Ao longo do ano, a Antena 3 vai revisitar o punk, canção por canção. Revisitar não só o punk, que eclodiu em Inglaterra há quatro décadas, mas também descobrir, lá atrás no tempo, aqueles que o prenunciaram quando punk não era ainda género musical e, um pouco depois desse tempo, aqueles que dele frutificaram.
Sham 69 – If The Kids Are United
Os Sex Pistols queriam demolir tudo e logo se via o que fazer a seguir. Os Clash queriam despertar consciências e agregar para reconstruir. Os Generation X queriam pôr a carinha laroca do Billy Idol na televisão e nas capas de revistas. Cada um tem as suas ambições, não é? Os londrinos Cockney Rejects, por exemplo, tinham um objectivo muito claro. Para eles, o punk seria a forma de porem, não Billy Idol, mas o seu clube, o londrino West Ham, em grande destaque nos media. Assim o pensaram, assim o fizeram. E ei-los no Top of The Pops vestindo orgulhosamente a camisola da equipa e depois, bem, depois acabou-se. Com o hooliganismo descontrolado naquele final dos anos 1970, nunca mais os Cockney Rejects conseguiram tocar onde quer que fosse. Todo e qualquer concerto, noutra cidade ou fora da zona este de Londres onde o West Ham está sedeado, seria interrompido por centenas de adeptos rivais desejosos de lhes chegar a roupa ao pêlo. Se o punk foi, também, a banda-sonora da jovem e desiludida classe operária britânica, então o futebol, o desporto do povo, tinha que entrar na equação.
Os londrinos Sham 69, “working class” até ao tutano, representaram de forma perfeita essa existência. Qualquer sofistação conceptual ou ambição literária era, naturalmente, de evitar. Interessava as emoções à flor da pele, o discurso directo, o rock’n’roll puro, acelerado e sem adulterações. Interessava pôr o público a tornar-se um com a banda, como no peão dos estádios milhares cantando juntos se tornavam um com o clube.
Considerados um dos precursores do movimento “Oi!”, a versão mais crua do punk, tragicamente minado e aproveitado pela xenófoba, violenta e descerebrada extrema-direita skinhead, os Sham 69 eram bons hooligans com um bom gosto musical. Aproveitaram as lições dos The Who, dos Kinks, dos Yardbirds ou dos Small Faces e transportaram-nas para a bancada. Combateram a tentativa de infiltração skin nos seus concertos, deram porrada e levaram porrada. Rockaram como se quer, entre a festa animada e o ameaça velada, e, de caminho, tornaram-se uma das bandas britânicas mais bem sucedidas do período punk. Em 1978, deixaram uma canção e um cântico para a história. “If the kids are united / they will never be divided”. O teu clube é o meu clube. O teu clube é o nosso clube.
Ficha Técnica:
Texto – Mário Lopes
Voz – Daniel Belo
Sonoplastia – Luís Franjoso