Texto: Pedro Paulos | Locução: Nuno Reis | Sonoplastia: Gualter Santos
Fotografias: Joaquim Pinheiro (cedidas por Elísio Donas)

Dia 15 de setembro de 1997. Foi esta a data escolhida pelos Ornatos Violeta para lançarem o seu primeiro disco, depois de largos anos de amizade e comunhão musical. Há 20 anos, a icónica banda portuense lançava Cão!. Os Ornatos Violeta vieram mais tarde a estabelecer um estatuto de banda de culto, mas estiveram a maioria da sua história sem lançar discos e com uma sonoridade distinta. A Antena 3 esteve à conversa com Manel Cruz, Nuno Prata, Peixe, Kinörm e Elísio Donas para descobrir tudo o que aconteceu até ao lançamento do Cão!.

A história começou na Escola Artística Soares dos Reis, na cidade do Porto. Apesar de hoje ser uma escola secundária, quando lá entraram o ensino começava a partir do 7.º ano de escolaridade. Foi assim que Nuno Prata, Peixe e Kinörm se conheceram. Eram da mesma turma. Manel Cruz era da turma B, que se fundiu com a turma dos restantes no 10.º ano. Naquela altura, a mais importante escola secundária de artes do Porto era composta pelo futuro da sua força criativa: alternativos, vanguardistas e excêntricos, uma escola diversificada onde as subculturas e nichos artísticos davam os seus primeiros passos. Apesar disso, não sentiam que a sua escola fosse muito diferente das restantes da cidade. Não achavam que a vida deles fosse diferente das dos outros jovens. A escola era a sua vida, tanto que o nome da sua primeira experiência em formato banda era um trocadilho com o nome da escola. Neste especial, descobrimos as suas primeiras interações musicais e até as suas ambições da altura, que, tendo em conta o que conseguiram, eram bastante simples.

Há muitos detalhes da viagem até ao Cão! que também não estão implícitos no disco, como a invenção do nome da banda, a banda ter começado antes de todos saberem tocar bem os seus instrumentos ou até o primeiro vocalista da banda — não, não foi o Manel Cruz. É ainda com outra voz que Elísio Donas conhece a banda, muito antes de fazer parte dela.

Mas o Cão! só aparece alguns anos depois. Antes ainda, houve algumas férias em conjunto, uma enorme cumplicidade, “Dez Lamúrias por Gole”, Termómetro Unplugged, Rock Rendez-Vous, Montpellier, Red Wings Mosquito Stings e toda uma reviravolta… Só depois surge Nuno Faria, da Polygram, com um casaco de camurça e um contrato na mão. Mudaram-se os hábitos, e mesmo a gravação não foi nada fácil. O melhor é ouvir contado pelos próprios.