“Temos 20 anos: é um bocado à balda e queremos é divertir-nos”
Rápidos e eficazes. Sem grandes pretensões e preciosismos: eis The Sunflowers, dupla formada por Carolina Brandão e Carlos Jesus — ela baterista e ele guitarrista — que no ano passado editou The Intergalactic Guide to Find the Red Cowboy, o disco de estreia com um punk rock de pêlo na venta depois de dois EPs que deixaram uma belíssima marca.
Conversámos com a talentosa baterista, que nos explica a origem desta dupla de girassóis do Porto que gravitam em torno de batidas velozes e guitarras distorcidas.
A história dos Sunflowers começou a nascer com dois EP. Como é que surge a ideia do álbum? Foi preciso ir à procura de um conceito para poderem trabalhar as canções?
Uma coisa boa da nossa banda é que temos uma química muito forte. Tudo o que quer que façamos, fazemos com facilidade, sem muita discussão. Acho que já sabíamos o que é que queríamos. Eram músicas que tínhamos guardadas e que sabíamos que eram boas, que íamos gravá-las para o álbum e foi só questão de pôr isso em prática. O conceito também foi uma coisa que fomos discutindo durante algum tempo, até porque a faixa que dá nome ao álbum — The Intergalactic Guide To Find The Red Cowboy — já tínhamos feito há muito tempo, ainda antes de sermos The Sunflowers, oficialmente. Apesar de ter sido feita há dois anos, o “cowboy vermelho” é algo que conseguimos inserir na nossa estética e que casa bem com o que queríamos.
E acabou por ser bom para vos guiar para um trabalho mais coeso.
Uma coisa que acho que é interessante em nós é que parece que estamos a fazer o que nos apetece. Não vou dizer que é pensado, mas também não é ensaiado: é algo que nos sai naturalmente e é isto que cria o conceito da banda. É difícil explicar o que é isso do conceito, que nós temos na nossa cabeça — às vezes não conseguimos é explicá-lo bem. A ideia do cowboy foi importante para manter uma linha, até porque o primeiro álbum é uma coisa complicada, até por ser a primeira vez que o fazemos.
“Começámos com bandas folk, em que as letras são extremamente importantes. Quando nos juntámos até pode ter sido para descansar um bocadinho dessa vertente e passar para algo mais descomprometido”
Os Sunflowers são só dois, mas no disco vão-se ouvindo outros instrumentos, como o baixo e o piano.
Nós, em palco, só conseguimos mesmo tocar bateria e guitarra — com a guitarra ligada também a um amplificador de baixo. Mas uma das coisas boas do estúdio é podermos acrescentar tudo o que queremos e que não conseguimos fazer ao vivo. Fica gravado tudo aquilo que vem da nossa cabeça, se bem que há muita gente que nos diz que devíamos acrescentar um baixista.
Este é um disco com várias história de pessoas e personagens. São também experiências próprias?
Nós não dávamos muita atenção às letras, mas agora damos cada vez mais, apesar de termos uma ideia definida. Começámos com bandas folk, em que as letras são extremamente importantes. Quando nos juntámos até pode ter sido para descansar um bocadinho dessa vertente e passar para algo mais descomprometido: temos 20 anos, estamos a tocar, é um bocado à balda e queremos é divertir-nos. Mas fomos buscar ideias a coisas meio idiotas: “Hasta La Pizza/Rest in Pepperoni” foi algo que vi numa t-shirt na H&M e mandei uma foto ao Carlos, que me respondeu: “Bora fazer uma música disso!” (risos) Estávamos num ensaio, fizemos uma música e desenvolvemos a ideia a partir daí. Por exemplo, nessa mesma música, só tínhamos um verso feito e só no dia em que fomos para o estúdio gravar a voz é que a escrevemos. Mas claro que também há músicas que tiveram mais cuidado.
A banda cresceu muito num relativo curto espaço de tempo. Claro que ajuda o facto de terem criado uma belíssima química entre os dois. Como é que se conheceram?
Já nem sei bem… acho que foi no início de 2014. O Carlos tinha uma banda com outra pessoa e estava à procura de baixista. Foi por aí que eu entrei, mas parece que os bateristas são superdifíceis de arranjar e então peguei em peças antigas da bateria dos meus irmãos e aprendi a tocar com ele. O outro elemento saiu, ficámos só nós os dois e acabou por ser uma coisa natural. Também ajuda porque agora já somos namorados… quer dizer, quase desde o início. Mas é uma ligação que nem todas as bandas têm.
E há algumas que até preferem deixar no segredo. Estou a lembrar-me dos White Stripes, também só de bateria e guitarra: o Jack e a Meg também esconderam sempre que eram namorados.
Não é essencial. Mas assim também nos dão quarto de casal quando vamos para concertos. É mais fácil: eu também já meti isso no raider técnico. É muito menos trabalheira. Só que também não acho que seja importante estar a dizer que somos namorados.
“O Carlos tinha uma banda com outra pessoa e estava à procura de baixista. Foi por aí que eu entrei, mas parece que os bateristas são superdifíceis de arranjar, e então peguei em peças antigas da bateria dos meus irmãos e aprendi a tocar com ele.”
Eras para ser baixista e tornaste-te baterista — e bastante competente!
E estou bastante melhor!
Como é que se dá essa passagem para a bateria?
Sempre achei que não tinha jeitinho nenhum, mas foi a força das circunstâncias. Eu faço parte de uma família muito musical, por isso também gosto de ter alguma versatilidade: também gostava de guitarra, baixo, de dar uns toques nas teclas. Foi um processo natural. Eu sou perfeccionista, mas não tenho paciência nenhuma para praticar nem para ensaiar ou aprender devagarinho com regras. Peguei na bateria, comecei a fazer barulho, começou a soar-me bem e aparentemente até tenho algum sentido de ritmo. O que ajudou imenso foi ter tido imensos concertos! Às vezes as perguntam-me onde é que podem aprender a tocar e eu digo:”olha, toca e aprendes!”
“Ficámos só nós os dois, e acabou por ser uma coisa natural. Também ajuda porque agora já somos namorados… quer dizer, quase desde o início. Mas é uma ligação que nem todas as bandas têm”
Foi o que tu fizeste, só que no palco.
Sim. Também é uma boa experiência, que perde-se o medo de palco. Foi algo que nunca tive. Nenhum dos dois, aliás: é uma coisa ideal para nós!
Os nervos acontecem mais quando as bandas se levam muito a sério? Como aquelas que no início das carreiras acham que têm de fazer aquele som que nunca ninguém ouviu antes…
É importante não ir com pressão. Aquelas bandas que acham que vão dar o melhor concerto do século e que vai ser tudo fácil a partir daí, podem ver tudo a tornar-se mais complicado quando se sobe ao palco. Sempre nos disseram que isto ia demorar tempo! É melhor abraçar o momento e não estar com pressões. Se as pessoas gostarem, ótimo!
“Sempre nos disseram que isto ia demorar tempo! É melhor abraçar o momento e não estar com pressões. Se as pessoas gostarem, ótimo!”
Disseste que lá em casa houve sempre muita música. És a irmã mais nova? O que é que se ouvia por lá?
Sou a mais nova de quatro irmãos muito ecléticos. A minha irmã mais velha é pianista clássica; depois o meu outro irmão trabalha nos Estúdios Sá da Bandeira, o outro a seguir — que é o que toca bateria — sempre teve uma onda entre o blues e reggae. A minha paixão pela música foi uma junção de várias coisas: todos temos coisas diferentes, mas também nos vamos influenciando quando estamos juntos. Mas acho que como irmã mais nova também quis provar que, tal como eles, também podia fazer alguma coisa na música.