Na reta final do Festival de Cannes 2025, um dos filmes que mais deu que falar foi Alpha, o aguardado regresso de Julia Ducournau à competição principal, quatro anos depois de vencer a Palma de Ouro com Titane.
Conhecida pelo seu estilo provocador e abordagem de body horror, Ducournau apresenta agora um registo mais contido, mas igualmente intenso. Alpha segue uma adolescente que, após fazer uma tatuagem numa festa, começa a temer ter contraído uma doença misteriosa — num contexto inspirado nos anos 80 e 90, durante uma epidemia que ecoa claramente a crise do HIV/SIDA.
O filme explora o medo, a herança emocional e o trauma intergeracional entre mãe e filha, com uma linguagem que, embora mais subtil que RAW ou Titane, mantém a assinatura visual e emocional da realizadora. A receção do público foi entusiástica: a estreia teve 11 minutos e meio de ovação, e até um episódio de emergência médica na sala (não relacionado com o filme) ajudou a sublinhar a intensidade da sessão.
Numa entrevista dada em Cannes à Antena 3, Ducournau refletiu sobre como o medo da doença, o silêncio familiar e o peso da herança emocional moldam o presente — e também sobre o que esse passado ainda nos tem para ensinar.
Além da narrativa poderosa, a banda sonora de Alpha é um dos seus pontos altos, com momentos marcantes ao som de Tame Impala (“Let It Happen”), Nick Cave, e “Roads” dos Portishead — esta última numa cena-chave que desencadeia a história.