14 de Março de 2016
Malas feitas e pesadas, começou a viagem!
Apanhamos o comboio para Lisboa e assim que aqui chegamos aproveitamos para fazer aquela que será, muito provavelmente, a última refeição saudável da semana – em Austin temos à nossa espera uns valentes quilos de hambúrgueres e batatas fritas.
A viagem de comboio foi tranquila, aproveitamos aquelas três horas chatas para acertar todos os detalhes: como vamos comunicar (sim, levamos Walkie Talkies), qual será o ponto de encontro em Austin no caso de nos separarmos e como vamos acelerar a saída do aeroporto à chegada (convém recordar que chegamos a Austin amanhã às 22:00 e três horas depois estaremos a tocar!).
Neste momento estamos já no Aeroporto da Portela, à espera da hora de embarcar. Temos pela frente 5 horas de tédio. Para passar o tempo, escrevemos umas linhas neste diário e vemos uns vídeos que o Nelson fez durante o dia com uma GoPro que alguém lhe emprestou. Está ele aqui a dizer que vai andar todos os dias com a câmara enfiada num boné, para filmar todos os momentos do SxSW :)
15 de Março de 2016
Estamos agora a acordar pela primeira vez em Austin TX, ainda a recuperar do Jet Lag. Ontem, como sabem, chegamos e passadas poucas horas estávamos a tocar.
Foi uma noite acelerada. No aeroporto de Newark passamos na polícia aduaneira sem que nos abordassem para revisões das malas – não é muito comum quando se viaja com instrumentos musicais para os EUA. Mas o voo de ligação para Austin atrasou duas horas (ninguém sabia dos pilotos!!). Isto condicionou o primeiro concerto porque tínhamos apenas 3horas para lá estar depois de aterrarmos.
À nossa espera estava o Sebastian, um amigo chileno do Samuel que vive em Austin e que foi uma espécie de road manager informal: apanhou-nos no aeroporto, emprestou-nos uma guitarra e um baixo (instrumentos que optamos por deixar em Portugal) e deixou-nos rapidamente no Empire Room, local onde tocamos. Já incrivelmente atrasados montamos o nosso set a correr, tocamos sem sequer fazer sound check e devido ao atraso tivemos de reduzir o alinhamento. Rock n rol!! Foi altamente!!!
Amanhã voltamos a falar…
16 de Março de 2016
Ontem andamos meios perdidos pelo festival, há muita coisa a acontecer ao mesmo tempo e é difícil escolher. E a escolha não se limita apenas à música – a vertente de cinema e tecnologia também vale muito a pena. Depois de ver umas quantas new apps de miúdos sul-coreanos fomos dar a nossa primeira entrevista, com o Ewan Spence, um jornalista especializado em música e tecnologia que trabalha para diferentes meios como BBC e Forbes. O dia funcionou sobretudo para conhecer a cidade, porque na verdade a vertente da música do SXSW ainda não tinha começado. Perceber como a cidade está cheia de contrastes incríveis, por exemplo encontramos um restaurante mexicano muito perto do centro que era uma espécie de vortex para um western, ficamos lá a comer tacos durante horas.
Mas hoje a azáfama é outra! Chegando à 6th Street há música por todo lado não só dentro dos bares, onde imensas bandas sobretudo de austin enchem as tardes com música ao vivo, mas também na rua. Tudo isto completamente à parte da programação oficial. Mas essa também é muito aliciante, e começamos o dia logo por ir ver um concerto frenético dos YACHT (banda da DFA de que gostamos muito). Depois seguimos para o Convention Center onde estavam a tocar os Lapsley. Base rítmica peculiar coberta por uma voz incrível – é daquelas bandas que daqui a uns meses vai estar na boca do mundo.
Temos que referir que passamos parte do nosso tempo nos artists lounges espalhados pela cidade onde, para além dos copo grátis, acabamos por conhecer imensos músicos de todo o mundo. Mas ainda há muito para ver por isso seguimos viagem e do nada apanhamos os Jambinai a começar o seu concerto. Estes sul coreanos abrem as hostes no Elysium e daqui a nada voltaremos aqui para ouvir os Doomsquad.
Mas eis que por um sorte descomunal damos de caras com a venue da NPR (National Public Radio) e entramos rapidamente para ouvir o inconfundível Charles Bradley! Muito amor naquele homem com um público completamente rendido à sua voz mas também à sua incrível banda!
Depois de uma passagem rápida pelos Petite Noir – já tinham tocado connosco no Mexefest deste ano – encontramos os Dengue Dengue Dengue! a tocar na festa oficial da Surefire. Viagem directa para o Perú com uma cumbia distorcida por uma electrónica negra. Impecável!!
A noite acabou com metade da malta a ver um concerto suado do Stormzy (o novo rei do Grime do Reino Unido) e outra metade a ouvir os AlunaGeorge a fecharem a noite com muito groove no Hype Hotel!
17 de Março de 2016
Hoje o dia começou bem cedo, porque a programação do South by Southwest (SXSW) voltou a estar repletas de bandas incríveis.
A grande atracção do dia era sem dúvida o curadoria dos programadores do festival Levitation (substituto do Psych Fest que tem este ano um cartaz absurdamente bom!) no Hotel Vegas.
Mas antes disso era tempo de ir ao Spotify House para ouvir uma daquelas surpresas que nos caiu nos braços quando analisámos o line up do SXSW.
O Anderson.Paak é daqueles músicos que tem um background com tudo para dar errado (antigo baterista do American Idol entre outras façanhas musicais), mas a verdade é que ele e a sua banda (The Free Nationals) tem um tal potência e energia que nos fazem lembrar aqueles concertos gigantes do Kendrick Lamar. Um Hip-Hop com influencias pop com Paak a saltar constantemente entre o microfone e o stool de bateria.
Depois de um brunch do pior que existe (acho que nunca vi ser possível empilhar tantas salsichas numa única sande), seguimos para o Hype Hotel onde estava lá uma das bandas que mais queríamos ver. Blanck Mass, projecto a solo de Benjamin John Power (Fuck Buttons) já estava a debitar a sua electrónica negra mas extremamente rica em melodias distorcidas e baterias corpulentas. As 50 pessoas que viram este concerto sentiram-se numa verdadeira sessão de ensaio com logística de festival de massas. Haveríamos de o encontrar de novo em condições bem melhores.
Ainda no Hype Hotel conseguimos finalmente encontrarmos nos com o Cheky (Algodon Egípcio). Já tínhamos andado a trocar alguns emails antes do SXSW, mas ali deu tempo para trocar algumas impressões sobre o festival e sobretudo lançar uns quantos planos futuros. Fiquem atentos!
Agora sim era tempo de ir para o Hotel Vegas onde nos esperavam os melhores concertos do dia. Começamos logo abrir com o rock potente dos Sunflower Beam. Uns miúdos de Brooklyn que andam na boca do mundo como uma das novas grande apostas do punk-rock americano. Depois desta descarga de electricidade o contraste não podia ser maior, com o Indrajit Banerjee e Gourisankar (vindos directamente de Calcutá) a acalmar as hostes com a sua música tradicional indiana.
Contudo estava toda a gente em polvoroso para ver a “melhor banda do mundo”, como todas as bandas que passavam por aquele palco iam dizendo. Os The Oh Sees voltaram a colocar o “volume no 11” e o público entrou em delírio!
Depois de um jantar á base de saladas (desintoxicação completa) voltamos para o Vegas, onde já nos esperava o tuareg Bombino. Para além da música por si só já muito boa, agora os concertos eram acompanhados por projecções como as Liquid Light Shows dos anos 70 (vejam alguns dos concertos dos Pink Floyd para perceberem o que é isto). A noite ainda nos reservou um novo concerto dos Blanck Mass bem mais intimista e enérgico (os Foals também por lá andavam a ver concertos no meio do público) e um concerto muito estranho dos veteranos faUSt.
18 de Março de 2016
O dia de hoje centrou-se sobretudo no concerto que daríamos à meia noite no Hideout Theatre, mas antes de iniciar a rotina normal de preparação do concerto ainda tivemos tempo para um bom barbecue texano e ir até ao Spotify House ver uma das novas apostas da Matador. Os Car Seat Headrest são uns miúdos de Seatle cuja transparente timidez durante o sound check não antecipa a consistência do seu concerto. Muito competente considerando a tão tenra idade – têm praticamente todos 22 anos.
Depois deste momento de descompressão era altura de focar as atenções no concerto da noite. Depois de recolhermos todo o equipamento na casa do Will (o nosso grande anfitrião!) dirigimo-nos para o Hideout Theater com alguma antecedência. Dessa forma conseguimos perceber todas as limitações logísticas do espaço e antever a organização dos vários concertos que decorreriam à noite. Existia um período muito curto de change-over entre bandas e não queríamos comprometer a apresentação de todo o alinhamento. A malta da produção foi impecável e o espaço era propício à apresentação do Hypertext. Um pequeno auditório para 100 pessoas com todas as condições de áudio e vídeo que precisávamos.
Finalizado isto foi tempo de jantar. O João Afonso (director da Musikki) juntou-se à trupe e assim podemos partilhar algumas das muitas façanhas que nos tinham acontecido durante o festival. Entretanto, os concertos no Hideout já tinham começado. Chegamos a tempo de ouvir um pouco do espectáculo dos Tan frio el Verano. Uns simpáticos venezuelanos que traziam na bagagem um Shoegaze bem oleado.
À parte da música, todas as bandas que tocaram nesta noite no Hideout Theatre traziam consigo um espectáculo visual próprio. Foi interessante perceber também como as oscilações estéticas dos vídeos de cada banda tornou toda a experiência mais emersiva.
Os Tan frío el Verano deram um concerto para meia casa mas quando os veteranos da música electrónica entraram em palco a audiência desceu consideravelmente. Facto este que não fez jus (de todo) ao espectáculo incrível que os nova-iorquinos o13 proporcionaram a quem no Hideout permaneceu. O Kent e o Mark pertenceram a bandas como Holy Ghost e Live Skull e a sua refinada electrónica só é tangível a quem já anda nisto há muitos anos. Perfeito!
Chegada a nossa vez de entrar em palco, o receio de ter uma sala às moscas parecia irremediável. Mas não!! Por força de uma qualquer divindade a sala foi ficando preenchida até um ponto que nunca tinha estado nessa noite (modéstia à parte mas é a verdade). Tínhamos agora que atiçar aquelas almas que confortavelmente sentadas (sim cadeiras…) se preparavam para ver Holy Nothing.
Foi dar tudo à casa! Conseguimos que se soltassem as primeiras reacções de vida para lá do palco e o entusiasmo do público foi crescendo galopante! Resumidamente: Um concerto ALTAMENTE!! Que deu ainda mais gozo por quebrarmos aquela leve camada de gelo que calava o público.
O pós concerto deu-se entre conversas com malta do público, stage managers, press, músicos que fizeram questão de expressar o seu agrado perante o concerto. Ainda deu tempo para voltar a falar com o Kent (o13) sobre umas quantas ideias que estamos a magicar. A receptividade dele foi fenomenal por isso esperem por muito boas novidades!!
O dia acaba com uma imperial ajuda do karma. Quando a estimativa do nosso táxi de volta para casa rondava os 100€ (por uma única viagem), o técnico de som do Hideout ligou para um primo que nos levou simpaticamente até casa por um terço desse preço.
Agora descansar…
19 de Março de 2016
Depois de descarregar toda a adrenalina do dia anterior, voltamos de novo para a azáfama da 6th Avenue. Começamos por dar algumas voltas na feira de ilustração e instrumentos que decorria neste dia no Convention Centre. É só incrível a quantidade de synths modulares e novos teclados que por lá andavam à disposição de quem com eles quisesse “brincar”.
Mas muito mais havia para ver hoje. Acabamos por ir ao Mohawk ver os Night Beats e os No Age num pátio repleto de gente sedenta de música. Uma das muitas curadorias do festival Fun Fun Fest.
Com tudo isto quase nos esquecíamos de mais um concerto que tínhamos para dar neste dia. Uma pool party na Highland Terrace West (arredores de Austin). Concerto mais intrusado nas tradições americanas não poderia existir!
Depois de recolhermos todo o equipamento chegamos a uma casa suburbana americana repleta dos típicos “trucks” à porta. A festa já estava em andamento quando chegamos. Malta a jogar lacrosse enquanto outros se dedicavam a aulas de natação dos cães do anfitrião, malta a ver concertos do telhado ou simplesmente a recuperar energias sentados na relva. Não vos vamos mentir, aquela imagem Spring Break dos filmes é real, e está de boa saúde! Entre bandas de Austin e bandas europeias (Inglaterra, Holanda, etc) todas foram pisando o palco improvisado com o que na casa existia. Fomo-nos dedicando a dar uns toques na bola enquanto ouvíamos de tudo um pouco. De bandas indie a coisas meio esquisitas que não conseguimos bem descrever foi se criando um ambiente peculiarmente reconfortante. Quando chegou a nossa vez de subir ao palco (com um ligeiro atraso de duas horas) já a noite tinha chegado. O ambiente era perfeito para começar o concerto. Rapidamente montamos o set e iniciamos o concerto mas a energia foi um bocadinho excessiva para os vizinhos do nosso amigo Ethan hehehehe
Depois de um par de músicas a polícia chegou e tivemos que dar por terminada a festa! O que na verdade deu todo um sentido incrível a toda aquela tarde. American style!
Depois de um jantar com alguns dos nossos room mates aqui de casa fomos terminar a noite no Hype Hotel, onde os Health já estavam apostos para fechar mais um edição do SXSW. O concerto já sabem como é, uma descarga de electricidade a volumes ensurdecedores, engrenados por uma bateria desconcertante. Concerto altamente!
20 de Março de 2016
Hoje é o último dia do festival, tendo muitas das salas principais do SXSW já encerrado na noite anterior.
Na verdade para nós o festival encerrou com aquele concerto colossal dos Health. Mas é sobretudo incrível perceber a escala de produção deste festival. De um dia para o outro a cidade de Austin mudou completamente, estando muitas das infraestruturas do festival já desmontadas, cartazes de concertos arrancados e a tormenta constante de pessoas na 6th Street amainada.
Com tantos concertos para ver e para tocar durante toda a semana acabamos por não ter tempo de fazer a ronda turística a algumas das zonas da cidade mais afastadas dos palcos do SXSW. Seguimos para a zona do Moody Theatre (palco do Austin City Limits), a Este da Downtown. Por entre edifícios mais imponentes, encontramos por fim aquilo que procurávamos: a Waterloo Records, que é só a loja de discos mais incrível de Austin! Acabamos por arruinar aqui os poucos dólares que ainda nos restavam, pois a cada curva encontrávamos uma nova relíquia.
Depois de um par de horas dedicado ao digging na Waterloo, o Sebastian (amigo chileno do Samuel) sugeriu uma visita rápida ao Graffiti Park de Austin. Mais um daqueles “momentos” da cidade de Austin que é difícil explicar. Uma encosta seccionada por muros de suporte sem grande lógica de organização com a única utilidade de serem “grafittados” por quem por lá passasse. No topo da encosta havia mais uns quantos concertos improvisados, mas isto já não foi tão impressionante, considerando que essa foi a circunstância mais vincada da cidade nos últimos 7dias.
Daqui seguimos para um jantar com o nosso anfitrião lá de casa. O Will levou-nos até um fantástico restaurante de churrasco tipicamente texano e acabou por nos mostrar mais umas quantas coisas na cidade. Ficou por ver uma suposta cidade abandonada nos subúrbios de Austin, estereotipo das imagens que temos dos westerns. O Will disse-nos que esta cidade actualmente é muito usada para fotos de casamento! Boa mistura!
Daqui seguimos para o Palm Door onde decorria a festa oficial de encerramento do South by Southwest. Ouvimos um pouco de Mystery Lights e Soul Clap mas o cansaço acumulado durante toda a semana foi mais forte.
Regressámos a casa mas sem antes visitar o famoso mural do Daniel Johnston. “Hi, How are you?”. O Nelson morria se por lá não passássemos.
E assim termina esta aventura. Agora é tempo de fazer as malas e pensar na francesinha que vamos comer daqui a 24horas!
Para a semana há uns quantos concertos para dar em Portugal. No dia 31 estamos no Fundão e dia 2 de Abril vamos estar pela primeira vez no Algarve.
#keepaustinweird
Holy Nothing
– Preparação para o SXSW –
3 de Março de 2016
Hoje começamos pelas primeiras redefinições logísticas para a nossa viagem até Austin. Há que repensar o alinhamento do concerto porque os showcases previstos no South by Southwest (SXSW) são mais reduzidos que o concerto de apresentação do “Hypertext”. Para além disso temos também que redesenhar todo o set de apresentação ao vivo do “Hypertext”, para permitir transportar todos os instrumentos da forma mais económica e fácil. É um exercício lixado de contenção de recursos pois não queremos andar com toda a parafernália de sintetizadores, guitarras e grooveboxes às voltas pela cidade de Austin enquanto nos deslocamos (a pé!) entre os vários concertos que temos agendados para o festival.
As práticas hardcases ficam, assim, pelo caminho e tudo terá que ser acondicionado naquelas duas pequenas malas. Novos synths, teclados e samplers, muitos deles na gaveta desde a conclusão das gravações do nosso primeiro álbum, tão antigos que nem sabemos bem se estão a funcionar. É ver o Nelson às “cabeçadas” com aquele velhinho SP-404!
A verdade é que já são 4 da manhã e devemos ser as únicas almas penadas dentro do STOP (centro comercial onde ensaiamos).
Sexta-feira é dia de experimentar toda a tralha nova em Ovar! A ver se nenhuma das novas máquinas nos prega uma partida!
4 de Março de 2016
Concluídos os primeiros rearranjos do set up áudio da banda há que passar para a outra dimensão de apresentação de Holy Nothing ao vivo – as live projections.
Esta narrativa visual é criada sempre em paralelo e incluída no processo de composição dos temas para as várias edições que vamos lançado. O “Hypertext” não foi diferente, e aqui o Bruno Albuquerque (designer responsável por todos os conteúdos gráficos da banda desde o ínicio) teve a preciosa ajuda do João Pessegueiro (motion designer) para criar uma narrativa visual, de raiz, para o concerto de apresentação do album.
Existe, desde a concepção inicial de Holy Nothing, uma grande vontade de transmitir uma experiência audiovisual constante, e no caso específico do “Hypertext” estas projecções vídeo não só expressam como exponenciam toda a energia / mensagem / ambiências que brotam do nosso álbum.
Com a necessidade de resumir o concerto para o SXSW existe também a necessidade de reorganizar essas faixa áudio e perceber se a narrativa visual não se perde. São peças de um puzzle que tem que coexistir não só com a música mas entre elas.
Está a resultar!
5 de Março de 2016
Primeiro teste!
Ontem em Ovar nos “Concertos (in)comuns em lugares (in)comuns” levamos na bagagem o concerto que vamos apresentar em Austin no dia 18 de Março no “The Hideout”.
Casa cheia para este “trial” numa abafada sala de ensaios da Sede da Banda Filarmónica Ovarense! Energia muito forte do público de Ovar que gingando noite dentro foi acompanhando as malhas do “Hypertext” que íamos debitando.
Mas sobretudo temos que referir que nenhuma das máquinas novas que introduzimos no set se lembrou de ganhar vida própria e viajar por terrenos desconhecidos! Sim acontece frequentemente, não vão vocês achar que isto da electrónica são apenas os “mágicos djsets” de “David Guetta” engrenados por pen drives foleiras. Correu tudo às mil maravilhas! Mas a zona de conforto ainda se manteve, porque o nosso técnico de Som (“mágico Litos”) ainda esteve presente neste teste, e sim, o homem consegue fazer milagres com as mesas de mistura.
Por fim a noite prosseguiu com o primeiro djset de Holy Nothing! Momento também ele histórico!
6 de Março de 2016
Há dias a organização do festival South by Southwest (SXSW) confirmou a presença de Barack Obama (presidente USA) e a primeira dama Michelle Obama como conferencistas num dos inúmeros eventos associados ao SXSW, e prontamente recebemos a confirmação da casa Branca que eles estariam presentes no dia 18 de Março no “The Hideout”!
Na verdade o SXSW não é apenas um festival de música. É um evento que se estende ao longo de duas semanas, com três blocos de programação distintos: Cinema, Música e “Interactive Media”. Nestas 3 vertentes do SXSW são programadas conferências, concertos, feiras, festas oficiais, etc que pretendem por em contacto diferentes pessoas dos diferentes extractos da indústria cinematográfica, musical e medias interactivos. Assim músicos de bandas independentes podem entrar diretamente em contacto com managers, agentes e editoras internacionais e por outro lado estes profissionais descobrir novos talentos para renovar os seus roosters.
O SXSW é tido como o maior festival do mundo do género, daí a nossa definição de “caldeirão da música mundial”.
A título de exemplo bandas em processo de consagração como Courtney Barnett ou Charles Bradley tiveram na edição de 2015 do SXSW um ponto importante de afirmação mundial no mundo da música.
7 de Março de 2016
Na sexta-feira já foi possível perceber um pouco do exercício de contenção que todos tivemos que fazer a nível de material a utilizar em palco. Não só teclados, sintetizadores e guitarras, mas todos os cabos e tripés são cuidadosamente contabilizados e analisada a necessidade de realmente os transportarmos connosco até Austin. Todo o espaço nas malas de viagem é precioso e houve necessariamente que deixar muito material para trás como podem verificar nas imagens abaixo.
Mas quem teve que redefinir mais profundamente o seu “set up” live, para poupar uns valentes trocos na bagagem extra da viagem, foi o Nelson! O nosso teclista usa por norma três teclados em palco: Nord Electro 4, Nord Lead 3 e um Microkorg. O Nelson vai alternando entre a execução de linhas de baixo, melodias principais, efeitos percussivos e/ou camadas sonoras que preenchem as ambiências das músicas. São na verdade 3 teclados que funcionam como um único instrumento durante todo o concerto.
Contudo, com alguma mestria, o Nelson conseguiu substituir o Nord Electro 4 (o teclado maior dos 3 que ele usa) por aquele portátil Roland SP-404. Um sampler que lança agora grande parte das percussões que anteriormente eram tocadas a partir do Nord.
Esta pequenina alteração foi uma verdadeira lufada de ar fresco no curto orçamento disponível para esta viagem, porque nos permitiu abdicar de uma mala extra!
8 de Março de 2016
O set live do Pedro também teve consideráveis alterações, sobretudo na forma como é normalmente transportado.
Ele é responsável, não só pelas linhas de voz, mas sobretudo por operar a base do concerto dos Holy Nothing. Ou seja, através do seu set up são controladas as bases rítmicas dos músicas e feito o trigger que dispara as projecções de vídeo. Um verdadeiro “cockpit” do concerto dos Holy Nothing, que é constituído por duas máquinas a operar em sincronia. O Electribe Mx (groovebox) que tem todas as batidas e synths base das músicas, lança um sinal midi (triggers) que após ser recebido pelo o Roland tb 3 dispara as melodias/baixos/etc deste sequenciador. Por sua vez o tb3 envia um sinal midi para o computador (está na régie para sobreviver às invasões de placo <3) que tem todas as pistas vídeo do concerto.
A grande conquista foi conseguir por máquinas analógicas (mais antigas) a trabalhar correctamente com máquinas digitais (mais recentes) que no final do percurso tinham que operar um computador. Foi uma batalha mas permitiu-nos uma das maiores conquistas da logística da banda – abdicar do computador como dispositivo que lança as bases da músicas. O processo de composição/performance tornou-se muito mais maleável, interactivo e até falível!
Para além disso o Pedro usa uma porrada de pedais de efeitos para a voz (nós sabemos que vocês não percebem as letras lol), o que significa uma outra porrada de transformadores e cabos.
Por norma isto é tudo confortavelmente transportado numa hardcase com todas as cadeias entre pedais e máquinas previamente montadas. Desta vez a hardcase fica em casa, e uma foleira tábua de mdf toma o seu lugar!
9 de Março de 2016
Por fim, foi a vez de o Samuel arranjar formas práticas de evitar levar tantos instrumentos para o South by Southwest. A verdade é que o nosso multi-instrumentista – o homem toca baixo, guitarra, drum pads e o que mais lhe ponham à frente! – é também um homem muito prático. Dessa forma a parte mais complicada foi logo evitada, porque o Samuel acionou os seus contactos na América Latina (já viveu no Chile dois anos) e arranjou uma guitarra e um baixo em Austin! Um amigo chileno do Samuel, que vive de momento em Austin, vai nos emprestar amavelmente uma Gibson Sg e um baixo que não sabemos muito bem como é. Era adorável vê-lo tocar com um fofo fender jazz bass cor-de-rosa.
Depois disto só falta mesmo descobrir uma forma de transportar aquela parafernália de pedais de efeitos de uma forma organizada e fácil de montar em palco. Novamente, tivemos que abdicar da hardcase do Samuel que por norma transporta a pedal board dele já montada. Voltar aos primórdios dos concertos de Holy Nothing! Vai ter que viajar tudo empilhado dentro das malas de viagem!
10 de Março de 2016
Como já vos explicamos Holy Nothing é uma banda pensada desde o início como um projecto áudio-visual em que a dimensão visual se equipara à dimensão musical. Daí o Bruno Albuquerque ser assumido por nós como o quarto “músico” da banda. Hoje é dia de vos contar um pouco da história do Bruno ao longo destes três anos em constante viagem connosco.
Em 2013, estava o Bruno a finalizar o mestrado em Design da Imagem na Faculdade de Belas Artes do Porto, quando o convida-mos para idealizar toda a imagem gráfica dos Holy Nothing. O Bruno não só aceitou o convite, como prontamente o integrou como tema base da sua tese de mestrado. Foi uma verdadeira aventura! Durante um intenso ano de trabalho, o Bruno construiu uma narrativa vídeo constituída por um gigante número de ilustrações criadas através do processo de rotoscopia. Isto é, após filmar todos os trechos da narrativa, os frames dos vídeos daí resultantes eram depois impressos e redesenhados um a um de forma a construir uma ilustração animada. Sim, um verdadeiro trabalho megalómano que resultou numa complexa base gráfica para as live projections. No final do processo o número total de ilustrações andou na ordem das centenas de desenhos (vejam a imagem abaixo).
Terminada e entregue a tese do Bruno, foi altura de testar todo este trabalho ao vivo. Nos concertos de apresentação que se seguiram, o Bruno não parou de trabalhar neste projecto, procurando ele próprio colaborações com outros artistas que pudessem optimizar as técnicas que ele próprio tinha desenvolvido para este projecto audiovisual. É daí que vem a prolífica colaboração com o João Pessegueiro, um designer gráfico do Porto especializado em Motion graphics. Em conjunto começaram então a elevar o projecto audiovisual dos Holy Nothing para um nível completamente novo, estreando o seu novo trabalho colaborativo com toda a pompa e circunstância na edição do ano passado do festival Vodafone Paredes de Coura. E sim, agora somos 5 músicos em Holy Nothing! 3 músicos atrás dos sintetizadores e outros 2 “músicos” atrás das graphic tablets.
Ah! O Bruno também vai connosco para Austin!!!
11 de Março de 2016
Ontem fizemos o ultimo ensaio antes de partirmos para o Texas. Afinamos os últimos detalhes no alinhamento, fizemos “backups” dos presets dos vários sintetizadores e groovebox (precaução máxima!) e, sobretudo, começamos a arrumar meticulosamente toda a tralha nas três malas que vão viajar connosco. Um procedimento muito moroso, para tentar não exceder o peso muito curto que podemos acomodar em cada uma das malas de porão.
Mas há algo que não temos mesmo hipótese de levar para Austin e que, na verdade; nos permitiu (no último ano) elevar o nosso concerto para uma dimensão “intergaláctica”. Falo-vos da instalação de luz / cenário criado pelo Rui Monteiro especificamente para a apresentação do “Hypertext”.
O Rui é um designer de luz do Porto que possui uma longa experiência na área do desenho de luz para teatro, trabalhando proximamente com as maiores companhias de teatro nacionais e fazendo residências artísticas frequentes no estrangeiro. O conhecimento dele permitiu-nos pensar a dimensão física do concerto de Holy Nothing de uma forma completamente nova, e como isto exponenciar a envolvência do público com a própria performance. Vejam este vídeo:
Um conceito simples constituído por duas telas de projeção quadradas, um conjunto de robôs de luz e umas barras de florescentes, permitem, assim, criar um “território” familiar à exposição do Hypertext. Algo que parece complexo mas é da mais simples resolução logística e financeira. O Rui lançou as próprias diretrizes para o trabalho do Bruno Albuquerque e do João Pessegueiro pois os vídeos tiveram que seguir um formato novo (dois quadrados de 2 metros por 2 metros separados por um vazio de 40cm) e uma paleta de cores especifica para cada música.
Agora sim, a “equipa” Holy Nothing fica completa com o seu sexto elemento! 3 músicos em palco e mais 3 artistas atrás da cortina a trabalharem continuamente para este projecto!
12 de Março de 2016
Apesar do Barack Obama se ter antecipado um pouco à nossa chegada (podem ver aqui o discurso do presidente) continuam a existir um monte de coisas incríveis que queremos ver! Algumas delas já faziam parte do nosso “hall of fame” mas muitas apenas descobrimos ao vasculhar o line up do South by Southwest.
Assim desde o cometa em ascensão que é Blanck Mass (o novo projecto a solo de Benjamin John Power dos também incríveis Fuck buttons) a coisas escondidas no coração de Berlim como os veteranos Kreidler (uma mescla entre Kraut rock e electrónica espacial), ou ainda a trupe latino-americana constituída por projectos como Algodon Egípcio e Dengue Dengue Dengue, ou os reis BADBADNOTGOOD, vão estar presentes no SXSW com vários concertos espalhados pela cidade de Austin durante uma semana muito preenchida.
Obviamente que muito outros projectos consagrados também vão estar também no SXSW, tais como YACHT SBTRKT Health, Crystal Castels, mas obviamente aí a descoberta é menos empolgante!
Amanha começa a aventura!
Holy Nothing