando foi editado em 1981, as autoridades inglesas apreenderam o single, que tinha no lado A uma versão de “Streets of London”, original de Ralph McTell. Razão? Atentado ao pudor, naturalmente. Os Anti-Nowhere League, rufias mal encarados despertados para o punk ao som dos Stranglers e dos Clash, tipos que se tornariam heróis de uns rapazes de São Francisco chamados Metallica, banda que, anos depois lhes recheou a conta bancária com uma versão da canção de que aqui se fala, tinham resposta pronta. Encaravam-nos de frente, furiosos e prontos para a porrada, espetavam o dedo do meio nas trombas do respeitinho e berravam “e então?”. Perdão, gritavam “So what?”. Não, não estavam aqui para brincadeiras.
Ficha Técnica:
Texto – Mário Lopes
Voz – Daniel Belo
Sonoplastia – Luís Franjoso